sábado, 25 de fevereiro de 2017

NOTA SOBRE A CONSTRUÇÃO DO 8 DE MARÇO EM SP

O 8 de março de São Paulo conta sempre com uma das maiores manifestações de mulheres do país. E, neste ano, somado à luta contra a Reforma da Previdência e Trabalhista, que paralisará no dia 8 às professoras estaduais e municipais, e ao chamado à Greve Internacional de Mulheres feito pelas “Mulheres Contra Trump” dos Estados Unidos e o “Ni Una Menos” da Argentina, tende a ser um dos maiores da história e uma grande alavanca para uma construir a Greve Geral contra as Reformas de Temer em 15/03.

Mas, mais uma vez, o dia de luta das mulheres está sendo transformado em agenda de defesa dos ex-governos do PT e colocado à serviço de interesses eleitorais, em detrimento da unidade contra a reforma da previdência e a violência machista que nos vitima. Ao buscar transformar o ato numa manifestação contra o golpe, esses setores impõem a ruptura, da mesma foram como fizeram no ano passado. Somos pelo Fora Temer, também somos oposição frontal ao PSDB de Dória, mas não queremos que o PT volte. Defendemos uma saída independente dos trabalhadores e trabalhadoras. Aceitar as opiniões divergentes e respeitar as diferenças é o mínimo para quem ambiciona defender a democracia, que neste caso passou longe.
Foi o que vimos na última reunião preparatória do ato. Pois, ao defendermos posições independentes fomos insultadas, tivemos nossas falas interrompidas aos gritos e apresentou-se um encaminhamento de que não tivéssemos direito a fala no ato, caso não assinássemos o manifesto ali proposto. Nada mais incoerente para um setor que diz lutar contra um golpe, tamanho o cerceamento da democracia. Qual o medo que apresentemos nossas posições ao conjunto das mulheres trabalhadoras e jovens que estarão na manifestação do 8 de Março?  

A manifestação do Dia Internacional de luta das mulheres não pertence a nenhuma organização particular, é muito mais ampla do que qualquer posição política, principalmente nesse ano em que as mulheres a nível internacional convocam uma greve e que demonstram todo seu potencial de ser a vanguarda numa forte mobilização da classe trabalhadora. A partir desse entendimento, deliberamos que não assinaríamos o manifesto, mas que seguiríamos construindo o ato. 
Tal situação já aconteceu em outras ocasiões. Quando Dilma foi eleita, por exemplo, e todo o movimento feminista bradava que tínhamos tido uma vitória, nós defendemos que com o programa apresentado por ela e sua postura omissa frente a temas centrais para a nossa luta, como a legalização do aborto, essa vitória não estava colocada, que era preciso manter a independência do movimento e organizar as mulheres para seguirem lutando por suas pautas históricas. Não assinamos o manifesto conjunto naquele ano, mas convocamos o ato e fortalecemos a mobilização. Hoje é possível comprovar que tínhamos razão e que Dilma nunca representou as mulheres trabalhadoras, pelo contrário, com as medidas provisórias 664 e 665 de 2015 atacou-nos ao dificultar nosso acesso a benefícios como seguro desemprego, pensão por morte e licença saúde, e foi ainda durante seu governo que começou a ser gestada as Reformas da Previdência e Trabalhista o que seu vice, Temer, quer impor agora. Portanto não era tarefa nossa defendê-la. 
Essa é a tradição do movimento dos trabalhadores: forte unidade na ação para derrotar ataques, total liberdade para defender suas posições. 
Porque não fortalecer o ato de mulheres? 
Uma das discussões feitas desde a segunda reunião foi o local de concentração do ato. Aqui, mais uma vez perguntamos: qual o medo de fortalecer o ato de mulheres? Os setores da frente popular, a Frente Povo Sem Medo (PT, PCdoB, PSOL, CUT, UNE, Marcha Mundial de Mulheres, MST) propõem uma concentração na Praça da Sé, quando na Paulista acontecerá duas assembleias da educação, uma estadual e outra municipal, sendo essas duas categorias majoritariamente femininas e que deliberaram por paralisar suas atividades nesta data. Estarão nas ruas e podem marchar conosco, mas esses setores querem encontrá-las apenas no final da manifestação, na Praça da República. 
Afirmam que essa posição é pra garantir o protagonismo das mulheres, a visibilidade do ato e a pauta feminista. Nós perguntamos: por acaso as mulheres da Educação não são expressão desse protagonismo? Não contribuiria para a visibilidade do ato do 8 de Março a presença de uma coluna de milhares de educadoras? Que tipo de feminismo se busca construir e que não aglutina a pauta de uma categoria de trabalhadoras? Pensamos que não há nenhuma contradição entre os interesses do ato do 8 de Março e a luta das educadoras, pelo contrário, essas mulheres, que têm sido incansáveis como parte de uma categoria organizada que enfrenta quotidianamente aos governos e seus ataques, são as mesmas mulheres que no dia à dia, enfrentam o machismo e a violência dessa sociedade e é por isso que defendemos que não cabe aos setores que estão organizando o ato, dividir as mulheres entre as que lutam por seus interesses como mulheres e as que lutam por seus interesses como trabalhadoras. 
Tampouco estamos de acordo que o coletivo de mulheres que está construindo o ato deva abrir mão de sua direção e visibilidade, não estamos propondo entregar nas mãos da Apeoesp ou Sinpeem a condução de nossa manifestação, mas privilegiar a unidade com a base dessas entidades. Outros coletivos expressaram acordo com essa proposta e foram tão maltratados quanto nós nesse debate. 
Não rompemos a construção do 8 de Março, pelo contrário, estamos por manifestações fortes, independentes de todos os governos e democráticas

