Por Tawnne de Andrade, professora de História de São Paulo e militante do MML,
Quem será o homem mais rico do Brasil? Podemos
procurar na lista da Forbes de 2014 que reúne os 150 bilionários brasileiros
detentores de um total de R$ 643,6 bilhões. Certamente pensamos em figuras como
os grandes banqueiros, como Joseph Safra (2º lugar), donos de grandes
construtoras, como Marcelo Odebrecht, a família Marinho dona da Rede Globo. Não
estamos enganados, todos eles estão nessa lista.
Mas o vencedor, com R$ 14 bilhões a mais que o 2º
colocado, é Jorge Paulo Lemann[1], principal acionista da Ambev, com uma
fortuna de R$ 49,85 bilhões (o equivalente a mais de 63 milhões de salários mínimos).
E seus dois principais sócios também figuram na lista de bilionários em 3º e 4º
lugar.
A Ambev é dona de nada menos que 22 marcas de
cerveja[2], entre elas: Antarctica, Bohemia, Brahma, Budweiser, Stella Artois,
e a Skol, que segundo o site da própria Ambev é ‘ líder do mercado
brasileiro e a quarta cerveja mais vendida do mundo’.
Semana passada a Skol teve que refazer às pressas
sua campanha publicitária para o Carnaval, porque duas ativistas feministas
começaram uma campanha nas redes sociais contra os cartazes da Skol que diziam
frases como: “Esqueci o ‘não’ em casa” e “Tô na sua seja qual for a sua”. "A 'maravilhosa' Skol decidiu fazer uma
campanha de Carnaval espalhando frases que induzem a perda do controle. 'Topo
antes de saber a pergunta', 'esqueci o não em casa' são alguns exemplos. Uma
campanha totalmente irresponsável, principalmente durante o Carnaval que a
gente sabe que o índice de estupro sobe pra caramba", disse na internet
Pri Ferrari, publicitária que iniciou a campanha tirando fotos que completavam
o cartaz de ‘Esqueci o não em casa’ com ‘e trouxe o nunca’.
Depois disso a Skol refez sua campanha, trocando os
cartazes para outros com dizeres como: "Tomou bota? Vai atrás do
trio", "Quando um não quer, o outro vai dançar", todos com o
slogan “Neste Carnaval, respeite”.
Não estamos impressionadas, e não achamos que os
administradores e publicitários fizeram isso por se sentirem responsáveis pelo
incentivo ao estupro, sabemos que só trocaram a campanha porque perceberam a
repercussão negativa que poderia afetar suas vendas e resultar num boicote à
marca na época em que mais se consome cerveja no ano.
Esse não é o único exemplo de propaganda machista,
há infinitos exemplos promovidos pela própria Skol e por praticamente todas as
marcas de cerveja. Alguns exemplos de campanhas dos últimos anos da Skol
incluem um comercial de um casamento em que o homem pergunta se a noiva vai
‘continuar gostosa pra sempre’ e desiste de casar porque só a Skol continua
gostosa pra sempre, há um excesso de imagens de mulheres semi-nuas, em
‘posições sensualizantes pra provocar o imaginário’, e alguns anos atrás também
foi criado o aplicativo ‘Garota do tempo Skol’, em que uma sensual mulher loira
de biquíni fazia a previsão do tempo e mandava beijinhos para o usuário do
aplicativo.
As propagandas e as ideologias
Alguns podem dizer que as propagandas sempre foram
assim e que toda propaganda de cerveja utiliza esses elementos, não precisamos
nem comentar os casos da cerveja Devassa. Aqui nos deparamos com vários
problemas dessa lógica tão aceita e difundida atualmente: a manipulação e as
ideologias que as propagandas defendem e fortalecem na sociedade, o excesso de
propagandas a que estamos submetidos, e a naturalização das opressões que essas
propagandas promovem. Tudo isso com o único objetivo de incentivar o consumo
excessivo de certos produtos.
Hoje é impossível escapar das propagandas, a cidade
de São Paulo, por exemplo, há alguns anos tem uma lei que proíbe os outdoors, o
que em nada impede que tenhamos comerciais sendo anunciados: nas televisões
instaladas em ônibus e metrôs do sistema público de transporte, o caso do metrô
é incrível, já que todos os vagões tem cartazes colados na parte interna e
alguns na parte externa, os novos pontos de ônibus instalados pela prefeitura
também vieram acompanhados de painéis próprios para colocar propagandas, como
foi o caso desses cartazes da Skol onde as ativistas fizeram o protesto.
Na internet também somos bombardeados com
propagandas dentro do Facebook, nas nossas caixas de e-mail, e antes de
assistir qualquer vídeo no Youtube. As próprias redes sociais mapeiam nossos
interesses para noticiar propagandas devidamente voltadas para nosso perfil.
