Por Rosângela Cavalcanti, do MML de Natal/RN
O Presidente Michel Temer
sancionou hoje uma alteração que aponta um avanço na lei maria da penha, através da aprovação da
regulamentação do crime de descumprimento das medidas protetivas, prevendo pena
de detenção de três meses a dois anos, em regime fechado e que, nos casos de
flagrante, a fiança fica condicionada a julgamento.
Este é um avanço que faz parte da história de luta por
políticas públicas para mulheres no Brasil: data da década de 1980 o surgimento
da primeira DEAM no estado de São Paulo, da capacitação para profissionais e
das Casa Abrigo, que lentamente se expandiram pelo país, sobretudo após a
década de 1990, quando o país sediou a Convenção
de Belém do Pará (1994), marco em que pela primeira vez, o Estado
brasileiro se compromete no combate à violência machista.
Em 2006, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
sanciona a Lei Maria da Penha, fruto da luta das mulheres trabalhadoras
e de uma sanção por parte da Organização dos Estados Americanos (OEA) através
da Comissão de Direitos Humanos.
O nome da Lei reflete o descaso do Estado sobre o tema:
Maria da Penha Maia Fernandes foi vítima de violência por parte de seu
ex-companheiro, que tentou matá-la duas vezes, deixando-a paraplégica e que,
mesmo diante do alto grau das agressões, sairia impune, pois o Estado
brasileiro não havia nenhuma legislação que punisse a violência doméstica.
Assim, a Lei tem como centro o combate à violência doméstica,
que é um tipo específico da violência machista e, em geral, as agressões estão
presentes constantemente no cotidiano da vítima, seja sob a forma da violência
psicológica, moral, patrimonial, sexual ou física, como tipificado pela própria
lei.
No entanto, após quase 12 anos da sua aprovação, o Brasil
continua liderando o raking como 5º país que mais mata mulheres no mundo. Na
verdade, a lei não encontra orçamento
que garanta a sua funcionalidade, como por exemplo, a baixa quantidade de
Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulheres (DEAMs), Centro de
Referência das Mulheres, Casa Abrigo e mesmo, da expansão das Promotorias e dos
Juizados, além denão promover ações que intervenham na prevenção da violência.
É por isso também que durante os governos do PT cresceram
54% dos casos de violência entre as mulheres negras. É a combinação entre
racismo e machismo tingindo com o sangue das mulheres negras os números da
violência de gênero.
A secretaria de Políticas Públicas para Mulheres foi extinta
em 2015 com a reforma ministerial de Dilma (PT), a Política Nacional de
Enfrentamento à Violência (2011), o Plano Nacional de Políticas Públicas para
Mulheres (2013) sofreram entraves, pois o quase inexistente investimento na
expansão e consolidação dos serviços previstos pela própria Lei 11.340/06,
chegaram a um orçamento de R$0,26 por mulher em situação de violência.
Em 2017, o governo Michel Temer cortou 61% da verba
destinada ao atendimento de mulheres em situação de violência doméstica. A
adoção desta postura, no momento em que a crise do capitalismo atinge um novo
grau e mesmo, no avanço do imperialismo a partir da virada do século XXI,
evidencia que as ações dos governos foram frágeis e ineficazes às reais
necessidades das mulheres trabalhadoras.
Na verdade, o machismo em conjunto com o racismo, possuem
uma lógica funcional ao capitalismo, e desta forma, as opressões, expressas
também sobre a forma de violência, são um mecanismo que fortalecem e asseguram
a reprodução do capitalismo enquanto sistema.
Os avanços legislativos, penais e a consolidação das
políticas públicas são importantes, mas só a superação deste sistema
econômico e das opressões que o sustentam, é que podemos vislumbrar um
horizonte de um mundo sem opressão e exploração.
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