A notícia
de um estupro praticado por 30 homens à uma jovem de 17 anos causou comoção em
muitos usuários de redes sociais no Brasil. A menina estava alcoolizada e sob
efeito de outras substâncias, ou seja, não tinha condições de reagir a tamanha
violência. O sentimento esperado é de indignação e total repúdio a este ato,
porém não foi a única reação que vimos repercutir.
Esses
homens, não apenas violentaram sexualmente a menor, como expuseram na internet
o vídeo de tal episódio e, com isso, fomos bombardeadas (Sim, digo “fomos”
porque todas as mulheres sentiram na
pele a dor de cada comentário!) por argumentos dos mais diversos que pactuavam
com a situação, que achavam natural o acontecido ou que buscavam justificativa
para tamanha violência a partir do comportamento da vítima.
Frases
como “Ela usou droga por que quis” ou “Deu bobeira, foi amassada”, ou aquelas
argumentações já conhecidas de que “ela não deveria estar naquele lugar, com
aquela roupa”, etc. são evidências de quanto o machismo e a violência, sobretudo
a sexual, são naturalizados em nossa sociedade, o quanto a responsabilização da
vítima é vista como elemento de ponderação para avaliar os casos, o quanto
nossa liberdade e poder de decisão são ignorados cotidianamente. Não há nenhuma
reflexão, a não ser pelas próprias mulheres, de que esses homens sabiam o que
estavam fazendo, não agiram por impulso, não filmaram e divulgaram tais imagens
sem saber o que estavam fazendo. Pelo contrário, estavam bastante confortáveis e
embasados na ideologia do machismo, na idéia de que as mulheres são objetos
sexuais e que podem ser tratadas de qualquer forma. É essa ideologia que faz
com que a mãe de um deles afirme que “o filho errou, mas quem o conhece sabe
que ele não é assim”, que faz com a imprensa utilize o termo “jovem que
supostamente sofreu estupro coletivo” e dê bastante ênfase ao fato dela ser
usuária de drogas há cerca de 3 anos.
É preciso
dizer as coisas como elas são. Não foi um erro o que aconteceu, foi um crime! Não
foi um ato isolado, certamente esses homens já cometeram outros atos de
violência contra as mulheres que, podem não ter sido tão bárbaros, mas que com
certeza deixaram marcas. Como pode ser um suposto estupro se tem o vídeo postado
pelos próprios agressores se vangloriando do feito? Qual a relevância da
informação de que ela é usuária de drogas? Por acaso isso diminui a responsabilidade
dos estupradores? Não.
Toda essa
naturalização e a busca de justificativas fazem com que milhares de mulheres
sejam violentadas, todos os dias, no país e no mundo. Quando saem para o
trabalho, quando voltam da escola ou quando ficam sozinhas em casa são alvo de
agressões e de culpabilização. Somente em São Paulo, a maior cidade do país, a
cada 1 hora uma mulher é vítima de estupro. Em pesquisa realizada pelo
sindicato de metroviários de São Paulo com usuárias do transporte coletivo,
mais de 80% das mulheres relataram já terem sido assediadas nos vagões e
estações. Já vimos casos de mulheres que ao irem à delegacia denunciar um caso
de abuso, foram vítimas novamente, por parte daqueles que deveriam protegê-las.
Por isso,
é muito importante localizar que a responsabilidade por casos como esse, não
são apenas daqueles que o cometeram diretamente. A falta de investimento
público nas políticas para as mulheres cobram seu preço. Infelizmente no
governo da primeira mulher presidente no país tivemos míseros 0,26 centavos
investidos por cada vítima da violência machista. Além disso, nossas pautas
sofreram também com os acordões entre os governos e a bancada conservadora, como
o que impediu a ida dos kit’s anti- homofobia para as escolas em 2011, ou o que
fez o governo do PT se calar frente ao PL 5069/13 do Eduardo Cunha e, mais
recentemente, a retirada da discussão de gênero do Plano Nacional de Educação que
teve reflexo nos planos estaduais e municipais.
Sabemos
que o descaso com a pauta das mulheres segue no atual governo Temer/PMDB e que a
oposição do PSDB tão pouco tem compromisso com nossos interesses. Por isso,
para arrancarmos qualquer conquista é necessário seguirmos intensificando a
nossa luta, junto com a classe trabalhadora, derrotando todos os ataques dos
governos e da bancada conservadora; impondo a discussão sobre o machismo e
todas as formas de opressão nos diversos espaços como brilhantemente têm feito
os secundaristas nas ocupações de escola e os trabalhadores em suas greves e
mobilizações; realizando manifestações e fazendo repercutir casos como esse
estupro coletivo, que passaria isento pela imprensa burguesa.
Muitas de
nós já tombaram nas fábricas, nas escolas, nos transportes coletivos, nas ruas
escuras. Não deixaremos que sejam esquecidas!É preciso transformar toda nossa
indignação em força para lutar, é necessário seguirmos firmes na tarefa de
destruir essa sociedade capitalista que reproduz e incentiva o machismo e toda
forma de opressão para garantir seus lucros.
Nenhuma mulher a menos! Nenhuma de nós merece ser estuprada! Não aceitaremos mais nenhuma mulher vitima da violência machista!Punição aos estupradores! 1% do PIB para as políticas de combate a violência contra a mulher! Basta desses governos que oprimem e exploram as mulheres trabalhadoras!