Por Sílvia Ferraro
Da Executiva Nacional do MML
Não poderia ter figura mais emblemática de um congresso conservador, atrelado aos interesses dos setores econômicos que financiam as campanhas eleitorais da maioria dos deputados, como os bancos, as multinacionais e o agronegócio, assim como do fisiologismo do toma lá da cá, do que Eduardo Cunha.
Da Executiva Nacional do MML
Não poderia ter figura mais emblemática de um congresso conservador, atrelado aos interesses dos setores econômicos que financiam as campanhas eleitorais da maioria dos deputados, como os bancos, as multinacionais e o agronegócio, assim como do fisiologismo do toma lá da cá, do que Eduardo Cunha.
Ao dizer em entrevista ao Estadão, que
o aborto só entraria em pauta no Congresso Nacional passando por cima do seu
cadáver, Cunha só demonstrou mais uma vez que vai continuar sua cruzada contra
os direitos das mulheres e LGBTs, só que desta vez com a prerrogativa de ser o
presidente da casa.
Como deputado, Cunha tem uma fila de projetos homofóbicos e de ataques
aos direitos reprodutivos das mulheres. Acabou de conseguir o desarquivamento
do seu projeto que cria o “Dia do Orgulho Heterosexual”, uma aberração
provocativa, desdenhando de toda a discriminação e violência sofrida pelos
LGBTs. Ele tem um projeto que prevê a regulamentação de cadeia de até 10 anos
para médicos que auxiliarem mulheres a fazer aborto. Outro projeto, o PL
7443/06, prevê que o aborto seja considerado crime hediondo. Mas a obsessão de
Cunha em querer perseguir os direitos das mulheres não acaba por aí. Ele
apresentou um projeto de lei, o 6033/2013, que proíbe a pílula do dia seguinte
como método profilático em casos de violência sexual.
Esta ânsia de Cunha, de se mostrar como campeão do conservadorismo, tem
uma explicação. Cunha tem sua base eleitoral sustentada entre as igrejas
neopentecostais. Ele é radialista, apresentador da Rádio Melodia, com grande
audiência entre os fiéis das igrejas que propagam que a homossexualidade é uma
doença e que as mulheres são feitas só para reproduzirem. Discurso que,
infelizmente, tem se propagado massivamente com a aquisição das rádios e TVs
pelas empresas evangélicas. “Tenho um forte eleitorado evangélico, que não me
faltou”, é a fala de Cunha sobre os 232 mil votos, a terceira maior votação no
Rio de Janeiro.
Mas por trás de todo o teatral
conservadorismo, que Cunha e seus amigos Marcos Feliciano e pastor Everaldo
gostam de mostrar, estão interesses materiais bem mundanos. Cunha é suspeito na
operação Lava Jato, de ter favorecido alguns agentes de fundos de pensão, como
Eric Bello, acusado de desviar dinheiro da Rioprevidência. Também utiliza sua
influência política como moeda de troca para indicar seus apadrinhados em
fundos de pensão, e outros órgãos do governo, como a chefia de Furnas e a secretaria
de defesa agropecuária.
O atual presidente da Câmara é um
ardoroso defensor do financiamento privado de campanha e para a sua última
campanha, recebeu R$ 6,8 milhões em doações de empresas como Vale, AmBev,
Bradesco, Santander, Safra e Shopping Iguatemi.
O deputado também legislou em defesa do
parcelamento de impostos atrasados das grandes empresas e está empenhado em
aprovar a construção de outro aeroporto em São Paulo, desejo das empreiteiras
Camargo Corrêa e Andade Gutierrez.
Na presidência da Câmara por dois anos,
Cunha vai poder desfilar seus projetos, ganhar muito dinheiro das grandes
empresas e barganhar muitos cargos no governo, afinal, o governo Dilma é refém
dos acordos mais espúrios com o PMDB e o chamado “baixo clero”.
Enquanto isso, mais Jandiras e Elizângelas continuarão morrendo em clínicas clandestinas de aborto. No Brasil estima-se que há quase 1 milhão de abortos feitos ao ano e destes, cerca de 200 mil deixam sequelas ou a morte. As mulheres que morrem são as que não podem pagar para fazer em clínicas seguras. São as mulheres trabalhadoras, que no desespero, vão acabar caindo nas mãos de quadrilhas que funcionam de forma totalmente insalubres e inseguras.
A legalização do aborto é urgente para
que nenhuma mulher mais morra, nem fique com sequelas e nem passe
constrangimento. Mas se depender deste congresso, muito mais mulheres morrerão
e é sobre o cadáver delas que Eduardo Cunha fundamenta o seu poder, além do
muito dinheiro que ganha com seus “negócios”.
É por isso que não devemos esperar nada
de progressivo deste Congresso Nacional. A luta das mulheres e dos LGBTs terá
que passar pela mobilização nas ruas, nos unificando com as demais lutas da
classe trabalhadora!
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