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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Contribuição II do MML para o 3º Congresso da CSP-Conlutas

Unificar homens e mulheres da classe trabalhadora na luta contra a opressão e a exploração

Considerando que:
   A violência é uma das piores faces do machismo, tendo se aprofundado com a atual crise econômica capitalista. A violência doméstica segue vitimando milhares de mulheres, e mesmo sendo as mulheres negras as maiores vítimas, são elas as que menos têm acesso à proteção penal do Estado.
   Segundo a OMS, 60% das mulheres agredidas no Brasil nunca abandonaram o lar sequer por uma noite, em função das agressões sofridas, sendo que menos de 10% procuraram serviços especializados de saúde ou segurança. Em média a mulher demora 10 anos para pedir ajuda pela primeira vez.
   A combinação de machismo e racismo se expressa nos dados da violência à mulher negra, enquanto a taxa de homicídio de mulheres brancas caiu 9,8%, nos últimos 10 anos, a de mulheres negras aumentou 54,2%. A maioria das vítimas é jovem de 15 a 29 anos, sendo que a taxa de mortes violentas entre as mulheres negras são de 11,5 por 100 mil habitantes, já entre as mulheres brancas é de 4,6.
   As estatísticas revelam também um massacre das LBT’s trabalhadoras. Entre 2013 e 2016, ocorreram 1.303 assassinatos LGBTfóbicos no Brasil, isso significa 40% do total mundial. Em 2016, 01 LGBT morreu a cada 25 horas no país. Ao longo dos anos esses índices só cresceram. No governo FHC foram 1.023 mortes, no de Lula 1.306, no de Dilma 1.674 mortes e com Temer, 345 em 1 ano.Nenhum governo burguês, seja da direita clássica ou de frente popular, foi capaz de apresentar nenhuma política que garantisse a vida das mulheres LBT’s.
   Apesar de uma importante conquista dos movimentos de mulheres, a Lei Maria da Penha, aprovada há 11 anos, não efetivou ou ampliou a rede de assistência às vitimas de violência. O que houve foi o corte paulatino do orçamento na área. O investimento no combate à violência às mulheres durante os governos petistas foi de míseros R$0,26 centavos por mulher e apenas 2 das 27 casas da mulher brasileira prometidos por Dilma saíram do papel. No governo Temer (PMDB) o corte foi maior (60%), a verba caiu de R$ 42,9 milhões para 16,7 milhões. Os governos estaduais e municipais seguem a mesma cartilha, o prefeito Dória (PSDB) de São Paulo, cortou R$ 3 milhões das políticas para mulheres, apesar do aumento de 31% nos casos de violência atendidos.
   O machismo se reproduz em todas as esferas da vida, inclusive no trabalho. Além da opressão comum a todos os trabalhadores, as mulheres ainda são vítimas do assédio sexual e de constrangimentos como a vistoria de absorventes comprovando a menstruação; testes de gravidez nos exames admissionais e periódicos, além das famosas revistas nas saídas de fábricas, práticas comuns que servem de controle da reprodução. Essa pressão sofrida no local de trabalho somada ao medo de perder o emprego, contribui para que muitas mulheres que sofrem violência doméstica escondam o fato para não gerar questionamento quanto a sua estabilidade emocional e as consequências na sua produção.
   Também é comum a violência fora de casa, devido aos horários de turnos que fazem com que a mulher tenha que enfrentar madrugadas ou noites na rua, sem nenhuma proteção. Muitos estupros acontecem no percurso que faz a mulher de casa para o ponto de ônibus ou fretado que a leva ao trabalho. Em 2015, foram registrados uma média de 5 estupros por hora no país.
   Não bastasse todo esse quadro de violência, as mulheres estão enfrentando ataques aos seus direitos, vários projetos de lei buscam restringir ainda mais o direito ao aborto, que já é considerado crime, sendo que as mulheres que decidem abortar podem ser punidas com detenção de 1 a 3 anos.
   Apenas nos casos de anencefalia, estupro ou risco a vida para a mãe o aborto é permitido até o 3º mês de gestação, entretanto, dificuldades e entraves burocráticos muitas vezes são impostos, com o objetivo de atrasar o procedimento até que ele não possa mais ser realizado.
   Desde 2007, tramita no Congresso o PL 478 – Estatuto do Nascituro, de autoria dos deputados federais Luiz Bassuma (PT/BA) e Miguel Martini (PHS/MG), que tornar ilegal e transformar em crime hediondo, o aborto em casos de estupro, punindo também o profissional de saúde que auxiliar a mulher no procedimento. Como contrapartida, o projeto prevê a concessão de um auxilio no valor de 01 salário mínimo até a criança completar 18 anos ou até a identificação do estuprador, que será obrigado a registrar e pagar uma pensão para a criança.
   Tal medida impõe a continuidade da violência contra a mulher ao obrigá-la a seguir com uma gravidez indesejada, ao criminalizá-la quando ela é a vítima, ao impor uma convivência com seu estuprador e ao colocar os interesses do feto acima dos interesses dela própria. No ultimo mês de junho o deputado Marcos Rogério (DEM/RO) deu parecer favorável ao projeto na Comissão de Constituição e Justiça, da câmara de deputados.
   Em 2013 o então Deputado Federal Eduardo Cunha/PMDB apresentou o Projeto de Lei 5069, que propunha realizar a prevenção de uma gravidez indesejada, em caso de estupro, apenas mediante apresentação de boletim de ocorrência e exame de corpo de delito. Dessa forma, qualquer profissional que garantisse atendimento a uma mulher nessas condições também seria penalizado com detenção de 1 a 3 anos.
   No Brasil, menos de 10% dos casos de estupro são notificados, isso porque as mulheres têm medo de procurar a polícia ou acreditam que nada será feito por ela. Além disso, o projeto prioriza a questão burocrática à saúde e bem estar da mulher, ou seja, impõe que o primeiro espaço que a vitima deva procurar seja a delegacia e não o hospital.
   Enquanto tramitam tais projetos, as mulheres pobres e trabalhadoras continuam morrendo. Um milhão de abortos são realizados por ano, no país. As mulheres negras e pobres são as maiores vítimas da criminalização do aborto, pois, enquanto as mulheres ricas têm acesso às clinicas especializadas nas quais realizam o procedimento de maneira segura, discreta e sem julgamento moral, pagando entre 3 a 5 mil reais, valor que nenhuma mulher da classe trabalhadora pode dispor, acabam recorrendo à clínicas clandestinas sem as menores condições de higiene ou utilizando os mais variados métodos para se livrarem da gravidez indesejada, de agulhas de tricô a medicamentos, sem qualquer orientação. São as mulheres negras as que mais morrem em decorrência de complicações, pois são as que menos tem acesso aos serviços de saúde, e, quando aí chegam, enfrentam também o racismo e a falta de informação.
   Segundo a OMS, taxas de abortos realizados por ano nos países onde o procedimento é legalizado são menores se comparados aos países onde o aborto é crime. Na América Latina, somente Cuba, Guiana, Guiana Francesa e Uruguai legalizaram o aborto até os três meses de gestação. No continente, 11% da vítimas fatais de complicações na gravidez morrem devido a abortos realizados de forma insegura e clandestina. No Uruguai, onde o aborto é permitido, antes da realização do procedimento, as mulheres que procuram o serviço público de saúde passam por uma equipe compostos por médicos, psicólogos e assistentes sociais. A medida de descriminalização e legalização do aborto adotada pelo Uruguai reduziu a taxa de mortalidade materna pelo procedimento a 0% em 2014.
   O aborto é um problema de saúde pública, é preciso garantir à mulher o direito de decidir sobre o seu corpo, mas principalmente garantir informações sobre o mesmo, sobre sua sexualidade e o acesso a um procedimento seguro e legal.
   Outros projetos como a redução da maioridade penal, o estatuto da família que reconhece somente as famílias compostas por casais heterossexuais e o que visa punir a descriminação dos heterossexuais, apontam o quanto a burguesia e seus representantes não tem qualquer compromisso com nossas pautas. Pelo contrário, os setores ditos mais progressivos, como o PT, se aliaram aos setores mais reacionários para aprovar projetos que retiram os mínimos direitos conquistados na busca de diminuir desigualdades. O objetivo é aprofundar a opressão para que se aprofunde também a exploração de mulheres negras e não negras, além dos LGBTs e, consequentemente, da classe trabalhadora como um todo, atacando os setores que estão demonstrando grande disposição de luta, fazendo com que sejam desmoralizados. Por isso, só a unidade dos trabalhadores na organização das lutas pode garantir vitórias. Cada pauta de reinvindicação, nessa atual conjuntura, só se fortalece se for parte do objetivo comum de derrotar o projeto da burguesia que atualmente esta sendo colocado em prática pelo Temer e pelo congresso corrupto os quais não têm nenhuma moral para mexer em nossos direitos ou decidir sobre nossas vidas.

