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segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Moção de repúdio à postura machista e burocrática do dirigente do Sindicato dos profissionais em Educação do Município de São Paulo

*Moção aprovada na Coordenação Nacional da CSP Conlutas e Executiva Nacional do MML 

Nos dias 18 a 21 de outubro foi realizado o 27° Congresso do SINPEEM (Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal /SP) do qual diversas mulheres, que são a maioria na categoria, participaram.

No início do Congresso, houve uma fala machista proferida pelo presidente do Sindicato, desrespeitando e hostilizando uma mulher durante a Plenária. A partir disso, as mulheres de diversos coletivos se  organizaram de maneira unificada, assim como mulheres ativistas das escolas, representantes e conselheiras de base e diretoras da oposição e fizeram um ato de protesto contra o machismo dentro do Sindicato.

O grupo conformado escreveu uma Moção em repúdio ao machismo naturalizado no Sindicato para apresentar na Plenária do dia seguinte.  Ao final da Plenária foi solicitada uma Questão de Ordem, prevista em regimento do Congresso, para que o presidente do Sindicato, que fazia os encaminhamentos na mesa, pudesse ler a Moção, a fim de conscientizar a categoria a respeito dessa luta, denunciar os atos de machismo e explicar a  manifestação.

Porém, o presidente do Sindicato ignorou a reivindicação das congressistas, desrespeitando o próprio regimento aprovado na Plenária, e negando o direito a voz das mulheres da categoria. Após todas as tentativas de diálogo, as mulheres subiram e ocuparam o palco em forma de protesto contra o que foi presenciado.

A resposta do presidente do Sindicato foi colocar os seguranças contratados do Congresso para expulsar violentamente as mulheres do palco, agredindo-as e hostilizando-as. Além de utilizar-se de sua posição privilegiada ao microfone para proferir ofensas e desqualificações as mesmas, menosprezando a luta contra o machismo.

Declaramos total repúdio aos atos de machismo propagados nos espaços de manifestação política e deliberação da categoria. Os sindicatos são uma ferramenta importante na luta dos trabalhadores e configura-se como um espaço democrático. Contudo, para representar o conjunto da classe deve refletir a luta e a defesa dos setores oprimidos, principalmente em uma categoria majoritariamente feminina. 

Além disso, a ação da burocracia sindical que impede a discussão democrática e que por muitas vezes silencia as mulheres que já são tão exploradas e oprimidas, é nefasta para a organização da categoria. Tal realidade, em um momento em que os trabalhadores estão sofrendo ataques centrais a direitos históricos, essa situação só enfraquece a reação unificada de mulheres e homens trabalhadores.

#BastaDeMachismonosSindicatos
#ContraABurocraciaEoAutoritarismo

#ForaTodosQueOprimemeExploram


terça-feira, 11 de outubro de 2016

Encontro Nacional de Mulheres da Argentina. Unificar as lutas para combater o machismo e derrotar os planos de ajuste na América Latina

Por Marcela Azevedo, da executiva do MML e da CSP Conlutas, que esteve presente no Encontro





O ato de abertura

O encontro teve início no sábado, 08 de Outubro. No monumento a bandeira, ponto central da cidade de Rosário/Santa Fé, começam a transitar as delegações vindas de diversas cidades do país. Por todo lado viam-se as famosas faixas estandarte, comuns entre os Hermanos, com as bandeiras históricas de luta das mulheres e também informando que ali estavam sindicatos, movimentos do campo, movimentos populares, coletivos feministas e organizações estudantis, além de muitos partidos e organizações políticas.

As crianças menores acompanhavam suas mães com o olhar curioso de quem não entendia muito que estava acontecendo, mas as meninas já maiores entre 8 e 12 anos, demonstravam que aquele momento também era delas, estavam com camisas, bandanas, cartazes e cantavam animadas as palavras de ordem.


Esse foi um momento que não tinha como não se impactar, também apreciei tudo com o olhar de uma criança bastante curiosa, ao mesmo tempo em que sentia que aquela luta também era minha. Ao entregar o material de saudação do MML e da CSP Conlutas, recebi muitos sorrisos e agradecimento por estar lá, fazendo parte de uma manifestação muito cara para todas as mulheres da América Latina.

