A criminalização e a ilegalidade do aborto matam, deixam marcas e somem com as mulheres
Por Rita Frau, do Pão
e Rosas RJ e membro da Executiva Nacional do MML
São
realizados um milhão de abortos no Brasil todos os anos, segundo o
Ministério da Saúde, sendo que muitas mulheres perdem suas vidas em
decorrência de abortos clandestinos e mal feitos, na sua maioria
pobres, negras e trabalhadoras. O SUS (Sistema Único de Saúde)
registrou em 2013, curetagem pós-abortamento de 243 mil mulheres.
Quando não morrem, sofrem as sequelas de um procedimento inseguro em
condições insalubres, e existem os casos como de Jandira, que no
dia 27 de agosto saiu de casa, com medo, para fazer um aborto
clandestino e nunca mais voltou. Mais um caso escancara a angustiante
e triste realidade de mulheres que recorrem ao aborto clandestino
todos os dias em nosso país, que é uma das principais causas de
morte entre as mulheres.
Jandira
Magalena dos Santos1,
de 27 anos, estava grávida mas não poderia levar a gravidez adiante
pois já tem dois filhos e tinha medo de perder seu emprego optando
assim, pelo aborto clandestino. Economizou “à duras penas” 4,5
mil reais para realizar um aborto numa suposta clínica clandestina
em Bonsucesso, na Zona Norte do Rio de Janeiro
(que
já foi confirmado estar desativada faz 2 anos),
pois buscava a forma mais “segura” para realizar o procedimento .
Chegou ao ponto de encontro, onde se encontravam mais duas mulheres
grávidas, que também esperaram pela responsável que as levaria até
o local para fazerem o aborto. Foi no terminal de Campo Grande, na
Zona Oeste da cidade, onde morava Jandira, que seu ex-marido que a
acompanhava a viu pela última vez. Seu
desaparecimento causa dor e desespero na família, principalmente à
mãe de Jandira, que cada dia que passa sem o paradeiro da filha
parece uma eternidade, mas se mantém firme na esperança de
reencontrá-la.
Esta
situação é parte da realidade que aflige várias mulheres todos
os dias. O Estado com o apoio das Igrejas e setores reacionários
criminalizam as mulheres que recorrem ao aborto negando este direito
elementar, enquanto várias mulheres morrem na clandestinidade todos
os dias. Mesmo o aborto sendo ilegal as mulheres de todas as classes,
jovens, adultas, religiosas recorrem a este procedimento por diversos
motivos: estupros, falha ou não uso de métodos contraceptivos, ou
a própria realidade de milhares de mulheres pobres e trabalhadoras,
que frente as péssimas condições de vida e falta de perspectivas
se vêm obrigadas à não levarem adiante a gravidez. E são
mulheres trabalhadoras como Jandira, que morrem ou sofrem na mão de
terceiros que fazem deste direito negado, uma verdadeira máfia que
também envolve a polícia e outras instituições para arrancar
enormes lucros com o “negócio” do aborto clandestino.
Neste
mesmo momento que não se sabe onde está Jandira, o debate eleitoral
mostra duas mulheres candidatas à presidência, Marina e Dilma, mais
uma vez se negando a defender este direito democrático para todas as
mulheres, que é a legalização do aborto. No Rio de Janeiro, os
principais candidatos ao governo do estado, Garotinho, Pezão, Crivela e
Lindberg também fazendo coro com os pastores evangélicos e a Igreja
católica contra este direito. Isso os coloca como co-responsáveis
por esta triste situação que angustia milhares de mulheres pelo
país.
A
mãe de Jandira disse que ela estava com medo de perder o emprego por
conta da gravidez e por isso realizaria o aborto, essa é a amostra
que este mesmo Estado capitalista, que impõe às mulheres a
maternidade, as coage para que não engravidem pois não querem arcar
com os direitos, como a licença maternidade, e não garante nenhuma
condição para que possam exercer a maternidade dignamente.
Este
caso é a prova de que se o aborto fosse garantido de maneira segura
e gratuita nos hospitais públicos, com o devido acompanhamento
médico e psicológico, mais Jandiras deixariam de morrer e
desaparecer.
É
pelo esclarecimento do caso de Jandira e para salvar a vida de
milhares de mulheres que dizemos basta!
Pelo
esclarecimento do caso de Jandira Magalena! Que todos os envolvidos
no seu desaparecimento sejam punidos! Pela participação de
organizações feministas na investigação desses casos!
Exigimos
a legalização do direito ao aborto seguro e gratuito garantido pelo
Estado! Pelo direito à métodos contraceptivos e anticoncepcionais
de qualidade gratuitos e educação sexual em todos os níveis do
ensino básico e nos postos de saúde nos bairros e comunidades!
Pelo
direito à maternidade! Pela separação da Igreja do Estado!
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