O
ano de 2019 foi de muitos enfrentamentos para a classe trabalhadora, na defesa
de seus direitos. Para alguns setores: mulheres, negro, lgbts e imigrantes a
luta foi na defesa da própria vida. Não por
acaso esses setores da classe estiveram à frente de muitas mobilizações.
O
desmantelamento da previdência, o aprofundamento da reforma trabalhista, a
destruição dos serviços públicos e o avanço das privatizações foram algumas das
medidas do governo Bolsonaro e seus ministros. Com o apoio da câmara dos
deputados e do senado, o governo conseguiu retirar uma série de direitos
históricos, conquistados por esforço e luta dos trabalhadores brasileiros.
Todas essas mudanças afetam diretamente e com maior intensidade as mulheres
trabalhadoras, visto que nossa condição no mercado de trabalho e no contexto
social já é de desigualdade. Somos a maioria entre os desempregados, nossos
salários são os menores e já trabalhamos com menos direitos trabalhistas, como no
setor terceirizado, por exemplo.
A
segurança e a vida das mulheres também estiveram sob maior ameaça em 2019. Em
todos os estados aumentaram os casos de feminicídios, agressões e estupros.
Esses números são resultado de uma combinação nefasta: o discurso de ódio
contra as mulheres e os setores oprimidos, disferido por Bolsonaro e reforçado
pela ministra da mulher, da família e direitos humanos – Damares Alves; e a
completa falta de investimento em políticas públicas de combate a violência
machista.
Ao
longo do primeiro ano de mandato, nada foi investido na manutenção da rede de
proteção as mulheres vítimas de violência e, mesmo tendo aprovado algumas mudanças
consideradas avanço na Lei Maria da Penha, na prática o governo manteve tudo
como já estava, ou seja, a Lei Maria da Penha continuou sendo realidade apenas
no papel, deixando milhares de mulheres expostas a todo tipo de violência.
Vale
dizer que a ministra Damares é conivente com essa política. Ao mesmo tempo em
que faz várias declarações que reforçam o machismo e criticam as mulheres que
lutam por igualdade de direitos democráticos, em relação aos homens, se cala
frente a falta de recursos e políticas que preservem a vida das mulheres
trabalhadoras. Por isso, reforçamos que não basta ser mulher para nos
representar, é preciso ter os mesmos interesses de classe e estar ao nosso lado
no enfrentamento de todo machismo e exploração.
Contudo,
se engana quem pensa que essa barbárie deixou as mulheres com medo de lutar.
Pelo contrário, construímos um forte 08 de Março, em todo o país, para
denunciar a violência machista e dizer não a reforma da previdência, estivemos
presente em todos os dias de mobilização nacional e na greve geral de 14 de Junho,
seguimos nos mobilizando mesmo quando as grandes centrais sindicais do país se
calaram e negociaram nossos direitos com o governo nacional e os governos
estaduais. As mulheres indígenas, quilombolas, camponesas e de luta por moradia
enfrentaram toda a truculência da polícia e dos jagunços de latifundiários; as
mulheres negras e pobres transformaram o luto pela perda de seus filhos em
luta; e da América latina vieram exemplos fundamentais de qual caminho trilhar
no próximo período.
Em
2020 seguiremos com a mesma disposição de luta e nos apoiaremos na força das
mulheres chilenas, que enfrentam a repressão e o estupro como arma de guerra
para seguir o processo revolucionário em seu país; na coragem das mulheres
libanesas que se enfrentam com uma cultura extremamente opressora para fazer
parte das lutas de seu povo; das mulheres francesas que, junto com os homens da
sua classe, constroem uma greve histórica contra a reforma da previdência e
outros ataques.