segunda-feira, 25 de julho de 2016

Aquilombar o MML para unificar as mulheres trabalhadoras! Fora Temer fora todos que nos oprimem e exploram

# “Mulheres Pretas têm história” - Manifesto aprovado no encerramento do 1º Seminário Nacional de Mulheres Negras do MML



Nós, mulheres trabalhadoras negras e não negras, indígenas, quilombolas, camponesas, trans, lésbicas, bissexuais, haitianas, africanas, cubanas e brasileiras estivemos presentes ao I seminário de mulheres negras do MML, com o objetivo de discutir a relação de gênero, raça e classe, resgatando a história de luta e resistência das mulheres negras.
O Seminário foi realizado nos dias 23 e 24 de julho, organizado pelo Movimento Mulheres em Luta, Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe e setoriais da CSP-Conlutas, e contou com a presença de 400 trabalhadoras que reafirmaram: “As Mulheres Pretas têm História. E fazem História”.
Não por coincidência, o seminário se realizou no mês das pretas, em que comemoramos o dia internacional latino-americano e caribenho da mulher negra e o dia da mulher africana, num momento em que há um ascenso das lutas negras em todo o mundo.
A luta classista deve necessariamente ter um recorte de gênero e raça, pois se é verdade que o machismo é um inimigo mortal das mulheres trabalhadoras, também é verdade que no caso específico das mulheres negras, o machismo aliado ao Racismo age violentamente, faz com que suas identidades sejam negadas, furtadas e violadas pelo sistema.
Lutar contra o racismo e derrotar a visão de um movimento de mulheres embranquecido são condições para unificar as trabalhadoras e construir um movimento de mulheres realmente classista e socialista.
Um ponto de acúmulo do debate foi a especificidade da mulher negra. Isso significou debater o que é ser negra: é o reconhecimento da discriminação carregada de sentido, que vai desde o corpo, a cor da pele e o afastamento de seu território de origem. As mulheres negras são as únicas que, antes mesmo de serem identificadas como mulheres, são estigmatizadas pela cor da pele, o que faz com que sejam desumanizadas. Seu corpo é transformado em objeto hipersexualizado. Identidade que lhe foi roubada pela dispersão da diáspora, pela escravidão e pelo submetimento de povos inteiros para favorecer a exploração capitalista.
No Brasil, as mulheres negras seqüestradas de seus territórios foram imediatamente submetidas à exploração do modo escravista, elas estão fortemente marcadas por centenas de anos de submissão à tortura, ao trabalho forçado, a constantes estupros, à “coisificação”, enfim, desumanização e violação de direitos humanos e sociais.
A resistência é uma marca das mulheres negras. A história demonstra que, desde o início da colonização, nós lutamos contra o sistema opressor capitalista. Nossas lutas se dão na organização de fugas, na construção de quilombos, em movimentos emancipatórios etc. À frente dos quilombos, estiveram lideranças como Aqualtune, Teresa de Quariterê, Dandara, Luisa Mahin. A raiz disso está na nossa ancestralidade Africana onde as mulheres exerciam o poder na organização social política e religiosa, eram rainhas, sacerdotisas e guerreiras.
Resgatando essa história, o Seminário reafirmou a importância de pensar a realização da identidade da mulher negra de modo coletivo em conjunto com a classe trabalhadora em contraposição às saídas capitalistas de empoderamento individual, que não têm servido aos interesses históricos e imediatos da classe trabalhadoras. Por exemplo, o presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama, não impediu as inúmeras mortes racistas em Baltimore. Não basta ser negro, tem que defender a classe trabalhadora.
No Brasil há um racismo institucionalizado e não há políticas de ação afirmativa consequentes. O governo Dilma (PT), que apoiou os banqueiros, os patrões e o agronegócio contra nossas quilombolas e indígenas, não respondeu às demandas sociais das mulheres negras, que continuam na base da pirâmide social, são as principais vítimas de violência doméstica, sexual, econômica e psicológica.  E o que temos pela frente com este governo provisório de Temer é um aprofundamento ainda maior contra a classe trabalhadora negra e pobre deste país. Um dos maiores crimes contra o povo negro foi a ocupação militar no Haiti, que começou com PT e continua com Temer.
Para as mulheres negras a combinação do machismo com o racismo representa, entre outras coisas, um aumento nos índices de violência, de estupro e assassinatos, como expressou o mapa da violência contra a mulher. Enquanto os casos de violência à mulher negra aumentaram 54%, entre as mulheres brancas diminuiu 10%. Por isso afirmamos que a cultura do estupro é resquício da escravidão e manutenção da cultura da classe dominante. O Brasil também é o país com maior número de assassinatos LGBTs e, dentro dessa estatística, também estão as mulheres negras.
Apesar dos trágicos números, há uma resistência no país contra os ataques do governo e ela é fortemente negra, feminina e LGBT. As greves da educação, as ocupações de escola, as lutas quilombolas e as greves operárias, as lutas contra a lgbtfobia, contra a cultura do estupro, contra a violência policial têm sido expressão da ação dos trabalhadores em luta contra os ataques. Ao mesmo tempo, os governos respondem contra-atacando com medidas duras de ajuste fiscal e controle da classe, como por exemplo a proposta de reforma da previdência por um lado e por outro o projeto da escola sem partido, que busca calar e criminalizar profissionais da educação e estudantes, além da lei antiterror, que visa criminalizar os lutadores.
As mulheres negras trabalhadoras e de luta não cederam e não cederão à casa grande e nem aos capatazes. Por isso o seminário expressou um grande sentimento contra o volta Dilma, pois ela não representou os interesses das mulheres negras trabalhadoras. Estamos pelo “Fora Temer e Fora Todos que oprimem e exploram a classe trabalhadora”.
Defendemos a construção de uma grande greve geral, em defesa dos interesses das mulheres negras e trabalhadoras, por eleições gerais com novas regras e um amplo processo de aquilombamento das lutas e da resistência.
Esse manifesto é pequeno para o tamanho das nossas ideias e para nossos desafios. Apenas começamos.  A próxima tarefa é compilar todas as propostas que surgiram nos riquíssimos grupos de debate. Vamos enegrecer o MML fazendo um amplo debate nas suas instâncias e em cada local onde nos organizamos para estabelecer um forte programa para atuar nas lutas das mulheres trabalhadoras.
Somos mulheres pretas construindo história!






Campanha Nacional contra a violência à mulher trabalhadora

Campanha Nacional contra a violência à mulher trabalhadora

Chega da violência contra as mulheres!

Chega da violência contra as mulheres!