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domingo, 5 de março de 2017

A Greve de mulheres é o caminho para unificar os trabalhadores contra o machismo, a violência, os governos e os patrões

Por Paula Falcão, do MML Rio de Janeiro

“Se nosso trabalho não vale, produzam sem nós”

No próximo dia 8 de março mulheres no mundo todo mostrarão sua revolta diante da violência machista, a exploração capitalista, a misoginia e o discurso de ódio contra as mulheres indígenas, negras e emigrantes, e a negligências dos governos, mídias e instituições em relação à luta pelos nossos direitos.

O movimento convocado a partir das mobilizações na Argentina com o “Ni una a menos” e a greve de mulheres na Polônia, conta atualmente com a adesão de 43 países e se espalha por mais de 220 cidades, prevendo um histórico “Dia sem mulher”. A ação é Inspirada nas mulheres islandesas, que em 1975 protagonizaram uma grande greve geral conhecida como “O dia de folga das mulheres”, em que 90% das mulheres recusaram-se a trabalhar, cozinhar e cuidar das crianças por um dia.  

Como apresentado na carta das ativistas e intelectuais feministas dos EUA, espera-se mobilizar as mulheres, incluindo as transgeneros, para a construção de um novo movimento feminista internacional, antirracista, anti-imperialista, anti-neoliberal e anti-heteronormativo e diferenciando-se radicalmente das perspectivas de empoderamento e do corporativismo feminista.

O fato das mulheres estarem se organizando a partir de um método da classe trabalhadora, que é a greve, é muito significativo e evidencia a necessidade de construirmos a nossa luta em bases muito sólidas de independência de classe e dos governos para avançarmos em nossas conquistas e na construção de uma sociedade verdadeiramente igualitária, uma sociedade socialista.  

Por que Paramos?

Entre as pautas apresentadas pela Greve Internacional estão: a luta contra o feminicídio e o transfeminicídio, a violência machista, a exploração e invisibilidade do trabalho feminino, as politicas de migração xenófobas e o genocídio e violação das mulheres indígenas, garantia dos direitos reprodutivos e a equiparação salarial entre homens e mulheres.

Dos pontos em comum, chama atenção a questão dos fundos de aposentadoria para donas de casa, o que nos dá o panorama que assim como no Brasil, em todo mundo as mulheres são as principais atacadas pelas reformas trabalhistas e previdenciárias. Por isso é importante que o 8 de março no Brasil se converta no start da Greve Geral que derrote a reforma da previdência e derrube o frágil governo Temer, assim como seus aliados corruptos!

Em alguns países, são apresentadas pautas ainda mais específicas a partir da realidade das mulheres de cada região: Na Argentina, assim como na Itália, a luta contra o feminicídio ganha destaque diante dos 200 assassinatos anuais de mulheres. Na Hungria as mulheres pedem a ratificação imediata da convenção de Istambul. Na Polônia, Irlanda e Irlanda do norte marcham pela garantia do direito ao aborto. No México a batalha contra o turismo sexual e a tipificação do crime de violência doméstica ganha peso, enquanto na Nicarágua a luta contra a naturalização da violência sexual visa proteger principalmente as adolescentes dos altos índices de abuso.

Em alguns países a luta contra a exploração e opressão se expressa numa luta contra seus governos, como é o caso da Argentina contra o Macri, no Brasil contra o Temer, e o caso mais emblemático do levante de mulheres contra Trump nos EUA. Entretanto, o movimento apresenta uma pluralidade de setores e posições politicas, a exemplo da Argentina em que parte do movimento defende a volta de Cristina Kirchner, e do Brasil com a defesa de Dilma/LULA/PT por alguns setores ligados aos ex governos. Diante da conjuntura que vivemos, achamos importante realizar uma unidade de ação com esses setores, mesmo tendo profundas diferenças políticas com eles. Para nós é impossível lutar contra a opressão e exploração das mulheres defendendo governos que não representaram os interesses das mulheres trabalhadoras, que atacaram nossos direitos e que se calaram frente a pautas históricas do feminismo como fez a Dilma no Brasil, frente ao tema da legalização do aborto. Contudo, mesmo essa unidade pontual só é possível de se construir com o amplo direito democrático para que todas as opiniões sejam expressas.

Infelizmente não é assim que está acontecendo em todos os lugares. Em São Paulo, por exemplo, setores que foram base de apoio do governo do PT vetaram o direito de fala a quem não assinasse o manifesto cujo conteúdo passa uma borracha em todos os ataques do governo Dilma e Lula, como se nossos direitos começassem a ser ameaçados pelas mãos de Temer. Para derrotarmos nossos inimigos, temos que saber exatamente quem eles são. Queremos colocar o Temer para fora, mas não temos ilusão de que o PT estaria fazendo uma política diferente caso ainda governasse o país. 

Preparativos para o 8M pelo Mundo

Entre os países que aderiram a greve estão Austrália, Brasil, Chile, Costa Rica, República Checa, Equador, Inglaterra, França, Alemanha, Guatemala, Honduras, Islandia, Irlanda do Norte, Israel, Itália, México, Nicarágua, Peru, Polônia, Rússia, El Salvador, Escocia, Coréia do Sul, Suécia, Togo, Turquia, Uruguai, EUA, Camboja e Córdoba. São mais de 30 eventos internacionais nas redes sociais de chamado a atividades no dia 8 de março.

Em Bariloche, uma programação semanal esta sendo pensada por mais de 30 organizações feministas, envolvendo festivais culturais, ciclos de cinema e uma grande marcha.  Já em Buenos Aires e outras 6 cidades da Argentina está sendo convocada a “Hora M” de paralização, que acontecerá entre 13 e 14 horas, com uma passeata às 17 horas.

No Brasil também teremos atividades em diversas cidades. No centro das reinvindicações estão a luta contra as reformas trabalhistas e da previdência, contra o transfeminicídio (O Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo), e pelos direitos reprodutivos das mulheres (aborto legal seguro e gratuito e fim da violência obstétrica).

Na página oficial do 8M encontramos chamados de mobilização nas cidades do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Santa Catarina, Recife, Salvador, Brasília, Goiânia, Petrópolis, Paranaguá, Quixadá, Campina Grande, Santa Maria, São Paulo, Ubatuba, Belo Horizonte, Pelotas, Curitiba, Jataí, Uberlândia, Fortaleza, Macaé, Paraíba, Ouro Preto, São Leopoldo, Atibaia, Juiz de Fora, Dourados, Vitória. Algumas cidades ainda estão em processo de construção com plenárias e reuniões.

A “Hora H” no Brasil está sendo convocada entre 12:30 e 13:30 horas, com atos centralizados no final da tarde do dia 8. As iniciativas propostas pelo movimento são: trabalhar com roupa lilás, paralização das tarefas domésticas durante todo o dia ou na hora H. Nos escritórios, fábricas e postos coletivos de trabalho, que as mulheres organizem rodas de conversa sobre a situação das mulheres no mundo.

Nós do MML estaremos presentes nos atos e atividades em nossas cidades, construindo e mobilizando as mulheres e homens para se somarem a esse dia histórico de luta das trabalhadoras. Reforçamos o chamado, através da CSP Conlutas, a todas as ativistas, entidades e coletivos, partidos e centrais sindicais para se somarem a esse dia, e fazermos dele o prenúncio da Greve Geral que vai varrer os ataques aos trabalhadores e aos setores oprimidos, e botar pra fora todos aqueles que nos oprimem e exploram.


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