Depois de suportarmos todo tipo de provocação, ainda fomos acusadas de divisionistas ao levantaram um balanço do ato do ano passado, onde negaram as agressões que nossas companheiras sofreram embaixo do carro de som quando em cima defendíamos nossas posições de não alinhamento ao Governo Dilma. À época já tinham negado, o diferencial dessa vez foi o silêncio conivente de um setor que naquele momento ajudou a denunciar os absurdos ocorridos. É lamentável que companheiras que foram alvos das agressões e que estavam no plenário tenham se mantido caladas, permitindo assim com que se falseasse a realidade. Sobretudo porque calar-se diante da opressão é fortalecer o opressor.

O motivo que levou à divisão do ato em são Paulo, no ano passado, é o mesmo que faz com que tentem nos separar esse ano: a defesa do PT acima das demandas das trabalhadoras. Ás vésperas do 8 de março de 2016, contrariando o que havia sido estabelecido pela comissão de organização, PT e PCdoB mudaram o caráter da mobilização das mulheres transformando-o em um ato pró-Dilma. 
Essa foi a nossa denúncia que nos rendeu agressões verbais e físicas, inclusive por parte de homens ligados à CUT e CTB, conforme imagens veiculadas em vários sites de notícias na época. 
Para evitar que o mesmo aconteça esse ano, tal setor encontrou uma solução fantástica: nos impedir de falar no ato. Para isso, resolveu que não haverá carro de som na manifestação e que a única fala, em forma de jogral, será a do manifesto que apresenta uma única analise da realidade e que parte da avaliação do governo Temer e Dória, como se nossos sofrimentos e problemas tivessem começado quando o vice da Dilma assumiu ou quando Haddad perdeu a Prefeitura de São Paulo. Querem passar uma borracha no fato de que os governos Lula e Dilma favoreceram aos banqueiros e empresários, não as mulheres e a classe trabalhadora; e que Haddad aprofundou a terceirização e privatização da educação infantil, sem cumprir a promessa de acabar com a falta de vagas, e reapresentou o projeto SAMPAPREV que aplica no funcionalismo da capital a mesma Reforma Previdenciária hoje aplicada por Temer.

