Texto de Ângela Nóbrega e Marcela Azevedo
Em audiência na Câmara dos Deputados, no dia 16/04/2019, a ministra do
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves,
novamente deixou claro que não representa os anseios das mulheres trabalhadoras
do país. Mesmo com os números alarmantes de casos de violência doméstica, ela
se aproveita do cargo para impor sua "visão cristã" que defende a submissão
da mulher ao homem, no casamento e dentro de casa.
Em primeiro lugar é importante dizer que a ministra ocupa um cargo
público que, por sua natureza, deve servir ao bem estar de todas as mulheres,
independente da religião que pratica ou mesmo se pratica ou não. O estado laico
é a garantia de que as politicas públicas não farão distinções desse tipo.
Por isso, é bastante grave que em um espaço de debate sobre os direitos
da mulher e de politicas para garantir esses direitos, a ministra faça a defesa
de posições baseadas em dogmas religiosos.
Sabemos que grande parte das mulheres trabalhadoras tem religião,
respeitamos a particularidade de cada uma, porém somos totalmente contra
qualquer apologia ou naturalização da opressão da mulher e, consequentemente,
da violência que sofre em decorrência disso.
Patrões e governos
se beneficiam com a submissão das mulheres
A submissão ensinada às mulheres dentro de casa vai ter reflexo no local
de trabalho e na participação feminina em questões sociais e políticas. A tendência
a obediência e o hábito de não expor suas posições é o que permite as mulheres
receberem salários menores em quase todas as funções, com diferenças que chegam
a média de 30% do salário dos homens; é também o que permite com que as mulheres
sejam o principal alvo do assédio moral feito pelos patrões para impor um ritmo
de trabalho mais intenso e aumento da produtividade.
Também é colocado para as mulheres que assuntos da esfera pública não
são de seu interesse, é muito comum o homem escolher um candidato nas eleições,
por exemplo, e a mulher e filhos seguirem seus passos sem qualquer debate, nas
organizações sindicais as mulheres pouco se organizam e poderiam ser dados
muitos exemplos.
O fato é que toda essa construção do papel da mulher visa impedir que ela perceba o conjunto de desigualdades que enfrenta na sociedade e o quanto isso gera lucro para os patrões e governos. Em outras palavras, tenta esconder o papel assumido pela mulher trabalhadora na sociedade. Papel esse conquistado com muita luta e sangue de homens e mulheres trabalhadores.
Reforma da previdência
é mais uma violência contra as mulheres. Não aceitaremos caladas!
Damares, assim como todos os representantes do governo Bolsonaro, se
apoia em discursos e defesas religiosas para impor grandes ataques a classe
trabalhadora. Se aproveitam da fé das pessoas para ganhar confiança e, dessa
forma, defenderem os lucros de quem já tem muito em detrimento das condições de vida
de quem já não tem quase nada.
A reforma da previdência aumenta a idade mínima e o tempo de
contribuição para que as mulheres possam se aposentar, sem considerar sua dupla
jornada com o cuidado com a casa e os filhos e todas as desigualdades que enfrenta
no mercado de trabalho; quer impor um sistema de capitalização que responsabiliza
individualmente o trabalhador pela arrecadação de sua aposentadoria, sem
considerar as várias interrupções que a mulher enfrenta em sua vida laboral; e
ainda impõe mudanças no acesso a benefícios como PIS e pensão por morte, dos
quais as mulheres são maioria entre os beneficiados.
Essas e as demais mudanças propostas no projeto de reforma da previdência
do governo Bolsonaro são a prova mais cruel do quanto a vida e a garantia dos
direitos das mulheres não são preocupações desse governo. Pelo contrário,
aprofundam a violência e as desigualdades enfrentadas pela parcela feminina da
população.
As mulheres são
parte da luta contra a reforma da previdência, a opressão e a exploração
capitalista!
As mulheres vêm demonstrando grande disposição de luta na defesa de seus
direitos e contra os ataques de todos os governos, é esse curso que o discurso
de Damares tenta frear. Porém, não daremos nenhum passo atrás na luta por nossa
libertação.
Nossa grande tarefa é o combate a essa ideologia da "mulher
virtuosa" e sua carga extremamente machista, pois, ela leva à divisão da
classe trabalhadora e faz com que aumente ainda mais os já alarmantes números
de casos de violência contra a mulher e de feminicídios.
Nossa
luta é todos os dias e não está nos gabinetes. Nossa luta é contra a retirada
de direitos e contra a Reforma da Previdência e só será vitoriosa se
conseguirmos unificar toda a classe trabalhadora
Por isso, precisamos combater o
machismo na luta cotidiana e em todos os espaços, lado a lado com os homens e
mulheres da nossa classe para que sejamos respeitadas enquanto ser social que
trabalha e é metade da classe que produz toda a riqueza.
Não faremos o combate ao machismo
reproduzindo preconceitos religiosos ou morais. Nossa luta deve ser em defesa
de um outro modelo de sociedade, sem exploração e sem opressão e que somente a
classe trabalhadora unida será capaz de construir.
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