Reprodução do ciclo da violência na
telinha da Globo
Na manhã do dia 09 de abril de 2017 (domingo) na versão do Big
Brother 17, a TV brasileira mostrou a verdadeira da face da naturalização da
violência machista de Marcos Harter com Emilly. Marcos, durante todo o programa
vem cometendo violência psicológica com sua namorada Emilly através de
deslegitimação de suas opiniões, da aproximação de outras participantes para
causar-lhe ciúmes e insegurança, além de gritos e explosão de raiva para impor
suas posições. Frente a esse quadro, não
foi surpresa que no dia 09/04 as agressões tenham se tornado concretamente
física.
A violência contra a mulher se apresenta em cinco tipos: psicológica, moral, patrimonial, sexual e física. A violência psicológica se caracteriza quando a vítima é humilhada, perseguida, desqualificada, comparada, ameaçada e isolada. É isso que Marcos faz quando afirma que Emilly é inferior a um verme, compara com outra pessoa desqualificando-a, bem como quando diz que ela é incapaz de compreender situações. E por não deixar marcas visíveis, este tipo de violência é na maioria das vezes caracterizada como uma simples discussão entre iguais, entre pessoas que se relacionam.
Com todos estes elementos o violador consegue um relacionamento abusivo como acontece no programa e que é, algumas vezes, difícil de ser identificado porque se utiliza de sua inteligência com jogos de controle, manipulação, ciúmes e consegue fazer com que a vítima pense que não é boa o suficiente e que tudo é culpa sua. Isso provoca a baixa auto-estima e a depressão dominando o relacionamento sem que a vítima perceba deixando-a confusa.
Durante todo o programa Marcos reproduziu comportamentos extremamente machistas, fazendo comentários pejorativos e tratando as mulheres como objetos sexuais e, ao iniciar o relacionamento com Emilly, mostrou sua face de abusador. A emissora poderia ter tomado há tempos uma posição para que a audiência e o vale-tudo não fossem maiores que a tortura que a participante vem sofrendo. Contudo, o que esperar de uma emissora que se cala frente a um caso grave de assédio sexual para manter a audiência da novela, como o caso da figurinista que denunciou José Mayer ou mesmo convoca para o seu reality show um pedófilo que expõe suas armações para estuprar menores em TV aberta e ainda é romantizado quando sai do programa? O objetivo da rede globo é vender seus produtos e com eles contribuir para a manutenção dos comportamentos sociais tais como são. Se esta respondendo aos casos de machismo, é porque esses não tem amis como ir para debaixo do tapete e porque as mulheres estão cansadas de serem amordaçadas.
Infelizmente, é essa programação e essa
naturalização do machismo e todo tipo de opressão que chega às casas da grande
maioria da população, em especial aquelas que vivem a mesma realidade de
violência e que sentem condenadas a aceitar a caladas as agressões, pois se até
no big Brother acontece, imagina na periferia, aonde nenhum suporte para essas
mulheres chega.
A violência psicológica é a preparação para a agressão física, pois destroí a capacidade da mulher reagir, a convence de que ela é tudo aquilo que o agressor diz e, portanto, merece o corretivo físico. O gritar, o segurar no braço, o encurralar e o dedo na cara que Marcos faz com Emily vêm sempre depois de muitos insultos e piadas que a desmerecem.
Marcos impõe medo e autoridade sobre todas as participantes. Sob
a justifica de estar defendendo sua namorada, ele ameaça e intimida as demais
mulheres na casa, colocando sobre as costas da Emilly a responsabilidade por
seus atos com a celebre frase “Não era isso que você queria? Que eu perdesse o
controle”.
Sem política pública os números da
violência só crescem!
A Lei Maria da Penha, aprovada em 2006, embora tenha sido uma conquista importante do movimento feminista, ainda está longe de responder a realidade das mulheres vitimas de violência machista. Isso porque sua efetivação, tanto no aspecto preventivo quanto punitivo, necessita de investimento financeiro para garantir a rede de assistência, como casas-abrigo, inserção das mulheres no mercado de trabalho, medidas protetivas efetivas, campanhas de conscientização, etc. Porém, o que observamos é exatamente o contrário. Desde 2006 os cortes no orçamento são sucessivos, chegando esse ano a diminuição de 61% dos investimentos no atendimento às vítimas de violência e de 54% nas políticas de promoção de mulheres.
Sendo assim, tanto a Globo quanto os próprios governos alimentam e estimulam os números crescentes da violência. Segundo o mapa da violência de 2015, foram 13 mulheres assassinadas por dia no Brasil, nos últimos dez anos. Dentre essas 60% das vítimas foram mulheres negras. No Dossiê Mulher do Estado do RJ foram 49.469 casos notificados de violência psicológica e 49.861 casos de lesão corporal dolosa.
Basta de violência. Nenhuma a menos,
Nenhum direito a menos!
Nós, do Movimento Mulheres em Luta, repudiamos todas as formas de
opressão e violência contra as mulheres, assim como repudiamos também a Rede
Globo que forma opinião no país e reforça a cultura do estupro e naturalização
da violência. Exigimos que o agressor Marcos e emissora sejam responsabilizados
e punidos. Assim como exigimos mais investimento nas políticas de combate a violência
contra a mulher.
Na atual conjuntura, de aumento do desemprego e da precarização
nas condições de vida, combater a violência passa também por garantir emprego e
salário digno, bem diferente do que vem fazendo o governo Temer e seus aliados
que atacam os direitos dos trabalhadores, em especial das mulheres. Por isso,
nossa luta também e contra as reformas da previdência e trabalhista, pela
revogação do projeto que regulamenta a terceirização e contra qualquer
tentativa de retirar direitos.