O 3º Congresso Nacional da CSP-CONLUTAS resolve:
Atuar implacavelmente pelo fim da violência contra mulher, construindo campanhas e iniciativas junto às entidades de base;
Pela Aplicação e ampliação da Lei Maria da Penha! Não ao pagamento da dívida, por mais investimento na rede de assistência as vítimas de violência machista! Que essa rede, incluindo as delegacias de mulheres, funcionem 24 horas, 07 dias por semana em locais de fácil acesso em todos os bairros ou regiões e com equipes preparadas para o atendimento!
Punição aos agressores! Construção de casas abrigo! Basta de feminicídio!
Punir o estupro, não a mulher! Não ao Estatuto do Nascituro e qualquer projeto reacionário que criminalize a vítima de violência sexual! Não a cultura do estupro!
Criminalização da LGBTfobia! Por campanhas que combatam o preconceito e a discriminação! Pelo direito ao nome social! Profissionais capacitados para atender vítimas de LGBTfobia!
Educação sexual e contraceptivos para prevenir! Aborto legal e seguro para não morrer!
O tema da violência deve ser parte das nossas discussões e materiais das entidades de base, bem como dos materiais da central de discussão com a classe trabalhadora, enfatizando sempre que é dever de homens e mulheres combater a violência machista em qualquer circunstância. Que as entidades filiadas a central incorporem nas clausulas de acordo coletivo medidas concretas de combate ao assédio moral e sexual.
Assinam:
Movimento Mulheres em Luta
SINDSEF/SP – Sindicato dos Trabalhadores em Serviços Públicos Federais de São Paulo
Sindicato dos Trabalhadores nas Industrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Itajubá, Paraisópolis e região
Sindicato dos Empregados no Comércio de Erechim e Região -  Sindicato dos Empregados no Comércio de Passo Fundo e Região – Sindicato dos Empregados no Comércio de Santa Cruz e Região - Oposição à direção SINTRAMB – BAYEUX/PB



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