Nunca reparou nisso? Faça a experiência e digite num site de busca como o
Google qualquer tipo de produto para pesquisar preço, depois perceba que quando
estiver navegando em qualquer outro site sobre outro assunto as propagandas
serão justamente sobre aquele produto.
As propagandas décadas atrás surgiram
‘inocentemente’ para divulgar e informar a existência de certos produtos e suas
qualidades, mas há muito tempo o capitalismo ampliou essa função, e hoje as
propagandas servem para difundir na sociedade determinados valores e idéias que
estão de acordo com o que os grandes proprietários dessas marcas querem que as
pessoas pensem.
Ou seja, a propaganda não vende só um produto, ela
vende uma visão de mundo. A propaganda de cerveja quando é machista não está só
tentando vender uma cerveja e ‘sem querer comete um erro de ser machista’. A
propaganda é machista de propósito porque vende junto com a cerveja a ideia de
que o homem que consome aquele produto se torna mais poderoso com as mulheres.
A mulher no comercial não é uma pessoa, é um simples objeto sexual, de acordo
com os desejos do homem, já que ela não possui vontade própria.
E é com essas ideias embutidas no produto, que
monopólios como a Ambev conseguem lucrar tanto, como por exemplo entre julho e
setembro de 2014, tiveram uma receita líquida de R$ 8,624 bilhões[3].
E o investimento dos governos em segurança das
mulheres?
Segundo site Sala de Imprensa Dilma, sobre “o
lançamento do programa Mulher Viver Sem Violência. O programa conta com
investimentos da ordem de R$ 305 milhões e tem o intuito de fortalecer a rede
de serviços especializados de atendimento às mulheres em situação de
violência[4].” Se considerarmos que a população atual de mulheres no Brasil
supera 100 milhões, o governo está investindo apenas R$ 3,00 em cada uma de
nós. Num país com mais de 5.000 municípios há apenas 500 delegacias da mulher.
O Movimento Mulheres em Luta reivindica do governo federal um investimento
mínimo que corresponda a 1% do PIB (Produto Interno Bruto).
Já no site do governo do estado de São Paulo sequer
é possível encontrar informações sobre segurança da mulher, já que todas as
matérias tratam do tema segurança de forma generalizante. A maior cidade do
país, com uma população de cerca de 5 milhões de mulheres possui apenas 9
Delegacias da Mulher e 1 hospital especializado em casos de violência, o Pérola
Byington (consulte e anote o endereço da delegacia mais próxima[5]).
No Brasil em 2013 foram registrados pela polícia
mais de 50 mil casos de estupro, sendo que a estimativa é que apenas 35% dos
casos sejam denunciados, o que pode elevar esses números para mais de 143 mil.
Só no estado de São Paulo foram mais de 12 mil casos[6].
Neste Carnaval, por exemplo, uma adolescente de 13
anos foi estuprada por 9 homens, entre adultos e adolescentes[7]. É um caso
brutal, assustador, nojento. Infelizmente há muitos outros que podem não ter
sido denunciados.
Só a luta das mulheres e homens da classe
trabalhadora contra o capitalismo, a burguesia e os governos que os servem pode
acabar com isso. Por uma sociedade socialista, sem exploração e sem opressão!
Notas:
[1] Conforme em:
http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2014/08/27/lemann-e-o-mais-rico-do-brasil-pelo-2-ano-seguido-aponta-forbes-brasil.htm
[2] Disponível em
http://www.ambev.com.br/nossas-marcas/cerveja/
[3] Disponível no site da revista Exame em
31/10/2014:
http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/lucro-liquido-consolidado-da-ambev-sobe-23-no-3o-trimestre
[4] Notícia de 10/10/2014, disponível em:
http://www.saladeimprensadilma.com.br/2014/10/10/governo-dilma-atua-no-combate-a-violencia-contra-as-mulheres/
[5] Endereço das Delegacias da Mulher na cidade de
São Paulo: http://www.cidadao.sp.gov.br/servico.php?serv=1715
[6] Notícia de 11/11/2014:
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2014/11/11/pais-tem-50-mil-pessoas-estupradas-por-ano-roraima-lidera-ranking.htm
[7] Notícia em:
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/02/1590631-nove-sao-presos-por-suspeita-de-estupro-de-jovem-de-13-anos-em-osasco.shtml
A luta contra o machismo é todo dia!!!
ResponderExcluirTawnne, Parabéns! Muito boa essa matéria. Thaís
ResponderExcluiraca puede comprar celulares replikas mando a todo mundo replika telefonlar
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