Muitos setores acreditam que ao não ter um carro de som, o espaço fica mais democrático, mais igualitário. Porém, esse é o exemplo categórico de que não é bem assim, democrático é quando todos podem colocar sua opinião, em condições de que todos escutem e possam decidir se tem acordo ou não. Apesar das diferenças, setores do PT e PCdoB sempre defenderam suas posições em carros de som, mas neste ano, para calar nossa voz, apoiaram tira-lo. Consideramos isso um retrocesso.
Nós acreditamos na força e disposição de luta das mulheres. Acreditamos que esse 8 de Março vai entrar para a história como mais um momento de protagonismo das mulheres na luta de classes e que é tarefa de todas aquelas que lutam contra o machismo e o capitalismo fortalecer esse momento. Esse é o nosso compromisso, é o nosso objetivo. Fazemos um chamado a todas mulheres que acreditam que esse deve ser o centro de nossa intervenção a virem somar forças na construção de um 8 de março feminista, classista, internacionalista, democrático e independente de governos e patrões, para fortalecer a luta por uma Greve Geral que derrote Temer e suas reformas para retirar direitos e colocar em nossas costas a conta da crise.  

Viva o 8 de março e a luta da mulher trabalhadora! Viva a greve das mulheres e a solidariedade internacional! Fora Trump, Fora Temer, Fora Todos os que oprimem e exploram as mulheres! Greve Geral já!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Nem uma a menos, nenhum direito a menos. Porque as mulheres devem construir a greve geral?

Manifestação Nem uma a Menos, Brasil, 2016


Marcela Azevedo, da Executiva Nacional do MML

Fevereiro de 1917, 08 de Março em nosso calendário, Rússia, operárias têxteis e mulheres pobres iniciam uma grande mobilização cujo mote é a exigência de pão. O país vivia a miséria provocada pela 1ª guerra mundial e o levante das mulheres, em três dias, conduziu o país a uma greve geral que foi o estopim de uma revolução socialista vitoriosa. As mulheres participaram ativamente do processo revolucionário e conquistaram, nos primeiros anos da revolução, muito mais do que qualquer país capitalista ofereceu em toda a sua existência.

Julho de 1917, Brasil, acontece a 1ª greve geral no país. A maioria da classe operária é composta por imigrantes, dentre eles 67% são mulheres que atuam no setor têxtil. As reivindicações eram melhores salários, jornada de trabalho de oito horas, direito a férias, fim do trabalho infantil, proibição do trabalho noturno para as mulheres, aposentadoria e assistência médica. Nesse período as mulheres queixavam-se de serem espancadas pelos mestres de fiação. Não é de se espantar que elas tenham participado ativamente da greve, com métodos de radicalidade como expressa um jornal da época Uma multidão de garotos, afirmou o jornal O Estado de São Paulo, se entregou à todos os excessos, escolhendo para alvo de suas loucuras os carros elétricos (...) E o que é mais deplorável, é que um bando de mocinhas, infelizes operárias de fabricas, imitou os gestos da garotada, tomando conta de três elétricos no Largo da Sé”.

Greve Geral de 1917, Brasil

Outubro de 1975, Islândia, 90% das mulheres decidem parar suas atividades em defesa de direitos iguais. Negaram-se a cozinhar, cuidar da casa e dos filhos,  não foram aos locais de trabalho, juntaram-se em milhares nas manifestações. A greve teve repercussão massiva e colocou o país entre os que mais avançaram em direitos democráticos para as mulheres. O limite dessas conquistas foi ter ficado no marco da sociedade capitalista, mas não se pode negar a força da mobilização das mulheres.

Os fatos acima são apenas exemplos de como as mulheres construíram mobilizações centrais para fazer avançar a classe trabalhadora de conjunto e para garantir conquistas na luta contra o machismo e a exploração capitalista. O machismo como ideologia está colocado para as mulheres desde sociedades anteriores ao capitalismo, mas foi nesse sistema que se formou uma combinação perversa de opressão e exploração que faz com sejam elas o alvo de grande parte da crueldade da sociedade baseada no lucro.

A entrada das mulheres no mercado de trabalho se deu com a incorporação de toda a carga de preconceitos e argumentos para atestar sua inferioridade. Patrões e governos se aproveitaram para manter sob a responsabilidade feminina o cuidado quase que exclusivo dos filhos, da casa e dos idosos, deixando assim de gastar com a construção de creches, lavanderias, restaurantes públicos e nos locais de trabalho. Também se beneficiam ao pagar menores salários para as mulheres nas mesmas funções que homens, na imposição de uma jornada de trabalho mais extenuante e adoecedora.

