Por Marcela Azevedo, da executiva do MML e da CSP Conlutas, que esteve presente no Encontro
O
ato de abertura
O encontro teve início
no sábado, 08 de Outubro. No monumento a bandeira, ponto central da cidade de
Rosário/Santa Fé, começam a transitar as delegações vindas de diversas cidades
do país. Por todo lado viam-se as famosas faixas estandarte, comuns entre os Hermanos,
com as bandeiras históricas de luta das mulheres e também informando que ali
estavam sindicatos, movimentos do campo, movimentos populares, coletivos
feministas e organizações estudantis, além de muitos partidos e organizações
políticas.
As crianças menores acompanhavam
suas mães com o olhar curioso de quem não entendia muito que estava
acontecendo, mas as meninas já maiores entre 8 e 12 anos, demonstravam que
aquele momento também era delas, estavam com camisas, bandanas, cartazes e
cantavam animadas as palavras de ordem.
Esse foi um momento que
não tinha como não se impactar, também apreciei tudo com o olhar de uma criança
bastante curiosa, ao mesmo tempo em que sentia que aquela luta também era
minha. Ao entregar o material de saudação do MML e da CSP Conlutas, recebi
muitos sorrisos e agradecimento por estar lá, fazendo parte de uma manifestação
muito cara para todas as mulheres da América Latina.
Os
grupos de debate
No sábado à tarde e no
domingo aconteceram os grupos de debate, eram muitos (69 ao total) e com os
mais variados temas, sendo que aconteceram simultaneamente. O grupo que
participei cujo tema foi “mulheres e anticapitalismo e a identidade latina- americana”
teve um profundo debate sobre a situação política no mundo e na América latina,
assim como o protagonismo das mulheres nas lutas contra as mazelas do
capitalismo e os ataques do imperialismo sobre a classe trabalhadora.
O tema da crise econômica
e política no Brasil foi bastante discutido, inclusive como forma de tentar
localizar o fim do governo do PT com a tese de onda reacionária que varreu os governos de
frente popular no continente, tal como aconteceu com Cristina Kshiner. Diante de
tal afirmativa, o questionamento que ficou foi se esses últimos governos dos países latino americanos romperam com a
subserviência ao imperialismo ou se seguiram entregando nossas riquezas e abrindo
as portas dos países para as multinacionais virem super- explorar nossa mão de
obra?
Pareceu-nos importante
dizer que a democracia para os trabalhadores sempre esteve ameaçada no Brasil, porque é a
democracia que existe serve aos ricos. E que Dilma e o PT foram aqueles que mais
fortaleceram essa ameaça nos últimos anos, quando se calaram frente às pautas
dos movimentos de mulheres como a legalização do aborto para manter apoio dos
setores conservadores; quando indicaram Marcos Feliciano para a comissão de
diretos humanos, ou quando preferiram fazer acordo com o deputado Cunha para
segurar o impeachment, no mesmo momento em que as mulheres estavam nas ruas
exigindo sua derrubada. Se juntaram aos empresários e latifundiários e deram as costas para aqueles que diziam representar. Por isso, os trabalhadores romperam com o PT, sem que
isso tenha significado apoio incondicional aos partidos tradicionais da burguesia.
Contudo, mesmo com
muitas diferenças de opinião, a compreensão comum foi da necessidade de
voltarmos para nossos locais de trabalho e estudo, comprometidas em construir
uma forte greve geral contra os ataques nefastos que seguem nos governos atuais
de Temer, no Brasil, e de Macri, na Argentina.
Na
programação cultural, peça brasileira!
O encontro contou com
uma vasta programação cultural, com intervenções de grupos artísticos na rua,
enquanto caminhavam de um lugar a outro e também com peças de teatro,
apresentações musicais e exposições. A peça “Luta mulher poética” cujo texto é
da escritora brasileira e militante do PSTU, Cecília Toledo, emocionou dezenas
de mulheres que assistiram a belíssima interpretação. A peça conta a trajetória
de mulheres que fizeram história na luta da classe trabalhadora como Clara
Zetkin, Rosa Luxemburgo, Pagu, e tantas outras, dando conta de evidenciar que
são muitas as formas de opressão, mas ainda assim sempre as enfrentamos e que
devemos ocupar nosso lugar na luta organizada dos trabalhadores.
A
grande marcha
No domingo à noite,
aconteceu a grande marcha, quando as 70 mil mulheres que participaram do
encontro se juntaram a outras centenas de pessoas. Foram 40 quadras de
manifestação, com centenas de colunas. Caminhando pelo ato, era contagiante o
som das baterias e a disposição de luta. Viam-se rostos jovens que estavam ali
pela primeira vez, também rostos enrugados que constroem esse espaço muito
antes de ser um encontro de massas, mas em todas as faces era possível perceber
a vibração e a alegria de fazer ecoar o grito contra o machismo, contra a violência
física e sexual, contra a criminalização do aborto, também era forte a
convicção de que nossa luta é política e é para transformar a sociedade.
Infelizmente, pelo segundo ano consecutivo,
teve repressão às mulheres no final da marcha, quando se chegava a catedral da
cidade. Bombas de efeito moral foram usadas sobre mulheres que estavam com seus
filhos no colo, o desespero e a indignação tomaram conta das participantes. Mas
as bombas não foram suficientes para nos calar!
No último dia do
encontro, mesmo de baixo de chuva, as mulheres reuniram-se para definir o
próximo local do 32º Encontro. Será na cidade de Chaco, uma localidade com
população de maioria de indígenas e que sofre com a miséria e os cortes do
governo Macri nos setores sociais. Essa realidade coloca para o próximo
encontro uma simbologia importante de fortalecimento das mulheres da classe
trabalhadora contra todas as formas de opressão e, sobretudo, contra a
exploração capitalista que nos sacrifica cada vez mais.