terça-feira, 30 de agosto de 2011

O caso Dominique Strauss-Kahn revela o papel da Justiça na luta contra a violência às mulheres.

Por Renata de Lima Conde
Movimento Mulheres em Luta/São Paulo




Milhares de mulheres vem se manifestando em todo o mundo contra a violência sexual e contra os estupros, através da Marcha das Vadias, que explodiu a partir do argumento machista de um policial canadense que disse que os estupros que estavam ocorrendo eram culpa das mulheres que se vestem como “vadias”. No último final de semana, foi a vez de Belém do Pará fazer sua manifestação. Enquanto isso, o ex-diretor do FMI Dominique Strauss-Kahn (DSK) achou na Justiça um importante aliado para inocentá-lo da acusação de estupro da camareira Nafissatou Diallo.

Esta foi corajosa e denunciou o caso em 14 de maio de 2011. DSK ainda era diretor do FMI, mas saiu do cargo em 18 de maio de 2011, antes de seu julgamento. Em 15 de maio de 2011 foi detido provisoriamente nos Estados Unidos. Foi solto na última terça-feira. Os advogados de Dominique conseguiram que a justiça o considerasse inocente, afirmando que houve uma “breve relação sexual entre os dois, mas não há como provar se foi forçada ou não” (jornal Metrô, 29 de agosto de 2011) e ainda avisaram que estão pensando em processar Nafissatou por ter feito a denúncia.

Strauss-Kahn é homem, branco, francês. Foi deputado e era um possível candidato à presidência da França em 2012. Nafissatou é guineana, latino-americana e camareira.

Ela avisou que não irá retirar a denúncia, reafirma a agressão. Nós estamos com ela. Se uma mulher afirma que foi agredida, é com ela que estamos. A justiça e peritos, infelizmente, estão comprometidos com uma classe social que se utiliza da opressão para continuar dominando.

A grande mídia afirmou durante todo esse período que Nafissatou apenas queria “tirar dinheiro” de DSK. Grande parte das notícias afirmavam inclusive que era uma prostituta. “O jornal The New York Post - que cita como fonte de sua versão somente 'uma pessoa próxima à investigação pela defesa', afirmou neste sábado que 'a mulher fazia trabalhos duplos como prostituta, cobrando em dinheiro por seus serviços aos hóspedes masculinos'. 'Há informações de que ela recebia gorjetas extraordinárias, se é que você me entende. E não era para trazer as malditas toalhas', disse o suposto informante não-identificado.” O nome da resportagem que inclui esta citação é:  “Strauss-Kahn: camareira queria lucrar com denúncia, dizem jornais”
(http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5218454-EI8142,00-StraussKahn+camareira+queria+lucrar+com+denuncia+dizem+jornais.html)

É importante notar que o machismo do nosso cotidiano cria uma permissividade para a violência, o machismo mais grave. A prostituição é um reflexo dessa opressão, que expõe a mulher à condição de mercadoria. Nessa condição a humanidade da mulher lhe é retirada. E a mídia e os advogados de DSK se apropriaram disso para dizer que Nafissatou é prostituta. Não existem provas desse trabalho de Nafissatou. Mas, ainda que ela fosse uma prostituta ela tem o direito sobre seu próprio corpo e pode se recusar a fazer sexo com alguém. O fato de ela ser prostituta não ameniza o fato de ela ter sido estuprada.

A nós não interessa sua profissão, sua moral, suas intenções financeiras. O fato é que os advogados de DSK e a grande mídia utilizaram de argumentos machistas para tirar a culpa de DSK, desmoralizando Nafissatou. Em nenhum momento se questionou a moral do homem que estuprou. Somente a da mulher que acusou.
“O juiz Michael Obus retirou na terça-feira as sete acusações formuladas contra DSK ao aceitar a recomendação do promotor de Manhattan, Cyrus Vance, que reconheceu que seu escritório seria incapaz de provar as acusações, 'além de toda dúvida razoável' por problemas de credibilidade da camareira” (em: EFE - Agência EFE).

O que mais assusta em todo esse caso é justamente toda a utilização de argumentos machistas para derrotarem a opinião de uma mulher. E o pior: com o consentimento da justiça, que os aceita como fundamentados.

É um reflexo nítido e claro de como o machismo no cotidiano, cada piada e julgamento das mulheres pautado nesses valores está permitindo que uma mulher seja agredida. Não aceitaremos nenhuma forma de machismo! Somos solidárias a toda mulher que enfrenta um homem!

Esse caso chega aqui no Brasil por linhas tortas e retas. Primeiramente, é bom lembrar que o FMI é o Fundo Monetário Internacional, que elabora os planos que atacam os trabalhadores no mundo todo. Este órgão submete toda a política que o governo Dilma aplica em nosso país. É um agente do imperialismo. Não é coincidência que um diretor seu seja protagonista de um estupro. O FMI nunca elaborou um programa contra a violência às mulheres e inclusive se utiliza disso para aprofundar a exploração da classe trabalhadora. Os salários das mulheres são mais baixos e seus empregos mais precarizados. Além disso, o machismo coloca homens trabalhadores contra mulheres trabalhadoras, o que enfraquece a luta contra a exploração.

Portanto, é preciso avançar na unidade entre homens e mulheres trabalhadores e trabalhadoras na luta contra toda a forma de opressão e exploração. É preciso fortalecer as mulheres para serem grandes lutadoras. Para isso, não aceitaremos nenhuma forma de machismo e nos solidarizaremos com todas às mulheres vítimas desse abuso!

Pelo fim da violência contra as mulheres!
Chega de abuso sexual!
Chega de estupro!

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