Dentro e fora dos locais de trabalho se reforça a lógica da mulher como objeto sexual, que tem por objetivo satisfazer sempre aos desejos sexuais masculinos. Não é a toa que elas são as principais vítimas de assédio sexual, que os números de estupros crescem e que, cada vez mais, essa pratica é naturalizada nos meios de comunicação e na sociedade de modo geral.

O aprofundamento da crise econômica escancara a condição das mulheres

Muitos anos se passaram desde que as mulheres começaram a exigir direitos iguais dentro do capitalismo, e assim como para o conjunto dos trabalhadores, em alguns momentos elas também foram alvo de políticas que acenavam com progresso. Contudo, todas essas conquistas ruem feito terra no primeiro tremor na base dos lucros dos empresários.

É o que estamos observando acontecer frente ao aprofundamento da crise econômica mundial. A Organização Internacional do Trabalho- OIT- apresentou relatórios cujo conteúdo aponta que desde o início dessa crise, as mulheres vêm sendo as mais afetadas com o desemprego. Entre 2002 e 2007, antes da crise, a diferença na taxa de desemprego mundial entre mulheres e homens era de 0,5 pontos percentuais, no período seguinte 2009-20012 aumentou para 0,7%.

Nesse período vimos aumentar os dados de prostituição de mulheres na Europa, principalmente entre as imigrantes. Houve ainda setores que defenderam a volta das mulheres ao lar para garantir emprego aos homens.  Uma pesquisa feita pelas organizações Plan International e Overseas development institute aponta que o encolhimento econômico mundial aumentou a mortalidade infantil de meninas e levou mais mulheres a sofrerem abusos e a passar fome. A pesquisa afirma que a proporção de meninas que morreram desde o início da crise global aumentou cinco vezes mais rapidamente que a proporção de mortes de meninos.

Nos Estados Unidos, onde explodiram mobilizações impulsionadas pelo chamado das mulheres, contra a política opressora de Donald Trump, as mulheres já vêm sofrendo ataques em seus direitos há muito tempo. O último informe do comitê econômico do congresso norte americano (Abril, 2016) aponta que as trabalhadoras desse país recebem apenas 79% do salário dos homens, desde 2007. Para as mulheres negras e latinas a situação é bem pior, pois elas recebem respectivamente, 60% e 55%, da renda dos homens. O que torna a lei de salário igual, aprovada no país em 1963, sem efeito para grande parcela da população.

Outra lei que está no papel, mas que não representa garantias às mulheres, é o acesso ao aborto legal e seguro. Desde que foi aprovada, em 1973, outras 1.074 leis que visam limitar o acesso ao aborto foram aprovadas nos estados, 334 dessas restrições se deram a partir de 2010. Ou seja, republicanos e democratas, tem unidade quando se trata de atacar os direitos reprodutivos e trabalhistas das mulheres. Por isso, a maioria das mulheres negras não compareceu as urnas na ultima eleição, porque tinham noção do estrago que Trump faria, mas também não se sentiam representadas pela democrata que faz parte do 1% mais rico do mundo, Hillarry Clinton.

No Brasil, o aprofundamento da crise econômica tem deixado as condições de vida femininas ainda mais precárias. A taxa de desemprego entre as mulheres é de 12,7%, enquanto que para os homens é de 9,5%. Essa diferença corresponde a 33,6% de índice de desemprego. Em 2015, Vimos o país dar um salto no ranking internacional entre os países com maior número de assassinatos de mulheres, fomos da 7° para a 5º posição. Isso significa 13 mulheres assassinadas por dia. Essas vítimas tem cor e tem classe, pois 64% das mulheres mortas são negras e pobres. Uma pesquisa da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil- ANTRA-  afirma que a expectativa de vida dessas pessoas é de 35 anos, menos da metade da média geral que é de 79 anos. 

Se todos esses ataques já vinham se dando desde o governo do PT e na administração da primeira mulher presidente no país, na gestão Temer a tentativa é de aprofundar ainda mais a opressão e a exploração. O projeto de reforma da previdência e trabalhista vão impor derrotas significativas para as mulheres trabalhadoras que verão seu tempo de contribuição e idade mínima para aposentar aumentarem; perderão o benefício da aposentadoria especial no caso das educadoras, além de perderem o direito de acumular benefícios no caso das pensionistas.

