COMBATER O MACHISMO PARA UNIFICAR A CLASSE E FORTALECER A LUTA DA CLASSE TRABALHADORA DE CONJUNTO
Considerando que:
Os sindicatos, por fazerem parte de uma sociedade que reproduz constantemente as opressões acabam refletindo as desigualdades impostas aos oprimidos, em seu meio. A importante presença das mulheres trabalhadoras nas lutas deste ano como, por exemplo, ocorreu no 8 de março ou nas mobilizações da greve geral, não necessariamente se reflete na direções das entidades ou na composição de mesas de debates políticos ou na participação ativa nas tarefas de elaboração do movimento. Raramente as pautas de reivindicações e de discussões contam com pontos que afetam as trabalhadoras pelo fato de serem mulheres, muitas vezes, o debate acaba sendo realizado somente entre elas próprias. O que é um erro, as demandas das mulheres trabalhadoras têm que ser parte do programa da classe trabalhadora de conjunto.
Outro desafio que as trabalhadoras enfrentam é o risco permanente da violência, sendo uma preocupação real o horário e como saem dos lugares. Por isso, é fundamental que os sindicatos se preocupem com essa logística e tenham uma política de acesso e permanência das mulheres nas atividades, garantindo a sua segurança.
As trabalhadoras são frequentemente confrontadas com “piadas” e “brincadeiras”, que na realidade representam uma forma velada de assédio sexual e agressão. Têm suas falas interrompidas e são silenciadas quando expõem suas opiniões. Quando apontam os casos de machismo ou propõem que o tema seja discutido nas reuniões de diretoria ou assembleias, são acusadas de “dramáticas” ou “exageradas”, essas posturas dificultam a inclusão de novas mulheres e afasta as que se propõem a construir a entidade.
Outro erro grave que pode acontecer é tratar o tema do machismo como arma política, em disputas pelo aparato ou por posições. Tal postura é inaceitável e deve ser veementemente combatida entre nós, pois a luta contra a opressão de gênero e qualquer outra forma de opressão deve ser parte dos nossos princípios e dos esforços em unificar a nossa classe na luta contra os patrões e governos.
No caso das mães a situação é ainda mais grave. Além das limitações objetivas a que estão sujeitas, devido às múltiplas jornadas de trabalho, sofrem as pressões subjetivas da sociedade. Quando dividem seu tempo entre a as tarefas domésticas e a formação política ou os compromissos sindicais, são questionadas e sofrem com o sentimento de culpa por deixarem de dedicar a integralidade de seu tempo fora do trabalho à criação dos filhos. Aquelas que conseguem superar essas barreiras não encontram sensibilidade e compreensão de suas necessidades especiais e sobre a particularidade de suas rotinas e horários.
As LBTs estão presentes entre as diversas categorias de trabalho, porém, devido o medo da violência e da discriminação, a maioria delas não assume sua identidade de gênero ou sua orientação sexual. Por outro lado, as entidades não têm iniciativas ou mecanismos para aproximá-las ou combater a violência lbtfóbica que sofrem em seu cotidiano de trabalho, isso quando não reproduzem fielmente todos os aspectos dessa opressão. Precisamos mudar essa prática e fazer com que as trabalhadoras LBTs sintam-se parte da classe trabalhadora e confie nessa para lutar em defesa de todos os seus direitos.
As mulheres negras normalmente são o principal alvo do assédio e da super exploração nos locais de trabalho. Porém, os próprios trabalhadores na maioria das vezes veem com naturalidade o tratamento diferenciado, influenciados pelo mito da democracia racial. Ao buscarem o sindicato acabam enfrentando a mesma reprodução do machismo e racismo, seja ao serem vistas como objeto sexual ou não terem as suas demandas consideradas à luz dos anos de resquício da escravidão e de imposição de desigualdades.
Os espaços sindicais, que lutam por direitos, justiça e têm plena noção das mazelas do capitalismo, não podem ser reprodutores de ideologias que auxiliam e fortalecem esse sistema. Para a tarefa colocada aos trabalhadores de derrotar a burguesia e construir uma sociedade igualitária, são necessários todos os nossos. Por isso, é responsabilidade das entidades sindicais a criação das condições para que as trabalhadoras se envolvam cada vez mais nas lutas cotidianas, tanto nas bases de seu sindicato quanto em cargos de direção.
Nesse sentido, um dos maiores patrimônios acumulados até aqui, é a concepção e forma organizativa da CSP Conlutas como uma central sindical e popular, com a incorporação dos movimentos de luta contra a opressão. Tal combinação é fundamental não apenas porque os setores oprimidos são um amplo setor da classe trabalhadora e têm sido bastante dinâmicos nas mobilizações do último período, mas também porque a central se constitui como um espaço de educação do conjunto dos trabalhadores de que é necessário assumir a luta contra o machismo, o racismo, a lgbtfobia e toda forma de opressão, como parte da luta contra a exploração.
A partir dessa concepção a CSP Conlutas tem incorporado cada vez mais, no seu calendário de atividades, as manifestações alusivas aos dias de luta dos setores oprimidos como 8 de Março – Dia de luta da mulher trabalhadora, 26 de Junho – Dia do orgulho LGBT, 25 de Julho- Dia da Mulher negra , latino americana e caribenha; 29 de Agosto- Dia da visibilidade lésbica; 20 de Novembro – Dia da consciência negra; 25 de Novembro – Dia de combate a violência machista, para citar alguns.
