Páginas

terça-feira, 19 de outubro de 2021

Unir a classe para combater o machismo. A categoria metalúrgica de SJC arranca licença remunerada para vítimas de violência doméstica no setor

 

O fechamento do acordo coletivo, este ano, da categoria metalúrgica de São José dos Campos foi marcado por uma conquista inédita e muito progressiva. A garantia de licença remunerada para trabalhadoras vítimas de violência doméstica. A lei Maria da Penha prevê o afastamento sem perda de vínculo por até seis meses, contudo não garante a remuneração.

Muitas mulheres se calam diante da violência sofrida, evitando se ausentar do trabalho ou retornando suas atividades antes de estarem bem, por não ter como se manter sem o salário.  Se considerarmos a realidade do Brasil que hoje conta com mais de 14 milhões de desempregados, uma inflação desenfreada que tem feito disparar a carestia e a insegurança alimentar ultrapassa 61% da população, essa medida significa uma mínima segurança para que as mulheres busquem sair dos ciclos de violência.

Cresce a violência machista e a negligência dos governos!

Não é de hoje que o Brasil tem números alarmantes de violência contra a mulher. Ocupamos a quinta posição no ranking internacional de países onde mais se matam mulheres, o primeiro lugar quando se tratam de casos de violência lgbtfóbica e mesmo sendo o segundo país mais negro fora da África, o racismo no país promove todo tipo de agressão e violação de direitos.

Com a chegada de Bolsonaro ao poder, o que era ruim ficou ainda pior. Seu discurso de ódio contra os setores oprimidos se tornou política consciente de desinvestimento e sucateamento dos serviços de suporte às vítimas de violência. Até setembro de 2020, o ministério da mulher, da família e dos direitos humanos, chefiado por Damares Alves, usou apenas metade do orçamento escasso da pasta, mesmo em um ano com muitas demandas devido à pandemia. Em 2021 houve corte de 25% dos valores destinados á política para mulheres.

João Dória, governador do estado de São Paulo, também tem histórico de corte nos serviços e orçamentos de politicas para as mulheres. Em 2017, mesmo com o crescimento de 31% nas denuncias de agressões, o governo cortou verba dos Centros de Defesa e Convivência da Mulher- CDCM, e vetou o projeto que previa o funcionamento 24horas das delegacias especializadas de mulheres.

Em 2020, devido à pandemia e a necessidade do isolamento social, quando muitas mulheres ficaram em casa com seus agressores, foram registradas 105 mil denuncias no disque 180 e disque 100. Diante de números alarmantes, a medida do governo federal foi disponibilizar um número de wathsapp para as mulheres denunciarem. Nenhuma ação que possibilitasse a essa mulher sair de casa e ficar em segurança com seus filhos, nenhuma medida que garantisse o distanciamento do agressor, nenhuma medida que preservasse a vida das mulheres foi tomada, a nível federal, estadual e local.

Unidade da classe para destruir o capitalismo e acabar com a opressão

A conquista arrancada pela categoria metalúrgica, entre tantas, evidencia duas importâncias. Por um lado desmascara o discurso da burguesia e suas instituições, como a ONU Mulher e diversas ONG’s, que promovem campanhas de combate a violência e a desigualdade de gênero, mas  no chão da fábrica e em todos os locais de trabalho os patrões fecham os olhos para a realidade das mulheres, seguem explorando a qualquer custo  e perseguem aquelas que precisam se afastar do local de trabalho.

A aprovação dessa cláusula não foi fácil, são anos de luta. Assim como não será fácil sua implementação. Muitas empresas ainda resistem em garantir a licença remunerada. Daí a importância de colocar para o conjunto dos trabalhadores, mulheres e homens, que essa batalha não é apenas feminina, mas uma tarefa da classe. Se os governos e patrões negligenciam as vidas das mulheres trabalhadoras, devemos nos unir e exigir os direitos mais elementares. Dessa forma, a categoria estará muito mais fortalecida para enfrentar qualquer ataque e garantir melhores condições de trabalho.

Nossos desafios são muitos. Sabemos que sob o capitalismo todas as nossas conquistas seguem constantemente ameaçadas e só podem ser satisfeitas parcialmente. Por isso, nossa comemoração é tão intensa quanto nossa certeza que devemos seguir lutando até por abaixo esse sistema que lucra com a nossa opressão e construirmos uma sociedade socialista, sem machismo, sem qualquer forma de opressão e exploração.   

ü  Basta de machismo! Basta de violência contra as mulheres!

ü  Sigamos o exemplo dos metalúrgicos de SJC!

ü  Licença remunerada do trabalho para vítimas de violência doméstica

ü  Aplicação e Ampliação da Lei Maria da Penha

ü  Não pagamento da dívida pública. Por mais investimentos em políticas para mulheres!

ü  Fora Bolsonaro e Mourão já! Damares não nos representa!

ü  Unidade da classe para por fim ao machismo e ao capitalismo!

