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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Eduardo Cunha: expressão do machismo, da homofobia e dos interesses do capital.

Por Sílvia Ferraro
Da Executiva Nacional do MML

Não poderia ter figura mais emblemática de um congresso conservador, atrelado aos interesses dos setores econômicos que financiam as campanhas eleitorais da maioria dos deputados, como os bancos, as multinacionais e o agronegócio, assim como do fisiologismo do toma lá da cá, do que Eduardo Cunha.
Ao dizer em entrevista ao Estadão, que o aborto só entraria em pauta no Congresso Nacional passando por cima do seu cadáver, Cunha só demonstrou mais uma vez que vai continuar sua cruzada contra os direitos das mulheres e LGBTs, só que desta vez com a prerrogativa de ser o presidente da casa.
Como deputado, Cunha tem uma fila de projetos homofóbicos e de ataques aos direitos reprodutivos das mulheres. Acabou de conseguir o desarquivamento do seu projeto que cria o “Dia do Orgulho Heterosexual”, uma aberração provocativa, desdenhando de toda a discriminação e violência sofrida pelos LGBTs. Ele tem um projeto que prevê a regulamentação de cadeia de até 10 anos para médicos que auxiliarem mulheres a fazer aborto. Outro projeto, o PL 7443/06, prevê que o aborto seja considerado crime hediondo. Mas a obsessão de Cunha em querer perseguir os direitos das mulheres não acaba por aí. Ele apresentou um projeto de lei, o 6033/2013, que proíbe a pílula do dia seguinte como método profilático em casos de violência sexual.



Esta ânsia de Cunha, de se mostrar como campeão do conservadorismo, tem uma explicação. Cunha tem sua base eleitoral sustentada entre as igrejas neopentecostais. Ele é radialista, apresentador da Rádio Melodia, com grande audiência entre os fiéis das igrejas que propagam que a homossexualidade é uma doença e que as mulheres são feitas só para reproduzirem. Discurso que, infelizmente, tem se propagado massivamente com a aquisição das rádios e TVs pelas empresas evangélicas. “Tenho um forte eleitorado evangélico, que não me faltou”, é a fala de Cunha sobre os 232 mil votos, a terceira maior votação no Rio de Janeiro.


Mas por trás de todo o teatral conservadorismo, que Cunha e seus amigos Marcos Feliciano e pastor Everaldo gostam de mostrar, estão interesses materiais bem mundanos. Cunha é suspeito na operação Lava Jato, de ter favorecido alguns agentes de fundos de pensão, como Eric Bello, acusado de desviar dinheiro da Rioprevidência. Também utiliza sua influência política como moeda de troca para indicar seus apadrinhados em fundos de pensão, e outros órgãos do governo, como a chefia de Furnas e a secretaria de defesa agropecuária.
O atual presidente da Câmara é um ardoroso defensor do financiamento privado de campanha e para a sua última campanha, recebeu R$ 6,8 milhões em doações de empresas como Vale, AmBev, Bradesco, Santander, Safra e Shopping Iguatemi.
O deputado também legislou em defesa do parcelamento de impostos atrasados das grandes empresas e está empenhado em aprovar a construção de outro aeroporto em São Paulo, desejo das empreiteiras Camargo Corrêa e Andade Gutierrez.
Na presidência da Câmara por dois anos, Cunha vai poder desfilar seus projetos, ganhar muito dinheiro das grandes empresas e barganhar muitos cargos no governo, afinal, o governo Dilma é refém dos acordos mais espúrios com o PMDB e o chamado “baixo clero”.

Enquanto isso, mais Jandiras e Elizângelas continuarão morrendo em clínicas clandestinas de aborto. No Brasil estima-se que há quase 1 milhão de abortos feitos ao ano e destes, cerca de 200 mil deixam sequelas ou a morte. As mulheres que morrem são as que não podem pagar para fazer em clínicas seguras. São as mulheres trabalhadoras, que no desespero, vão acabar caindo nas mãos de quadrilhas que funcionam de forma totalmente insalubres e inseguras.
A legalização do aborto é urgente para que nenhuma mulher mais morra, nem fique com sequelas e nem passe constrangimento. Mas se depender deste congresso, muito mais mulheres morrerão e é sobre o cadáver delas que Eduardo Cunha fundamenta o seu poder, além do muito dinheiro que ganha com seus “negócios”.

É por isso que não devemos esperar nada de progressivo deste Congresso Nacional. A luta das mulheres e dos LGBTs terá que passar pela mobilização nas ruas, nos unificando com as demais lutas da classe trabalhadora! 






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