Todos esses ataques, que ocorrem desde a Europa, Estados Unidos, passando pelo Brasil tem o objetivo de colocar nas costas dos trabalhadores, em especial os setores mais oprimidos e mais penalizados, o preço da crise econômica, ou seja, para garantir os lucros de empresários e banqueiros, a classe trabalhadora deve apertar ainda mais o cinto.  

Luta das mulheres: elas mostram o caminho da greve geral

Os planos da burguesia e seus governos daria muito certo se não houvesse um elemento central: a resistência impulsionada pelas mulheres, negros e negras, imigrantes, lgbt’s e desenvolvida por todos os trabalhadores. Em alguns embates se alcançou vitórias, em outros não. Mas o centro de avaliação é a disposição de luta que se expressa nesses setores. 

Na Argentina, as mulheres chamaram um dia de paralisação contra a violência machista, os homens apoiaram e vimos manifestações gigantes no país inteiro, com a solidariedade em diversos cantos do mundo. Na Polônia, as mulheres convocaram uma greve, vestiram-se de preto e foram paras as ruas protestar contra um projeto reacionário de criminalização do aborto. Na Índia, costureiras do setor têxtil impulsionaram uma greve geral no país contra mudanças na lei previdenciária. No Brasil, as mulheres tomaram as ruas em todas as capitais exigindo o “Fora Cunha” e contra a cultura do estupro e naturalização da violência contra a mulher.

Greve de mulheres na Polônia, 2016
Para além dessas manifestações, foram muitas greves, ocupações de escola, trancamento de estradas e mobilizações que aconteceram nos últimos anos, dos quais as mulheres foram presença certa. Tudo isso, da conta de evidenciar o poder que a luta das mulheres tem de ser estopim para grandes movimentações das massas, além disso é notória a capacidade de combinar as pautas mais específicas, sentidas na pele pelas mulheres, negras e lgbt’s com os ataques que acometem a classe trabalhadora de conjunto. Essas duas habilidades devem servir para romper a dispersão das lutas e conseguir organizar nossa resistência de forma certeira.

Esse caminho começa a se desenhar e aponta para a construção de um 8 de Março histórico. Pois, embaladas pelas grandes manifestações de mulheres que aconteceram em Janeiro, nos Estados Unidos e no mundo, e por todas as expressões de luta que já vem acontecendo no período anterior, há uma convocação para uma greve internacional de mulheres nesta data. Paralisações que demonstrem que as mulheres não vão aceitar “Nem uma a menos, nenhum direito a menos”, manifestações que questionam o chamado feminismo empresarial, que a partir da retórica do empoderamento, só beneficiou as mulheres ricas.

Mulheres contra Trump, Estados Unidos,2017

No Brasil, nós do Movimento Mulheres em Luta, assim como diversos coletivos feministas, fazemos um chamado a sermos parte dessa construção. Vamos fortalecer os atos de rua no Dia Internacional de Luta da mulher trabalhadora e vamos dar a batalha para realizar paralisações em nossos locais de trabalho, que possam colocar em evidência a violência cotidiana que sofremos, da sociedade e dos governos. Vamos também parar nossas atividades em casa e nos somarmos as atividades. 

É preciso que as mulheres trabalhadoras assumam seu lugar na construção da greve geral em nosso país, que junto com as centrais sindicais, mas também com os movimentos populares e de combate as opressões possam derrotar o governo Temer e todos aqueles que nos atacam, barrar as reformas da previdência e trabalhista, e exigir mais investimento nas políticas públicas de combate a violência machista. Não temos medo de desafios, que venha o 08 de março para iniciarmos um grande processo de mobilização no país. Motivos não faltam para pararmos tudo e invertermos a lógica vigente imposta pelos governos e empresários. 

