No último dia 13 de Junho,
ao menos 11 escolas amanheceram ocupadas em Buenos Aires e as ruas do país
foram tomadas por milhares de pessoas. Assim como as grandes manifestações
contra a reforma da previdência e a política de submissão ao FMI de Macri, a
população argentina mais uma vez se mobilizou para decidir sobre um tema muito
importante: pressionar a câmara de deputados para aprovar o projeto de lei que
legaliza o aborto no país.
A campanha pela
garantia desse direito, que já existe há muito tempo, ganhou peso desde os
preparativos do 8 de Março desse ano e mobilizou toda a população. Atos,
vigílias, debates e lenços verdes deram o tom desse importante processo de luta
por uma bandeira histórica do movimento de mulheres. E não é a toa que as
mulheres lutam por esse direito. Segundo dados de ONG’s argentinas, ao menos
500 mil abortos clandestinos são realizados por ano no país, sendo que pelo
menos 100 dessas mulheres morrem vítimas de procedimentos mal feitos.
Numa parte do mundo,
aonde apenas dois países tem o aborto legalizado, Uruguai e Cuba, as
mobilizações na Argentina e a vitória, ainda que apertada na Câmara de
deputados, é um rastilho de esperança e inspiração para lutarmos em todo o
continente.
Na
América Latina as mulheres morrem vítimas de abortos clandestinos
A realidade de toda a
região é de milhares de abortos clandestinos realizados todos os anos, seguido
de números também alarmantes de internações com sequelas e mortes por conta de
procedimentos realizados em condições precárias.
As mulheres pagam com a
vida e com a liberdade. No Brasil, por exemplo, uma mulher que realiza um aborto pode ser presa e
ficar detida por até 10 anos, dependendo do caso. Entretanto, as legislações
punitivas não impedem as mulheres de interromperem uma gravidez, a diferença é que uma
parcela da população que tem condições econômicas de frequentar uma clinica
clandestina de qualidade realiza o procedimento de maneira segura e sigilosa.
Já para uma gama de mulheres trabalhadoras e pobres, que sequer tem acesso aos
serviços de saúde com qualidade, se submetem a prática do aborto em condições completamente
insalubres e perigosas.
Muitos trabalhadores e
trabalhadoras honestos, tanto na Argentina quanto no Brasil, devem estar
pensando que frente a legalização do aborto vai haver mais irresponsabilidade
na pratica sexual e que as mulheres usarão o aborto como método contraceptivo
prioritário. Mas isso não é verdade. A decisão por realizar um aborto nunca é
fácil, e mesmo que a decisão seja o procedimento, a experiência não é. Todos os
países que legalizaram a prática do aborto o fizeram acompanhado de políticas
de educação sexual e ampliação do acesso a métodos contraceptivos, inclusive
com orientação de qual método é o mais eficaz para cada realidade das diferentes
mulheres. Além do acompanhamento psicossocial antes, durante e depois do
procedimento. O resultado foi se não a diminuição nos números de abortos
realizados, ao menos a estagnação deles e a diminuição taxativa do número de
mortes de mulheres.
Tanto argumentos morais
quanto religiosos são tomados para impedir que a mulher possa decidir sobre o
seu próprio corpo. Acontece que quando falamos da legalização do aborto,
estamos falando de uma questão de saúde pública e não de preceitos individuais.
Estamos falando do direito democrático da mulher conhecer, controlar e decidir
sobre a sua sexualidade. A ausência desse direito se expressa em nosso país, não
só na criminalização do aborto, mas também no crescente número de estupros, nos
vários casos de casamento infantil, no tráfico de mulheres para prostituição em
outros países, nos feminicídios.
Chegou
a nossa hora de legalizar o aborto!
Logo após o resultado
da votação na Argentina, alguns atos foram marcados nas principais cidades
brasileiras, em apoio à luta que segue no país vizinho para aprovar em
definitivo o projeto de legalização do aborto no Senado, mas também para
impulsionar o debate na sociedade brasileira e enfrentar os setores
conservadores que tentam impor uma criminalização ainda maior à nós, mulheres brasileiras,
proibindo o aborto mesmo nos casos de estupro, de risco a vida da mãe ou em
fetos anencéfalos.
Nós do Movimento Mulheres em Luta estaremos
nas ruas, no dia 22 de Junho, construindo esses atos e também vamos, junto com
a CSP Conlutas, fazer com que esse tema chegue à base das categorias dos
trabalhadores para disputar a consciência da nossa classe e organizar a defesa
da vida e dos direitos das mulheres.
Sabemos que o tema da
legalização do aborto é bastante polêmico no país, principalmente pela influência
religiosa na tomada de posicionamento. Contudo, assim como na Argentina e na Irlanda,
países de maioria católica que aprovaram recentemente a legalização do aborto,
sabemos que por aqui também as mulheres estão cansadas de tanta opressão. Faz
tempo que estamos mobilizadas e já enfrentamos projetos como o PL 5069/13 de Eduardo
Cunha, o projeto do Estatuto do Nascituro e mais recentemente a PEC cavalo de Tróia.
Fomos parte fundamental da derrota do projeto de reforma da previdência,
construindo no 8M de 2017 a primeira grande manifestação contra a proposta,
estamos dispostas a enfrentar mais essa batalha e a exigir nada menos que os
nossos direitos.
Tomemos as ruas! Vamos,
em unidade com a classe trabalhadora, parar esse país e arrancar as nossas
conquistas. Sabemos que nenhum governo vai ser generoso conosco, principalmente
o governo Temer que congelou por 20 anos os gastos com áreas sociais, que
cortou verba do orçamento de políticas para mulheres e quer atacar ainda mais
nossos direitos. Sabemos que o congresso brasileiro corrupto e reacionário não
nos representa. Por isso, nossos aliados só podem ser o conjunto dos
trabalhadores e lutadores do país, somos nós por nós, contra a opressão e a
exploração.
Marcela, faz uma publicação que dê pra postar em grupos de Whatsapp
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