O Movimento Mulheres em Luta - Ceará participou, nesta quarta-feira (15), de um ato, organizado por diversas entidades, em combate à exploração da violência machista pela imprensa.
Na tarde do dia 7 de janeiro de 2014, o programa policial Cidade 190, da emissora TV Cidade, afiliada da Rede Record no Ceará, exibiu uma reportagem de mais de 17 minutos com cenas de estupro de uma criança de nove anos. O flagrante, feito através de uma gravação por uma câmera dos pais, foi veiculado pela emissora local repetidas vezes durante a matéria, enquanto a repórter entrevistava a família. Durante a transmissão do crime cometido por um vizinho, o telespectador pode ver os rostos, corpos e toda a cena de violência, apenas a imagem dos genitais do agressor e da criança fica embaçada. A criança pode ser identificada por aparecer de corpo inteiro, pela exposição dos familiares, do nome da rua, bairro e número da casa da vítima.
Mulheres, estudantes e trabalhadoras revoltadas caminharam pelas avenidas da cidade distribuindo uma nota de repúdio sobre o caso, culminando o ato na concentração em frente ao prédio onde fica a emissora.
Este não se trata, contudo, de um caso isolado. Desde 1990, quando o primeiro programa policial produzido no Ceará foi ao ar, assistimos, diariamente, violações de direitos de toda ordem: apelo à violência, criminalização da pobreza, exposição e ridicularização de vítimas e agressores. Até onde pode chegar o abuso e a irresponsabilidade ‘jornalística’ de um canal de TV através de seus programas policiais?
É contra a exposição inescrupulosa da mídia burguesa que o MML ocupa as ruas e se junta ao coro daquelas que exigem, neste caso, a responsabilização dos que tiraram proveito da dor de uma criança estuprada e, de forma mais ampla, uma maior discussão acerca do papel opressor que cumprem as empresas de comunicação que desfrutam das concessões públicas no país.
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