NEM UMA A MENOS, NENHUM DIREITO A MENOS. GREVE GERAL JÁ CONTRA AS REFORMAS E A VIOLÊNCIA!
FORA TEMER, FORA TODOS QUE OPRIMEM E EXPLORAM AS MULHERES!











quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Plenária Nacional do MML organiza forte intervenção no 08 de Março

NENHUMA A MENOS. NENHUM DIRETO A MENOS! 
GREVE GERAL JÁ CONTRA AS REFORMAS E A VIOLÊNCIA!

No último sábado, 04 de fevereiro, mulheres de 11 estados e diversas categorias se reuniram em São Paulo para compartilhar as experiências de luta em suas cidades e organizar a participação do MML nas manifestações do 08 de Março- Dia Internacional de luta das mulheres. Além de membros da Executiva Nacional e Estaduais do MML, grupos organizadores locais do MML, participaram representantes da ANEL, Quilombo Raça e Classe, Quilombo Brasil, ANDES/SN, Sindconir/RJ, Sindpetro AL/SE, Sindunifess/PA, Sindscope/RJ, setorial lgbt da CSP Conlutas, SIMPERE/PE, Sindmetal/SJC, Sind. Construção civil/CE. 

Iniciamos a reunião a partir de uma avaliação do aprofundamento da crise econômica no Brasil, e da piora nas condições de vida da classe trabalhadora, principalmente refletida na vida das mulheres. Desemprego, violência, feminicídio, governos com política de ódio contra os setores oprimidos e corte nos orçamentos das políticas para esses setores. Os ricos e seus governos representantes seguem com a política de retirada de direitos justamente desses setores mais explorados entre os trabalhadores (mulheres, negros, lgbt’s, imigrantes,etc.).

Companheiras dos estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais que sofrem com a forte crise de orçamento relataram as dificuldades de atraso nos salários e como tem sido as manifestações que exigem os direitos dos trabalhadores.  

Outro tema importante que emocionou a todas presentes foi o relato de Conceição, mãe de uma filha Trans que impactou-se com o dado de que uma pessoa Trans tem expectativa de vida de 35 anos. Ela compartilhou com o plenário o preconceito e as dificuldades que enfrenta com a filha e disse ainda que sua participação no movimento também tem o objetivo de apoiar a luta LBT.

Esse e outros dados evidenciaram o aumento dos índices de violência contra as mulheres, sendo as negras as principais vítimas. Uma vez que elas correspondem a 64% das vítimas de assassinato por agressão no país.  

Contudo, elas também são, junto com as mulheres não negras, as principais protagonistas da resistência que a classe trabalhadora e a população pobre vêm mantendo, no último período. Manifestações como a marcha de mulheres contra Trump que levou 3 milhões de pessoas às ruas nos Estados Unidos e impulsionou marchas em mais de 50 países é só um dos exemplos de iniciativas de luta das mulheres.  

Também tiveram importância na conjuntura atual, as manifestações de “Ni Uma a Menos” na argentina que levou a 01 dia de paralisação nacional, a greve de mulheres na Polônia contra ataques ao direito ao aborto legal. A greve de operárias têxteis na Índia contra mudanças na previdência.  No Brasil, as mulheres estiveram a frente das ocupações de escola, das lutas por moradia, foram as primeiras a exigir o Fora cunha, denunciaram a cultura do estupro e a negligência dos governos, além de serem linha de frente nas greves de diversas categorias.

Maria Ivanir, diretora do Sindicato da Construção civil de Fortaleza, é uma dessas mulheres e afirma que esse ano vai para a mesa de negociação na campanha salarial exigir o salário igual para trabalho igual, negado as mulheres do setor.

  

Greve Internacional de mulheres deve impulsionar a greve geral no Brasil!

Frente a esse cenário, a construção do 08 de Março ganha um caráter internacional e se apresenta como um importante espaço de unidade das lutas das mulheres trabalhadoras e jovens. Intelectuais feministas como Angela Davis e Nancy Fraser, conhecidas pela defesa dos direitos civis e das mulheres nos Estados Unidos, lançaram um manifesto conclamando uma greve internacional de mulheres que combata o machismo e todas as formas de opressão, mas que também se coloque contra a política neoliberal de retirada de direitos e precarização das condições de vida dos trabalhadores.

