Por
Nikya Vidor, ativista trans e militante socialista
Dia 29 de janeiro é o dia que demarca o
dia da visibilidade trans, entretanto vale a pena questionar que visibilidade é
esta? O seguinte texto irá procurar evidenciar o cenário social, econômico e
político em que a população trans brasileira está submetida e qual a relação
deste contexto com o sistema capitalista em que vivemos. Por fim, vai
apresentar um programa político emergencial dentro do viés socialista para a
população trans brasileira da classe trabalhadora.
A
população trans ainda tem dificuldades imensas para ter moradia, emprego e
consequentemente a sua expectativa de vida é baixa, no Brasil é de 35 anos,
além de ter que enfrentar os desafios da violência social, que é ser uma pessoa
trans e isso consiste em lutar para existir nesta forma de sociedade.
No ano de 2021 o Brasil continou sendo o
país que mais mata pessoas trans do mundo, mais de um terço da morte total de
pessoas trans no planeta, cujas estatística conseguem detectar, ocorre dentro
do Brasil, ao mesmo tempo é o país que mais consome pornografia trans, o que
demarca uma contradição entre o nojo e atração.
De acordo com a antra 90 % das mulheres
trans estão na prostituição, em função das mesmas não conseguirem vender a sua
força de trabalho e adquiror um emprego formal na sociedade capitalista, além
do mais, elas não tem famílias para acolhe-las, pois as famílias as expulsam de
casa logo cedo, portanto isso acarreta
não só problemas de emprego e sustentação econômica, no caso, insegurança financeira, como também problemas de moradia e violência.
A maior parte das mulheres trans que se prostituem moram com as suas cafetinas,
cujas mesmas cobram aluguéis muito altos. Estas estão submetidas além de aluguéis
altos e serem expropriadas pelas cafetinas, ainda precisam disputar o ponto de
prostituição com outras mulheres trans, sendo as mais antigas as que detêm
vantagem. Tais conflitos, muitas vezes, envolvem violência e brigas intensas,
ademais as mulheres trans, para conseguirem seguir se prostituindo, quase
sempre precisam pagar propina para polícia, para não serem presas ou
estupradas.
Tem ainda os conflitos com os clientes, que
muitas vezes ao consumirem os seus programas, as matam depois, por
vergonha. De acordo com a Antra dos 51%
das mulheres trans que morrem na prostituição, morrem nas mãos dos clientes
homens. Vale ressaltar que 78% das
mortes da população trans feminina são de mulheres trans negras, de acordo com
Antra. Os homens trans também não
conseguem emprego formal, aponta a Antra que 85% dos homens acreditam que o
mercado de trabalho só lhes garante emprego se tiverem uma aparência
extramemente masculina, isso é, está dentro dos padrões que a comunidade trans
chama de cisgeneridade.
Os homens trans e as mulheres trans além
de serem violentados socialmente por homens cisgêneros, não tem acesso sequer a
atendimento adequado nos serviços públicos e privado, principalmente na saúde,
muitas vezes sendo assediados, caluniados por estes serviços. Outro dado
importante para pensar o cenário da condição de emprego das mulheres trans no
brasil, é que os 10% das mulheres trans que possuem emprego, dentro do que as
estatísticas da Antra consegue
detectar, apenas 4 % tem emprego formal, os outros 6% estariam em empregos
informais extremamente precários. A
condição educacional é outro fator de violência, muitas pessoas trans não
conseguem finalizar o ensino médio, dado ao profundo preconceito que vivem na
escola de toda a comunidade escolar.
Eu vos respondo: tudo! O capitalismo é uma
forma de organização social que prioriza o lucro de uma classe perante o
trabalho de outra classe e tudo que for para garantir o lucro da classe
dominante, isto é, dos ricos (burguesia).
Para lucrar a burguesia não tem
critérios, a mesma promove guerras, desmatamento e genocídios no planeta, tudo
para tentar reverter a sua taxa de lucro que está em queda. A diminuição de
empregos na sociedade de forma geral, no caso, no planeta reflete isso, para a
burguesia ter poucos empregos é extremamente vantajoso, pois a mesma não
precisa remunerar milhares de trabalhadores, muitas vezes, a mesma substitui os
empregos por máquinas ou aumenta o nível da exploração de uns trabalhadores,
para assim, poder explorar outros. Aqueles que caem no desemprego, os patrões
pouco se importam se vão morrer de fome, o que importa é o lucro.
Além do mais a burguesia é uma classe
social historicamente constituída de valores morais, embora que lucro esteja acima
de tudo, a burguesia historicamente herda a partir das sociedades de classes
antigas os preconceitos das classes dominantes antigas. Estes preconceitos são
bastante funcionais para a burguesia melhor explorar a classe trabalhadora,
assim como melhor dividir ela politicamente.