Os grupos de debate

No sábado à tarde e no domingo aconteceram os grupos de debate, eram muitos (69 ao total) e com os mais variados temas, sendo que aconteceram simultaneamente. O grupo que participei cujo tema foi “mulheres e anticapitalismo e a identidade latina- americana” teve um profundo debate sobre a situação política no mundo e na América latina, assim como o protagonismo das mulheres nas lutas contra as mazelas do capitalismo e os ataques do imperialismo sobre a classe trabalhadora.

O tema da crise econômica e política no Brasil foi bastante discutido, inclusive como forma de tentar localizar o fim do governo do PT com a tese de onda reacionária que varreu os governos de frente popular no continente, tal como aconteceu com Cristina Kshiner. Diante de tal afirmativa, o questionamento que ficou foi se esses últimos governos dos países latino americanos romperam com a subserviência ao imperialismo ou se seguiram entregando nossas riquezas e abrindo as portas dos países para as multinacionais virem super- explorar nossa mão de obra?


Pareceu-nos importante dizer que a democracia para os trabalhadores sempre esteve ameaçada no Brasil, porque é a democracia que existe serve aos ricos. E que Dilma e o PT foram aqueles que mais fortaleceram essa ameaça nos últimos anos, quando se calaram frente às pautas dos movimentos de mulheres como a legalização do aborto para manter apoio dos setores conservadores; quando indicaram Marcos Feliciano para a comissão de diretos humanos, ou quando preferiram fazer acordo com o deputado Cunha para segurar o impeachment, no mesmo momento em que as mulheres estavam nas ruas exigindo sua derrubada. Se juntaram aos empresários e latifundiários e deram as costas para aqueles que diziam representar. Por isso, os trabalhadores romperam com o PT, sem que isso tenha significado apoio incondicional aos partidos tradicionais da burguesia.  


Contudo, mesmo com muitas diferenças de opinião, a compreensão comum foi da necessidade de voltarmos para nossos locais de trabalho e estudo, comprometidas em construir uma forte greve geral contra os ataques nefastos que seguem nos governos atuais de Temer, no Brasil, e de Macri, na Argentina.

Na programação cultural, peça brasileira!

O encontro contou com uma vasta programação cultural, com intervenções de grupos artísticos na rua, enquanto caminhavam de um lugar a outro e também com peças de teatro, apresentações musicais e exposições. A peça “Luta mulher poética” cujo texto é da escritora brasileira e militante do PSTU, Cecília Toledo, emocionou dezenas de mulheres que assistiram a belíssima interpretação. A peça conta a trajetória de mulheres que fizeram história na luta da classe trabalhadora como Clara Zetkin, Rosa Luxemburgo, Pagu, e tantas outras, dando conta de evidenciar que são muitas as formas de opressão, mas ainda assim sempre as enfrentamos e que devemos ocupar nosso lugar na luta organizada dos trabalhadores.


A grande marcha

No domingo à noite, aconteceu a grande marcha, quando as 70 mil mulheres que participaram do encontro se juntaram a outras centenas de pessoas. Foram 40 quadras de manifestação, com centenas de colunas. Caminhando pelo ato, era contagiante o som das baterias e a disposição de luta. Viam-se rostos jovens que estavam ali pela primeira vez, também rostos enrugados que constroem esse espaço muito antes de ser um encontro de massas, mas em todas as faces era possível perceber a vibração e a alegria de fazer ecoar o grito contra o machismo, contra a violência física e sexual, contra a criminalização do aborto, também era forte a convicção de que nossa luta é política e é para transformar a sociedade.   


Infelizmente, pelo segundo ano consecutivo, teve repressão às mulheres no final da marcha, quando se chegava a catedral da cidade. Bombas de efeito moral foram usadas sobre mulheres que estavam com seus filhos no colo, o desespero e a indignação tomaram conta das participantes. Mas as bombas não foram suficientes para nos calar!



No último dia do encontro, mesmo de baixo de chuva, as mulheres reuniram-se para definir o próximo local do 32º Encontro. Será na cidade de Chaco, uma localidade com população de maioria de indígenas e que sofre com a miséria e os cortes do governo Macri nos setores sociais. Essa realidade coloca para o próximo encontro uma simbologia importante de fortalecimento das mulheres da classe trabalhadora contra todas as formas de opressão e, sobretudo, contra a exploração capitalista que nos sacrifica cada vez mais.