Também repudiamos a negativa em relação ao Projeto de Lei 165/2021 (de semelhante teor ao nacional), vetado pelo Governador Renato Casagrade (PSB/ES).
O
Movimento Mulheres em Luta – MML/ES vem a público manifestar indignação ao veto
do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a artigos do Programa de Proteção e
Promoção da Saúde Menstrual (14.214/21), considerando mais uma prática de
reprodução da misoginia, do machismo e do controle sobre o
corpo das meninas, das mulheres, das pessoas trans e não binárias que
menstruam.
Instituído
por projeto de lei aprovado por parlamentares na Câmara e no Senado, o Programa
previa, além da inclusão de absorventes higiênicos nas cestas básicas entregues
no âmbito do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), a
distribuição gratuita desse item para estudantes socialmente vulneráveis dos ensinos
fundamental e médio, mulheres em situação de rua e de encarceramento ou em
cumprimento de medidas socioeducativas.
Trata-se,
portanto, de uma medida fundamental, de acesso ao direito de existir,
considerando que a menstruação é condição de cerca de 30%
das mulheres e corpos que menstruam, ou seja, 60 milhões de brasileiras. O Estado, diante da desigualdade estabelecida e
pouco enfrentada, tem o dever de criar mecanismos de atendimento, como
compromisso público de defesa dos direitos humanos. Em pleno século XXI, corpos
que sangram chegam a utilizar miolo de pão e até jornais no período menstrual,
por exemplo, por ausência de itens básicos de higiene.
Agindo
na contramão das demandas de meninas, mulheres, pessoas trans e pessoas não
binárias que menstruam, também vetou projeto similar ao nacional o governador
Renato Casagrande (PSB). Conforme a proposta do deputado estadual Rafael
Favatto (Patriota), seria feita distribuição de absorventes em escolas
públicas. Aprovada em regime de urgência na Assembleia Legislativa, o Projeto
de Lei Lei 165/2021 foi vetado pelo governador, que tentou justificar a
ação afirmando, conforme circulou no Jornal Século Diário (08/10/2021) que,
baseado no entendimento da Procuradoria Geral do Estado (PGE), a proposta
assumia uma competência privativa do governo do Estado, interferindo na
execução dos serviços prestados pelas escolas públicas, ao elevar seus custos
cotidianos.
O
projeto também recebeu negativa do Secretário de Estado da Educação (Sedu),
Vitor de Angelo, que alegou não ter dados indicativos que correlacionassem o
período menstrual à evasão escolar. Apesar da justificativa apresentada pelo
secretário, esses dados já existem.
Conforme informações da Organização das Nações Unidas (ONU), no Brasil,
62% das meninas entre 12 e 19 anos deixaram de ir à aula alguma vez por não ter
absorventes.
Assim,
a evasão escolar de adolescentes em período menstrual é um importante sinal de
que o tema deve ter notoriedade pública e estar presente nos debates
governamentais. Dados do relatório Livre para Menstruar mostram que 20% das
adolescentes não possuem água tratada em casa e 200 mil estudam em escolas com
banheiros sem condições de uso, o que torna ainda mais difícil o manejo da
higiene menstrual.
Por
esses e tantos outros motivos que cerceiam nossos corpos na sociedade
capitalista é que nós, do Movimento Mulheres em Luta – ES, não nos refutamos
deste debate e exigimos que medidas intransigentes como essas que ferem os
direitos sociais e humanos, sejam denunciadas e duramente rebatidas. Destacamos
ainda argumentos de falta de designação de fonte de custeio ou de questões
tecnicistas, apontadas como justificativas do veto seja presidencial ou
estadual, que evidenciam a ausência de implicação com relação ao direito das
mulheres e pessoas que menstruam, mais uma nítida expressão do quanto a
misoginia está presente na sociedade brasileira.
O governo Bolsonaro age, novamente, de maneira inescrupulosa. Ameaça retirar verba da saúde e educação caso o veto seja derrubado e, sentindo os efeitos negativos de suas declarações, diz que vai responder as demandas das mulheres, mas com responsabilidade fiscal. Como se ele tivesse alguma responsabilidade com o país, como se não tivéssemos conhecimento das rachadinhas e superfaturamento com a compra de vacinas.
Reforçamos
a necessidade de nos mobilizarmos pela derrubada do veto presidencial bem como
estadual, trazendo o debate para o necessário enfrentamento do racismo, do
sexismo e da desigualdade social, que marcam a vida de mulheres e pessoas que
menstruam. Bolsonaro e Casagrande não poderão decidir sobre nossos corpos! Por
esse e outros motivos lutamos pelas condições de saúde e de vida e nos somamos
a outros movimentos sociais, coletivos e entidades, para reivindicar que a
pauta seja atendida e que o Estado brasileiro e o estado do Espírito Santo se
responsabilizem por condições mínimas de saúde, de sobrevivência e de
existência de meninas, mulheres e pessoas que menstruam.
Ressaltamos, uma vez mais, que dignidade
menstrual é questão de saúde pública e coletiva! Por isso, exigimos dignidade
para aos nossos corpos e pelo direito de menstruar de forma digna já!
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