No Brasil, essa política se expressa na reforma da previdência que vai impor para as mulheres, uma jornada de trabalho ainda mais extenuante, além de vários outros prejuízos. Além da retirada de verbas das políticas públicas que poderiam coibir a violência e o machismo. Contudo, não são medidas iniciadas de agora, mesmo no governo da primeira mulher presidente tivemos muitos ataques e retirada de direitos e para avançarmos em nossas conquistas é preciso não esquecer que Dilma nunca representou as mulheres trabalhadoras.

Por isso, como parte da construção dessa greve internacional der mulheres, devemos impulsionar também em nosso país a construção de uma greve geral, que derrote o governo Temer e barre suas reformas. Essas foram as tarefas que assumiram as mulheres presentes em nossa plenária nacional. Voltar para os Estados, organizar as mulheres pela base e construir importantes manifestações no 08 de Março que apontem a continuidade da luta e resistência.
Contamos com você para estar ao nosso lado!              

Veja todas as resoluções da plenária abaixo:

·         Participar das reuniões gerais de construção do 8/3, procurando construir a unidade entre as organizações, desde que não haja mudanças nas definições tomadas coletivamente quanto ao eixo, caráter e objetivo dos atos.
·         Nas cidades em que não haja reuniões amplas de construção do 8/3 que o MML possa impulsionar essa organização.
·         Construir atividades próprias do MML para envolver e preparar nossa base para as manifestações e aproveitar para explicar a reforma da previdência e o aprofundamento da violência, no intuito de ganhar as mulheres trabalhadoras para a necessidade de construção de uma greve geral no país, que possa derrotar o governo Temer e os ataques aos direitos da classe trabalhadora.
·         Utilizar o eixo “Nenhuma a menos, Nenhum direito a menos. Greve geral já contra as reformas e a violência”!.  Todas contra Trump!
·         Aproveitar a preparação do 8/3 para iniciar uma forte campanha contra a reforma da previdência e trabalhista, atuar em parceria com a CSP-Conlutas.
·         Nos Estados em que seja possível, realizar atividades sobre a resistência da mulher palestina e organizar uma coluna de mulheres imigrantes e refugiadas nos atos de 8/3.
·         Manter as intervenções do MML nos pré-carnavais denunciando o machismo e os ataques sofridos pelas mulheres.
·         Preparar um material nacional que não seja muito pesado e possa dialogar com o conjunto das mulheres trabalhadoras e jovens, atentando-se para a forma e atratividade do mesmo.
Outros encaminhamentos:
·         
  •       Desenvolver o tema da gordofobia e tirar políticas de combate a esse tipo de opressão;
  • ·    Desenvolver o tema das mulheres encarceradas e buscar intervir na defesa de seus direitos;
  • ·         Incorporar a luta das mulheres LBT’s dando visibilidade as suas pautas;
  • ·    Atentar para que os textos da CSP-Conlutas expressem as necessidades e a luta das mulheres
  • ·       Organizar, junto com o ANDES/SN, uma intervenção na CSP-Conlutas que dê destaque a luta contra o assédio moral e sexual nos locais de trabalho e ativismo. 
  • ·  Moções de apoio: à ocupação da creche da USP, aos trabalhadores em greve do Supermercado SETA e à ocupação Vila Itália (S José do Rio Preto) que corre risco de despejo.
  • ·         Convocar a reunião da executiva Nacional para final de março ou início de Abril.






quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

O que dória tem feito para piorar as condições de vida das mulheres em São Paulo?

O blog feminista "Arte de Mulher" entrevistou a companheira Marcela Azevedo sobre a avaliação do primeiro mês de mandato do prefeito de São paulo, João Dória/PSDB.

Veja quais pontos foram avaliados e como essas medidas iniciais já afetam negativamente a vida das mulheres trabalhadoras na capital.

