Resolução
Política aprovada no 2º Encontro Nacional do MML
Avançar na luta das mulheres trabalhadoras, em unidade com os homens da nossa classe, contra a opressão e a exploração
Vivemos um contexto mundial marcado por uma
forte polarização social, política e econômica. Por um lado, governos e
capitalistas, se utilizam da crise para tentar rebaixar as condições de vida da
classe trabalhadora e atacar os direitos democráticos dos setores oprimidos, se
utilizando dos vários tipos de opressão (machismo, racismo, xenofobia,
LGBTfobia, etc.) para dividir a classe e aumentar a exploração. Por outro, os
trabalhadores se levantam, protagonizando enormes lutas, greves, revoltas e
revoluções, demonstrando que não estão dispostos a pagar o preço pela crise do
capital que não ajudaram a criar.
A intensificação das desigualdades nos marcos do capitalismo
decadente, impõe às mulheres trabalhadoras uma condição de maior violência,
maior opressão e maior exploração. Isso se reflete no aumento da violência
machista, do desemprego feminino, na tentativa de retirar direitos democráticos
como o acesso ao aborto legal e seguro ou criminalizar ainda mais a prática em
países onde não é legalizado.
No mundo todo 1 em cada
3 mulheres já sofreu violência física e/ou sexual e cada 10 minutos uma mulher
é assassinada. O Brasil é o 5º país
no ranking da violência contra mulheres, sendo que a cada 7 segundo uma mulher
é espancada e cada 2 horas uma é morta pela violência machista. As mulheres
negras são as principais vítimas, sendo que a taxa de homicídios de mulheres
negras é o dobro da taxa de mulheres brancas e entre 2003 e 2013 enquanto o
assassinato de mulheres brancas caiu 9,8%, o de mulheres
negras aumentou 54%. Houve ainda um aumento de 30% nos
assassinatos de LGBTs em 2018, o que indica que mais mulheres lésbicas,
bissexuais, transexuais e travestis estão morrendo, vítimas da combinação entre
a LGBTfobia e o machismo.
Além disso, as mulheres
seguem sendo a maioria dos pobres e dos desempregados, ocupando os piores
postos de trabalho, recebendo os salários mais baixos e acumulando a (dupla)
tripla jornada de trabalho, fora e dentro de casa. Por outro
lado, o caos na saúde, a falta de creches e
moradia e o transporte de péssima qualidade, impactam diretamente na vida das
mulheres trabalhadoras. Todos esses indicadores evidenciam a
falácia da estratégia imperialista do “empoderamento” como saída para acabar
com as desigualdades ou mesmo em assegurar às mulheres trabalhadoras os mínimos
direitos democráticos, ou qualquer possibilidade de libertação por dentro do
sistema capitalista.
Mas se aumenta a desigualdade e a violência, cresce a
resistência e o ódio contra a opressão. Em resposta aos ataques e à
incapacidade do sistema capitalista atender suas demandas mínimas, e como parte
do ascenso geral da classe trabalhadora, surgem fortes ações das mulheres em
todo o mundo. Os 8 de março de 2017 e 2018 mobilizaram enormes parcelas de
trabalhadoras e com um forte sentimento internacionalista e amplo
questionamento às políticas neoliberais. No
bojo dessa indignação, estava a luta contra o machismo e a
violência, mas também contra a exploração capitalista, a invisibilidade do
trabalho doméstico, a desigualdade salarial entre homens e mulheres, as
políticas de migração xenófobas, o genocídio e violação das mulheres negras e
indígenas e a não garantia dos direitos sexuais e reprodutivos.
No caso do Brasil, o 8 de
março de 2017 foi uma alavanca para os processos de luta
contra a reforma da previdência, com intensos e massivos atos.
Mas não se resumiu ao dia “internacional das mulheres”. As mobilizações e
greves que envolveram o conjunto da classe posteriormente, como a greve geral
de 28 de abril e a ocupação de Brasília em 24 de maio, tiveram também um forte
componente feminino.
Apoiado na traição das cúpulas das maiores centrais
sindicais, como CUT e Força Sindical, e seus constantes recuos na concretização
da greve geral, e no Congresso Nacional que defende apenas os interesses dos
ricos, Temer conseguiu aprovar a reforma trabalhista e a lei das
terceirizações, porém por força da mobilização e disposição de luta dos
trabalhadores foi derrotado na Reforma da Previdência. O governo,
que vinha se apoiando, inclusive, em argumentos machistas e mentirosos para
responsabilizar as mulheres pelo suposto rombo na previdência, foi obrigado a
retirar da pauta a discussão da reforma. E ao mesmo tempo em que recuou, como
uma medida eleitoreira, decretou a intervenção militar no Rio de
Janeiro e agora lança mão de outro pacote de maldades com privatizações
e ataques ao funcionalismo público.
O Estado capitalista não quer e
não pode atender as demandas sociais dos trabalhadores por isso intensifica o
uso da repressão e da violência para conter as lutas e evitar que as coisas
fujam do controle, as execuções de Marielle e Anderson, no Rio de Janeiro é uma
expressão disso. Ao mesmo tempo a burguesia, com o apoio do
reformismo, busca desviar e canalizar as lutas para a via eleitoral, vendendo a
ilusão de que é possível resolver os problemas dos trabalhadores por dentro do
sistema praticando a colaboração de classes.
