Por Jéssica Milaré, MML de Campinas - SP
Géia, técnica em enfermagem no
Hospital Mário Gatti, em Campinas, foi assassinada no dia 9/10, quinta-feira,
em Monte Mor, cidade vizinha à Campinas. Depois de ter sido abordada por dois
homens em sua casa, Géia foi levada para uma estrada rural, onde foi encontrada
amarrada, amordaçada, com um tiro no peito e carbonizada ao lado de um carro em
chamas. Não deve restar nenhuma dúvida: é mais um típico crime de ódio contra
LGBTs.
A princípio, entretanto, a polícia
suspeitava se tratar de um caso de latrocínio (roubo seguido de morte), o que
mostra que esta instituição ignora a transfobia. Como é possível que, no país
que concentra 44% dos assassinatos de LGBTs em decorrência de crimes de ódio, a
polícia não saiba identificar esses casos?
Algumas notícias sobre o
assassinato diziam tratar-se de um homem e referenciavam-na pelo nome masculino
que constava no RG. Isso é um desrespeito, Géia se identificava com o nome
feminino e é assim que ela deve ser tratada. Travestis e transexuais são
vítimas de várias formas de discriminação e de violência por causa da sua
personalidade, das roupas que usam, do gênero com o qual se identificam e do
nome com o qual se apresentam, é dever de todo mundo respeitar a identidade de
cada pessoa.
No dia 13, segunda-feira,
ocorreu uma manifestação convocada por colegas e amigas(os) de Géia que parou a
Avenida Glicério para reivindicar que seja feita justiça nesse assassinato.
Acreditamos que esse é o caminho para que possamos conquistar nossos direitos,
pois Dilma já nos mostrou que não é nossa aliada nessa luta. Durante seus 12
anos de governo, o PT não criminalizou a LGBTfobia e deixou de defender nossos
direitos para fazer acordos com a bancada fundamentalista LGBTfóbica. O PSDB não
fez diferente disso em nenhum de seus governos, pelo contrário, hoje a maior
parte da bancada fundamentalista e da velha direita está apoiando Aécio Neves
no segundo turno.
No nosso país, 1 LGBT é
morta(o) por dia. Em 2013, dos assassinatos de LGBTs, 100 foram com armas
brancas (como facas, canivetes e tesouras), 93 com armas de fogo, 44 por
espancamento (com paus, pedras ou marretas), 31 por asfixia e 4 foram
queimadas(os), além de relatos de afogamentos, atropelamentos, enforcamentos,
degolamentos, empalações, estupros e tortura. Quase 40% dos assassinatos são de
travestis e transexuais, apesar destas pessoas serem ínfima minoria entre
LGBTs.
Assim como Géia, que era
trabalhadora, as principais vítimas dessa violência são os LGBT’s da nossa classe,
que vivem nas periferias e favelas desse país e não tem condições de aderir ao
mercado Pink ou de frequentar espaços caríssimos cujo poder aquisitivo lhe
garante respeito acerca de sua orientação sexual. Pelo contrário, estão
expostos à violência urbana e policial e sofrem com a falta de assistência de
saúde e acesso a educação.
Além disso, grande parte é
expulsa de suas escolas e de suas próprias casas e passam a viver em situação
de prostituição quando ainda são menores de idade. Não é à toa que 90% das travestis
se encontram em situação de prostituição, onde são alvo frequente de estupros e
agressões, inclusive pela própria polícia. Muitas tentam sobreviver a partir do
tráfico de drogas e acabam sendo presas. Apenas para citar um exemplo, no
Presídio Central de Porto Alegre, onde existem cerca de 4000 presos (as), em
2011, havia 32 travestis.
Cara leitora, caro leitor,
pense sobre isso: quantas travestis, quantas pessoas transexuais você vê no seu
dia-a-dia, no seu local de trabalho, no seu local de estudo, nos espaços
públicos, nos locais de lazer que você frequenta? Se nós desconsiderarmos as
casas de prostituição, as prisões e alguns poucos espaços onde LGBTs mais
pobres costumam se encontrar, é possível encontrar mais de 10 travestis e
transexuais em um único lugar?
Esses são os sintomas de uma
sociedade discriminatória que não aceita nossa própria existência!
É necessário que sejam
implementadas medidas efetivas para combater toda essa violência. É necessária
a criminalização imediata da transfobia, o direito à mudança do nome no
registro civil e o acesso desburocratizado às cirurgias de redesignação genital
e tratamentos hormonais gratuitamente pelo SUS. Por isso, defendemos a
aprovação da PLC 122 original e da Lei João Nery. Mas é necessário muito mais do
que isso, é preciso que travestis e transexuais sejam aceitas(os) nos locais de
trabalho, de estudo, que sejam tratadas(os) com dignidade e respeito. Isso não
é possível se a prioridade do governo for garantir os interesses dos bancos e
das empresas, e não os interesses da população pobre e trabalhadora.
O Movimento Mulheres em Luta
encampa essa luta por entender que as mulheres trabalhadoras precisam dar um
basta a todo tipo de violência que sofrem, bem como acha fundamental a unidade
entre os setores oprimidos para combater o machismo, o racismo, a LGBTfobia e a
exploração capitalista.
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Pela criminalização da LGBTfobia! Aprovação do
PLC122 e da Lei João Nery!
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Punição exemplar aos assassinos de Géia!
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Chega de violência e assassinatos contra LGBTs!