Manifesto do Movimento Mulheres em Luta
No mês de Março de 2015 presenciamos uma retrospectiva do
período eleitoral do ano passado. No dia 13 os setores que apoiam o governo do
PT (CUT, CTB, UNE, MST) chamaram manifestações afirmando que o objetivo era
defender a Petrobrás, direitos e a reforma política, contudo ficou evidente que
o ato era em defesa de Dilma, sob a argumentação de que o país encontra-se sob
a ameaça de um golpe militar e, portanto, devemos defender a democracia e o
governo. Já no dia 15 um número bem maior de pessoas ocuparam as ruas para
demonstrar sua indignação contra a corrupção, o PT e a carestia. Embora essa
manifestação se apresentasse como apartidária, em todos os Estados elas foram
encabeçadas por partido e figuras da direita clássica brasileira como PSDB,
Solidariedade, etc.
Em nenhum desses dois espaços os setores massivos dos
trabalhadores e a população pobre do país estiveram presentes. Em nossa opinião,
porque nenhuma das duas manifestações refletiu as necessidades reais da classe
trabalhadora.
Os trabalhadores estão indignados com a política do governo
federal de cortes nos orçamentos das pastas sociais e a retirada de diretos
trabalhistas históricos como seguro desemprego, PIS, auxílio-doença e pensão
por morte. Além disso, a subida dos preços trouxe ainda mais dificuldade e
arrocho para a vida da população. Por isso não há como defender ou confiar no
governo do PT já que a Dilma está fazendo exatamente aquilo que disse estar combatendo
nas eleições: garantindo os lucros dos empresários e banqueiros, em detrimento
das condições de vida dos trabalhadores.
Por outro lado, PSDB e companhia que também se dizem
descontentes com o governo federal não criticaram as medidas acima citadas, não
vimos nenhuma bandeira dos trabalhadores levantadas nos atos do dia 15 seja por
emprego, moradia, saúde, educação, contra a terceirização dos postos de
trabalho ou a retirada de direitos. Ao contrário disso, os governos de direita
estão aplicando os mesmos ataques aos trabalhadores e estão enfrentando as
greves e a resistência das categorias como foi a da educação no Paraná e agora
se estende a São Paulo e Pará, todos Estados governados pelo PSDB.
Em toda essa situação as mulheres trabalhadoras e pobres são
as mais prejudicadas porque são mais vulneráveis no mercado de trabalho,
ocupando os postos rotativos, com maior índice de adoecimento, com os menores
salários. Também somos nós as mais penalizadas com a falta de água, a falta de
investimento em educação e déficit nas vagas de creches públicas, a falta de
investimento no combate a violência machista, etc.
Como se não bastasse ainda estamos sendo atacadas pelo
Congresso Nacional conservador e machista. Figuras como Eduardo Cunha,
presidente da câmara de deputados, defende o fim da distribuição da pílula do
dia seguinte, inclusive para mulheres vítimas de violência sexual; nega
qualquer direito ou respeito aos LGBT’s e defende a aprovação do PL 4330 que
oficializa a terceirização e abre espaço para se aprofundar ainda mais a
exploração de mulheres, negros e LGBT’s. Apesar de querer aparentar ser o
defensor da moral e dos bons costumes, Eduardo Cunha está na lista dos
investigados por desvio de verbas públicas, na operação lava-jato.
Os trabalhadores já estão se mobilizando contra o PL 4330 e
não tinha como ser diferente. Segundo dados da
Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) de 2013, 70.6% das mulheres negras que
trabalham nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto
Alegre, Recife, Salvador, São Paulo e Distrito Federal estão nos setores de
serviços, na sua enorme maioria já como terceirizadas. Além dos menores
salários, piores condições de trabalho e quase nenhum direito garantido, os trabalhadores terceirizados
não conseguem se organizar em sindicatos, devido às divisões entre os trabalhadores
que as empresas impõem com uniformes, refeitórios e horários diferenciados.
Diante dessa situação não existe alternativa as mulheres
trabalhadoras e pobres que não seja organizar a luta e a resistência da nossa
classe. Para isso, é necessário construir um campo em que se concentrem as
entidades sindicais combativas, os movimentos sociais honestos, os partidos que
de fato defendem os interesses dos trabalhadores, para enfrentar tanto os
ataques do governo Dilma, quanto os ataques dos governos em que a oposição de
direita está a frente. Da mesma forma que está colocada a tarefa de barrar os
diversos projetos nefastos que tramitam no Congresso Nacional como o PL4330 que
oficializa a terceirização, a reforma fiscal, etc.
Nós, do Movimento Mulheres em Luta, estamos presentes nas
greves, manifestações e iniciativas dos trabalhadores para construir esse setor
que aglutine todos aqueles que estão indignados e querem lutar para defender os
interesses dos trabalhadores. Construímos o Espaço de Unidade de ação que vem
desenvolvendo experiências importantes como a campanha “Na copa vai ter luta”
em 2014 e já coloca em curso um calendário de mobilizações agora em 2015. Somamo-nos
ao chamado da construção de uma greve geral no país, ou seja, a paralisação em
unidade de todos os trabalhadores, das diversas categorias para barrar esses
ataques. Para essa luta se fortalecer, convidamos você que é professora,
operária, servidora pública, dona de casa, estudante, etc. para se juntar a nós
nesta tarefa.
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