O PT governou o país por 14 anos, elegeu a primeira mulher
presidenta, porém atacou os direitos dos trabalhadores, como a lei antiterror
que criminaliza os movimentos, manteve alianças com a velha burguesia
dirigente, Sarney, Renan Calheiros, Kátia Abreu, bancada evangélica, incluindo
seu próprio vice, Michel Temer. Este governo também atacou os direitos das
mulheres trabalhadoras, como o o direito ao aborto e o veto ao cartilha anti-
homofobia. A prisão de Lula é consequência direta dessas escolhas que o PT
fez. Não é tarefa da classe trabalhadora se mobilizar a favor ou
contra sua prisão e nem depositar expectativas que a eleição burguesa vai
resolver os problemas de exploração e opressão da classe trabalhadora.. Há
centenas de corruptos soltos, a começar por Temer e boa parte de seus ministros
e homens de confiança, e outros que gozam de prisão domiciliar e continuam
esbanjando dinheiro público, enquanto milhares de presos, na maioria jovens
negros e pobres da periferia, estão na cadeia sem sequer ter direito a um
julgamento. Nossa tarefa é exigir dessa justiça seletiva a apuração, punição e
prisão de todos os corruptos e corruptores de todos os partidos, entre eles PT,
PMDB, PSDB, PSB etc. (incorporações feitas pelo grupo de movimento sindical)
Nenhum governo que tem como programa a defesa dos
interesses da burguesia é capaz de garantir uma melhora estrutural para a
classe trabalhadora, pelo contrário, a única saída para as trabalhadoras e os
trabalhadores é através da organização independente de governos e patrões, sob
um programa que tenha como estratégia o fim do capitalismo e por uma sociedade
socialista.
Programa
esse que deve incorporar também a luta das mulheres contra o machismo e a
violência como parte das bandeiras históricas da classe trabalhadora na luta
por unificar a classe contra a exploração capitalista. Nesse sentido a CSP-Conlutas cumpre um papel
fundamental, de estar à frente das lutas demarcando um campo de classe, uma
alternativa a toda nossa classe, diferenciando-se das alternativas da
direita tradicional e das saídas de conciliação de classes. MML deve
estar a serviço da construção dessa ferramenta.
O II Encontro Nacional do MML
resolve:
- Reafirmar
que o MML é um movimento de mulheres trabalhadoras que acredita que nossos aliados
são os homens e mulheres da classe trabalhadora. Por um lado, isso significa
reconhecer as especificidades das mulheres no seio de nossa classe (negras, indígenas,
L
GBTs, imigrantes, entre outras) em que o machismo se combina com outras
formas de opressão e é potencializado, favorecendo a exploração da nossa
classe. Por outro, unificando as trabalhadoras em separado das burguesas, nossa
estratégia é fazer com que essa seja uma luta de toda a classe trabalhadora, de
homens e mulheres, para derrotar o capitalismo e construir o socialismo;
- Incorporar
todas as resoluções votadas e debatidas nos grupos a respeito dos temas
específicas como acúmulos para o movimento na construção de suas pautas
.
- Impulsionar
um plano de lutas que combine as pautas das mulheres contra o machismo, a
desigualdade e a violência e por direitos sexuais e reprodutivos, às demandas
gerais da classe trabalhadora e dos outros setores oprimidos;
- Implementar
uma campanha contra a violência às mulheres (vide resolução específica)
- Que
na implementação das resoluções deste Encontro de mulheres trabalhadoras, sejam
denunciados os assassinatos de mulheres assim como qualquer tipo de violência
contra as mulheres.
- Participar
de todas as campanhas encabeçadas pela CSP-CONLUTAS e demais organizações da
classe contra a reforma da previdência, pela revogação da reforma trabalhista e
a lei das terceirizações, a PEC do congelamento dos gastos públicos, reforma do
ensino médio e todas as reformas neoliberais.
- Participar
ativamente das lutas por moradia, reforma agrária e demais lutas do movimento
popular, buscando a relação com o movimento Luta Popular e outras organizações
de luta por território.
- Que
o MML indique a CSP Conlutas a participação ativa nas instâncias dos processos
de demarcação e homologação das terras indígenas, incluindo em seu calendário
os dias de lutas dos povos indígenas, especialmente das mulheres indígenas;
- Participar
e apoiar ativamente das lutas em defesa da democratização dos meios de
comunicação, considerando que a impressa operária é um direito democrático e
não temos nenhuma ilusão na mídia burguesa
- Seguir
lutando contra a violência policial, a criminalização dos lutadores e o
genocídio ao povo pobre. Pelo fim da repressão e infiltração policial nos
movimentos.
- Pela
liberdade de todos os presos políticos por lutar. Pelo fim da intervenção
militar no Rio de Janeiro.
- Pela
desmilitarização da PM. Investigação e punição dos envolvidos na execução de
Marielle e Anderson.
- Pela
legalização e descriminalização das drogas, que as mesmas sejam tratadas como
questão de saúde pública e não de polícia.
- Se
posicionar firmemente contra a corrupção. Defender a apuração, punição, prisão
e confisco dos bens de todos os corruptos e corruptores, além da estatização
das empresas envolvidas com corrupção. Suspensão,
auditoria e não pagamento da dívida pública, que é na verdade uma das (a maior)
forma de corrupção legalizada pelo sistema capitalista.
- Seguir
levantando a consigna de Fora Temer e fora todos os que oprimem e exploram as trabalhadoras
e os trabalhadores.
- Se
posicionar firmemente contra e denunciar toda política de conciliação de
classes, organizando as trabalhadoras de forma independente de governos e
patrões, em unidade com o conjunto da classe, sob um programa que reafirme a
estratégia socialista na luta pela libertação das mulheres.
- Denunciar
em diversas formas de divulgação as dívidas de bancos públicos ou privados,
além de empresas que devem a previdência, esclarecendo que não há déficit, mas
sim calotes, autorizados pelos governos burgueses que beneficiam aqueles bancos
e empresas.