Por Beth Dau, do MML RJ
Somos uma a menos. Mayara Amaral, violonista e
compositora de Campo Grande, 27 anos, foi brutalmente assassinada, após ser estuprada
por dois homens. O feminicídio, que faz 13 vítimas por dia no Brasil, levou
mais uma de nós.
De acordo com o relato de Pauliane Amaral, irmã de
Mayara, um de seus assassinos a atraiu para um quarto de motel, usando para tal
o sentimento de amor que a moça nutria por ele. Lá, com um martelo escondido na
mochila, a violentou. Não satisfeito, permitiu que seu parceiro fizesse o
mesmo. Após violarem o corpo de Mayara, martelaram seu crânio até a morte. A
justificativa: a moça resistiu ao assalto que eles tentavam realizar. O carro,
um dos objetos roubados, havia custado mil reais, ainda segundo Pauliane. Já
sem vida, a moça foi jogada dentro desse mesmo carro e levada até a casa de um
terceiro homem. Os três então atearam fogo ao corpo violado e martelado de
Mayara e o deixaram sozinho e carbonizado na beira de uma estrada.
A mídia burguesa, que cumpre de forma primorosa seu papel
de agente dos opressores e da burguesia, fez coro à barbárie. Deu voz aos
assassinos e suas mentiras, publicando seus depoimentos, que culpam a vítima
pelo ocorrido. Reproduziu o argumento de que o duplo estupro que Mayara sofreu foi
na realidade um ato sexual consensual e que as múltiplas marteladas desferidas
em seu crânio pelos dois criminosos foram uma reação de defesa à sua atitude de
resistência ao assalto.
É com profunda tristeza que o MML, um movimento
composto por mulheres trabalhadoras, estudantes, musicistas, professoras,
operárias, metalúrgicas, negras, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis,
enfermeiras, mães, lutadoras e sonhadoras, assim como Mayara, se manifesta em
repúdio ao crime de ódio cometido contra uma de nós. Com extremo pesar,
queremos registrar nossa revolta com a polícia e com a justiça burguesa, que tipificaram
o crime contra Mayara como latrocínio, ou roubo seguido de morte, e não como
feminicídio.
Até hoje, não pudemos ver nenhum governo que realmente
tivesse a intenção de erradicar a violência contra a mulher. Para o governo
Dilma, nossas vidas valiam apenas 0,26 centavos, valor investido por mulher
anualmente durante seu mandato para combater a violência machista. As taxas de assassinatos de mulheres negras
seguem crescendo a cada ano e o Brasil continua ocupando o quinto lugar no
ranking mundial em crimes do tipo. O governo Temer e o Congresso machista,
racista e LGBTfóbico vêm aprovando medidas como o Projeto de Terceirização e as
Reformas Trabalhista e da Previdência, ataques que representam um passo a mais
no sentido da precarização da condição de vida das mulheres trabalhadoras.
Por isso, O MML reafirma o compromisso com a luta pela
construção de uma nova sociedade, sem classes sociais, livre do machismo, do
racismo e da LGBTfobia, uma sociedade socialista. Enquanto o sistema
capitalista, que lucra com as opressões e que explora a classe trabalhadora até
a morte, não for destruído, O MML se fará presente, construindo as greves, as
manifestações e as ocupações, no caminho de uma revolução socialista. Não
permitiremos que nossas Cláudias, Dandaras e Mayaras sejam esquecidas.
Honraremos suas memórias pela luta.
Somos uma a menos. Mayara era violonista e
compositora. A música era seu trabalho. Sua morte certamente deixa um
sentimento de vazio nas pessoas que a amavam. Deixa também a tristeza e a
revolta nos corações de todas as mulheres trabalhadoras que lutam por um mundo
melhor e mais justo. O crime desferido contra ela representa uma razão a mais para
seguirmos batalhando pela transformação estrutural que a classe trabalhadora,
oprimida e explorada, tanto necessita.
Mayara Amaral, presente!
Nenhuma a menos!