A burguesia enquanto classe é que permite, durante os últimos séculos, a
população trans cair na margem da sociedade, na prostituição e na imensa
violência em que vive, tudo para melhor explorar.
Usou desta população para produção de
mercadorias que não só garantem lucros, mas também que ao serem consumidas
projetam ideias falsas (ideologias) na mente das pessoas, como é caso da
prostituição trans, além de usar do corpo destas mulheres para lucrar fazendo
muitas delas morrerem antes dos 35 anos, a burguesia ao efetivar a pornografia
trans sustenta a ideia falsa de que mulheres trans servem apenas para o sexo no
sigilo, como meros objetos de prazer sexual para os homens. Toda esta forma de
opressão gerada pela história da luta de classes, pelo desemprego, pelas
mercadorias que objetificam estas mulheres, pela perseguição e indiferença do
Estado, porque vale ressaltar, o Estado democrático de direito, é o Estado capitalista
que serve somente ao interesse burguês, este Estado durante muitos anos por
meio da polícia, da saúde e da educação perseguiu de maneira formal e informal
a população trans, e ainda persegue, mas de maneira informal, porque ele
precisa aparentar ser um Estado humano para enganar toda a classe trabalhadora.
Ao mesmo tempo em que a burguesia de maneira disfarçada sustenta a exploração e
a morte da população trans, de maneira demagógica, tentar criar políticas
estatais e empresarias de inclusão e de pink money, que pouco, ou quase nada
tem alteração na condição geral da popualação trans na sociedade capitalista e,
como disse anteriormente, se discriminar e matar é lucrativo, porque a
burguesia irá alterar tal cenário social?
Portanto não existe possibilidade
nenhuma do capitalismo destruir a transfobia, ela é funcional de forma
econômica, pois aumenta o lucro, funcional de forma ideológica, porque aliena a
própria classe trabalhadora e funcional de forma política, pois divide a classe
a partir da alienação, fazendo trabalhadores cisgêneros não enxergarem
trabalhadores trans como aliados, muitas vezes enxergam a população trans como
seus inimigos. Ressalto que a marginalidade da população trans no capitalismo
as coloca em condição de trabalhadores precarizados e super-explorados. O que
exige que defendamos um programa socialista emergencial.
Esta projeção do que seriam as condições sociais
da sociedade socialista podem já ser embutidas como reivindicações na luta
cotidiana e presente da classe trabalhadora, mas, para isso, é necessário criar
o senso crítico dentro da classe e quebrar qualquer ideologia (falsa
consciência) de crença no patrão e no Estado, estas condições sociais é que
chamamos de programa e para a população trans trabalhadora precisamos também
apresentar o programa político socialista, não só pensando as demandas gerais
da nossa classe, mas especificidades que a população trans trabalhadora vive e
sente, pois além de ser explorada, é explorada em condições de maior precariedade
e marginalização, além disso, a mesma é oprimida.
A população
trans precisa de:
Emprego: Para isso defendemos a redução
das jornadas de trabalho e a abertura de postos de trabalho, sem redução
salarial, pelo contrário, com salários que ultrapassem a inflação, escalonar
esta redução das jornadas com aumento de emprego ao ponto que se torne inexistente
o lucro do patrão.
Cotas: Com estas vagas de emprego
criadas, criar cotas de emprego para a popualação trans em geral escalonando com
cotas para negras e negros. Um imenso plano de obras públicas gestionado pela
própria classe trabalhadora que abra vagas de emprego com cotas para a
população trans.
Moradia: Construção de moradias
populares, expropriação dos prédios e terrenos abandonados que servem a
especulação imobiliária e ocupação deles pela classe trabalhadora.
Saúde e educação: Construção d
e conselhos operários e populares nos postos de saúde, nos bairros e nas escolas que tenham como função uma imensa campanha política de unidade e integração de todos os moradores e trabalhadores, combatendo toda forma de opressão e discriminação, prezando pela unidade integral da classe trabalhadora.
Diretos legais: Garantia do nome social
em todos os serviços, atendimento de saúde universal e transversal que pense a
totalidade das necessidades das pessoas trans e processos da transição de
gênero. Educação sexual nas escolas que
preze pelo respeito da diversidade da classe trabalhadora e diversidade
humana.
Combater toda forma de assédio, calúnia
e perseguição que qualquer trabalhador ou trabalhadora negra, negro, lgbt,
indigena, quilombola e mulher. Estudo da
história da transsexualidade na humanidade para combater a ideia de que
pressoas trans são doentes. Pelo fim de qualquer patologização que a população
trans viva, seja por meios institucionais ou culturais.
Por uma revolução socialista que ponha
fim a todo tipo de opressão e exploração!