Por Pri Lírios Kerexu e Marina Peres, militantes do MML/SP
No último dia 01 de Fevereiro, a camarada ativista Katu Mirim, de 31 anos, divulgou em seu canal no Youtube um vídeo com o nome “Fantasia de Índio(a)”, que esteve fora do ar até a ontem (12/02) após a grande repercussão que teve e por conta da perseguição que sua autora tem sofrido.O vídeo teve mais de 15 mil visualizações no Youtube, mais de 200 mil visualizações no Facebook, e mais de 500 curtidas em forma de repúdio ao conteúdo do vídeo.
A discussão é necessária e urgente. Como bem a camarada no vídeo relatou, ser índio, ou ter sangue indígena, nada tem a ver com os desfiles de carnaval, e para muitas índigenas se “vestir de índia” no carnaval não é sinônimo de exaltar a cultura indígena. Pelo contrário, é uma forma de opressão às mulheres indígenas, que reforça uma supersexualização dos seus corpos, uma imagem da “índia nua” e sensual.
Devemos lembrar que esse imaginário da mulher indígena acontece por conta do machismo muito forte que até hoje as mulheres sobretudo as indígenas sofrem cotidianamente nas ruas da cidade, levando a casos de abusos sexuais e estupros fora das aldeias.
As populações indígenas seguem ainda tão marginalizadas que até hoje não se tem pesquisas nos principais institutos sobre o índice de violência cometida contra mulheres indígenas no nosso país. O erro já começa com o IBGE apontando que somente 2% da população se declara indígena, quando sabemos que esses indígenas que os índices mostram são somente aqueles e aquelas com certidões de nascimento, e não aqueles que ainda não o tem e vivem de forma isolada. Ou seja, esse número, que deveria ser drasticamente maior, demonstra uma falha das pesquisas e também o esquecimento da população indígena. O único dado acerca da violência contra mulheres indígenas que temos, da ONU, diz que 1 a cada 3 mulheres indígenas é estuprada ao longo de sua vida. É urgente lutar contra a violência que sofrem as mulheres indígenas!
Há uma tentativa de apagamento de sua história e cultura de forma a não garantir políticas públicas, especialmente para as mulheres e crianças, que são profundamente negligenciadas pelos governos. Ao invés de se preocuparem com a violência sofrida pelas mulheres indígenas, os governos se aliam a latifundiárias como Kátia Abreu e outras tantas, e tornam-se repetidamente cúmplices da política de extermínio das populações indígenas. Vemos essas populações perdendo suas terras, sofrendo ameaças e enterrando suas lideranças, que lutam junto a seu povo por terra, por cultura, por resistência e existência.
A camarada Katu Mirim relatou que sofreu várias ameaças, inclusive de morte, por divulgar no canal do youtube a opressão, o racismo e o machismo combinados que sente por parte daqueles e daquelas que se “fantasiam de índios” no carnaval.
Houve xingamentos, comentários xenófobos, machistas e racistas, que levaram a camarada Katu a retirar o vídeo do ar temporariamente, excluir seu blog, e retirar os vídeos da sua página do Facebook. As pessoas marcavam Katu nos comentários racistas, e perseguiam a camarada pelas páginas da web.
Essa situação é lamentável! Devemos garantir o direito de Katu Mirim de se expressar onde e quando ela quiser. Foi dessa forma, sabendo que não está sozinha na luta contra as opressões que a ativista Katu Mirim reativou o vídeo no youtube como forma de resistência.
Toda solidariedade à ativista, artista e mulher índigena Katu Mirim! Mexeu com uma, mexeu com todas. Todo apoio à luta e resistência indígena!
Assista ao vídeo aqui!
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