Sobre esses temas tem sempre matérias no site da central, assim como os materiais diversos de ampla veiculação apresenta o recorte de gênero e raça, principalmente para evidenciar que serão esses os trabalhadores mais afetados com os planos da burguesia de ataque aos nossos direitos. Há uma preocupação em garantir a presença equilibrada na composição das mesas e convidados nas coordenações, seminários e outros espaços da central, ainda que seja necessário avançar na distribuição das tarefas políticas e não só as organizativas. Nas coordenações e reuniões da Secretaria Executiva Nacional, busca-se garantir a demarcação desses temas, seja através dos setoriais que dispensam grande contribuição para a elaboração política da entidade, seja através de vídeos ou apresentações nos espaços gerais da reunião que visam sensibilizar e educar o conjunto dos trabalhadores. Certamente é possível avançarmos muito mais nesses aspectos, já que são parte de uma prática cotidiana de combate ao machismo que muitas vezes gera desgaste.
Como parte da sua atuação internacional, a CSP Conlutas em parceria com o Movimento Mulheres em Luta, participou dos Encontros de Mulheres da Argentina nos anos de 2015 e 2016, é referência de organização para diversas entidades em outros países e vem cumprindo um papel importante na construção do Encontro Sindical Internacional, organizado pela Rede Sindical Internacional, que acontecerá em Janeiro de 2018 e terá um dia inteiro dedicado ao tema da organização e luta das mulheres.
A central esteve presente em diversas manifestações realizadas no país como os atos contra o PL 5069/13 de Eduardo Cunha e pela legalização do aborto; contra a cultura do estupro, nos 8 de Marços em todo o país, sendo inclusive a única central sindical que votou apoio a Greve Internacional de Mulheres e teve iniciativa em suas bases, principalmente operárias, para realizar paralisações debater o tema com mulheres e homens das categorias. Por ter disponibilizado sua estrutura material e política a serviço da construção das manifestações, foi reconhecida nacionalmente pelo movimento 8M, coletivo que iniciou a organização da greve internacional no Brasil. Assim como, em 25 de Novembro de 2016, quando ocorreu paralisação nacional de todas as centrais, impulsionou que o tema do combate à violência contra a mulher entrasse na pauta de reinvindicação, orientando que nos estados as Mulheres estivessem na frente da condução dos atos, reforçando o protagonismo das mesmas.
Aprovou a construção da campanha educativa sobre a necessidade da descriminalização e legalização do aborto, para a base da central. A qual vem sendo desenvolvida, com a produção de vídeo e questionário que servirá de base para a confecção da cartilha que deve ir para as diretorias das entididades. Além disso, também construiu diversas iniciativas de combate a violência contra a mulher, propostas pelo MML ou outras entidades, como a denuncia dos estupros das mulheres indígenas Guarani-Kaiowá; a campanha por 1% do PIB para as politicas de combate a violência machista; a denúncia da perseguição política das diversas companheiras dirigentes sindicais que sofreram processos administrativos e judiciais. A CSP Conlutas foi ponto de apoio fundamental para a construção do 1º Seminário Nacional de Mulheres Negras do MML, no qual se reuniram mais de 400 mulheres. A central pode, através dos estados, seguir dando suporte a luta e demandas dessas trabalhadoras.
Todos esses processos são de extrema importância para o avanço do conjunto dos trabalhadores e para ampliar a base da central. Contudo, os desafios do cotidiano são imensos e a pressão para seguir padrões que reforçam a opressão é real. Mesmo o processo de burocratização e a limitação das entidades aos temas meramente econômicos, fazem com que as entidades não consigam manter medidas para organizar e representar os setores oprimidos. É fundamental que desde a secretaria executiva nacional, Secretarias estaduais e das coordenações nacionais se impulsione tais políticas.
O 3º Congresso Nacional da CSP-CONLUTAS resolve:
- Campanhas de sindicalização especialmente voltadas para as mulheres, trazendo pontos que dizem respeito à realidade feminina na sociedade;
- Elaboração de materiais específicos ou de colunas voltadas ao tema nos materiais gerais das entidades, sindicatos e movimentos;
- Desenvolvimento e inclusão de pautas de reivindicações específicas de mulheres na negociação coletiva;
- Creche ou recreação para que as mulheres possam participar das atividades do movimento;
- Realização sistemática por parte do sindicato de cursos, palestras e atividades sobre o tema, que incluam a participação dos homens, com o objetivo de promover um processo educativo ao conjunto da categoria;
- Cotas para as mulheres nos cargos de direção do movimento, considerando-se o percentual de mulheres na base, como referência mínima.
- Fortalecimento e criação onde não existem de secretarias de mulheres nas entidades e movimentos filiados.
- Realização do Encontro de mulheres da central, bem como o incentivo para que as categorias realizem com regularidade tais espaços.
Assinam:
Movimento Mulheres em Luta
SAFER/IPOJUCA – Sindicato dos Agricultores Familiares e Empreendedores Rurais de Ipojuca/PE
Sindicato dos Empregados no Comércio de Erechim e Região
Sindicato dos Empregados no Comércio de Passo Fundo e Região
Sindicato dos Empregados no Comércio de Santa Cruz e Região
Oposição à direção SINTRAMB – BAYEUX/PB
Sindicato dos Municipários de Santa Barbara do Sul
Sindicato Metabase Inconfidentes
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