 



quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Movimento Mulheres em Luta – ES repudia veto presidencial ao Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual

Também repudiamos a negativa em relação ao Projeto de Lei 165/2021 (de semelhante teor ao nacional), vetado pelo Governador Renato Casagrade (PSB/ES).

O Movimento Mulheres em Luta – MML/ES vem a público manifestar indignação ao veto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a artigos do Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual (14.214/21), considerando mais uma prática de reprodução da misoginia, do machismo e do controle sobre o corpo das meninas, das mulheres, das pessoas trans e não binárias que menstruam.

Instituído por projeto de lei aprovado por parlamentares na Câmara e no Senado, o Programa previa, além da inclusão de absorventes higiênicos nas cestas básicas entregues no âmbito do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), a distribuição gratuita desse item para estudantes socialmente vulneráveis dos ensinos fundamental e médio, mulheres em situação de rua e de encarceramento ou em cumprimento de medidas socioeducativas.

Trata-se, portanto, de uma medida fundamental, de acesso ao direito de existir, considerando que a menstruação é condição de cerca de 30% das mulheres e corpos que menstruam, ou seja, 60 milhões de brasileiras. O Estado, diante da desigualdade estabelecida e pouco enfrentada, tem o dever de criar mecanismos de atendimento, como compromisso público de defesa dos direitos humanos. Em pleno século XXI, corpos que sangram chegam a utilizar miolo de pão e até jornais no período menstrual, por exemplo, por ausência de itens básicos de higiene.

Agindo na contramão das demandas de meninas, mulheres, pessoas trans e pessoas não binárias que menstruam, também vetou projeto similar ao nacional o governador Renato Casagrande (PSB). Conforme a proposta do deputado estadual Rafael Favatto (Patriota), seria feita distribuição de absorventes em escolas públicas. Aprovada em regime de urgência na Assembleia Legislativa, o Projeto de Lei Lei 165/2021 foi vetado pelo governador, que tentou justificar a ação afirmando, conforme circulou no Jornal Século Diário (08/10/2021) que, baseado no entendimento da Procuradoria Geral do Estado (PGE), a proposta assumia uma competência privativa do governo do Estado, interferindo na execução dos serviços prestados pelas escolas públicas, ao elevar seus custos cotidianos.

O projeto também recebeu negativa do Secretário de Estado da Educação (Sedu), Vitor de Angelo, que alegou não ter dados indicativos que correlacionassem o período menstrual à evasão escolar. Apesar da justificativa apresentada pelo secretário, esses dados já existem.  Conforme informações da Organização das Nações Unidas (ONU), no Brasil, 62% das meninas entre 12 e 19 anos deixaram de ir à aula alguma vez por não ter absorventes.

Assim, a evasão escolar de adolescentes em período menstrual é um importante sinal de que o tema deve ter notoriedade pública e estar presente nos debates governamentais.  Dados do relatório Livre para Menstruar mostram que 20% das adolescentes não possuem água tratada em casa e 200 mil estudam em escolas com banheiros sem condições de uso, o que torna ainda mais difícil o manejo da higiene menstrual.

Por esses e tantos outros motivos que cerceiam nossos corpos na sociedade capitalista é que nós, do Movimento Mulheres em Luta – ES, não nos refutamos deste debate e exigimos que medidas intransigentes como essas que ferem os direitos sociais e humanos, sejam denunciadas e duramente rebatidas. Destacamos ainda argumentos de falta de designação de fonte de custeio ou de questões tecnicistas, apontadas como justificativas do veto seja presidencial ou estadual, que evidenciam a ausência de implicação com relação ao direito das mulheres e pessoas que menstruam, mais uma nítida expressão do quanto a misoginia está presente na sociedade brasileira.

O governo Bolsonaro age, novamente, de maneira inescrupulosa. Ameaça retirar verba da saúde e educação caso o veto seja derrubado e, sentindo os efeitos negativos de suas declarações, diz que vai responder as demandas das mulheres, mas com responsabilidade fiscal. Como se ele tivesse alguma responsabilidade com o país, como se não tivéssemos conhecimento das rachadinhas e superfaturamento com a compra de vacinas.  

Reforçamos a necessidade de nos mobilizarmos pela derrubada do veto presidencial bem como estadual, trazendo o debate para o necessário enfrentamento do racismo, do sexismo e da desigualdade social, que marcam a vida de mulheres e pessoas que menstruam. Bolsonaro e Casagrande não poderão decidir sobre nossos corpos! Por esse e outros motivos lutamos pelas condições de saúde e de vida e nos somamos a outros movimentos sociais, coletivos e entidades, para reivindicar que a pauta seja atendida e que o Estado brasileiro e o estado do Espírito Santo se responsabilizem por condições mínimas de saúde, de sobrevivência e de existência de meninas, mulheres e pessoas que menstruam.

Ressaltamos, uma vez mais, que dignidade menstrual é questão de saúde pública e coletiva! Por isso, exigimos dignidade para aos nossos corpos e pelo direito de menstruar de forma digna já!