Identifiquei oito ações da nova gestão nesse primeiro mês de atuação:
1) aumento da velocidade nas marginais;
2) aumento do valor da integração ônibus/metrô;
3) programa cidade linda/ programa calçada nova/ combate à pichação;
4) novo plano de educação para abrir 66 mil vagas em creches, através de: convênios com Organizações Sociais (OS), infraestrutura em agências bancárias, possíveis cortes no programa Leve Leite;
5) entrega do CCSP + 52 bibliotecas para OS;
6) converter as secretarias de políticas para mulheres e igualdade racial em coordenações da SMDH;
7) liberar a GCM para retirar pertences pessoais das pessoas em situação de rua;
8) fechar farmácias do SUS e distribuir medicamentos na rede particular.


1. Como você enxerga essas ações?

Todas essas medidas são parte de uma mesma política privatista e excludente e que tem por objetivo separar ricos e pobres, sendo que às trabalhadoras e trabalhadores o lugar reservado é a periferia da cidade, por exemplo, o aumento da integração de transporte afeta diretamente essa população que mora mais distante e que necessita de mais transportes coletivos para ter acesso à cidade.

Da mesma forma que o programa cidade limpa/ calçada nova e a retirada dos pertences das pessoas em situação de rua são medidas higienistas para valorizar o centro da cidade em especulação imobiliária e certamente não significará melhora na infra-estrutura das regiões periféricas. Além de desqualificar e desmoralizar a linguagem de resistência das periferias expressas nos grafites e pichações.
As parcerias com as OS’s são uma política de favorecimento do setor privado, com a perspectiva de garantir mudanças estruturais que possibilitem lucro a esses setores mesmo em um momento de crise, ou seja, mantendo nas costas dos trabalhadores essa conta. Sabemos que a maioria dessas instituições não tem nada de social, são empresas de fachada que tem seus impostos desonerados e são as primeiras a abandonar o barco quando deixam de ter retorno financeiro. Como aconteceu com uma creche na zona leste, no segundo semestre do ano passado, que fechou as portas deixando crianças, pais e funcionários na rua, sem nenhuma explicação ou alternativa.

2. Quais são os impactos dessas ações para as mulheres?

As mulheres, em especial as negras, são as principais afetadas, já que são a maioria entre a população pobre e que, por isso, tem maior demanda de políticas públicas. Medidas como a extinção das secretarias de política para mulheres e de igualdade racial que serão condensadas na secretaria de direitos humanos significam a piora na condição de vida dessas mulheres, já que sem orçamento próprio, as políticas para esse setor estão comprometidas. Ao mesmo tempo em que é criada uma secretaria para desestatização e parcerias, ou seja, para privatizar os já reduzidos serviços públicos que tem em são Paulo, dos quais as mulheres são as principais usuárias. Somos duplamente prejudicadas.

Em relação as creches, mantém-se a compreensão de que esse é um espaço de depósito para crianças, ou seja, pouco importa que a estrutura de uma agência bancária seja um espaço fechado, sem ventilação natural e sem espaço adequado para favorecer o desenvolvimento de habilidades fundamentais nessa fase da vida. O importante é dizer que está respondendo a uma das principais demandas das mulheres e garantir desvio de dinheiro público para o setor privado. Tal medida só vai aprofundar uma situação que já vem sendo desenvolvida em São Paulo desde governos anteriores, pois atualmente apenas 18% das creches da capital funcionam em prédios da prefeitura. Dória quer ir além e pretende fazer cortes na distribuição de material escolar, no transporte escolar e na distribuição de leites para crianças de 0 a 06 anos. O que vai impactar negativamente na educação infantil.

3. Fora do MML, há uma percepção de como as mulheres entendem essas ações?

Nem sempre há uma compreensão global do objetivo das medidas visto que o prefeito se aproveita das necessidades imediatas da população para impor um projeto político, como por exemplo, uma mãe que precisa de creche para poder trabalhar e deixar seu filho em segurança. Entretanto, ao se deparar com a qualidade dos serviços ou a falta dele, elas sentem o impacto direto em suas vidas, gerando uma contradição que faz com que elas sejam obrigadas a enfrentar o projeto como um todo, que não responde as sua necessidades e, a partir disso, vão ganhando consciência. Não por acaso, as mulheres estão a frente de diversas manifestações em São Paulo e no país, por direito a moradia, a saúde, educação, emprego e contra a violência machista.

Cabe aos movimentos ajudar a organizá-las e aprofundar essas experiências. O MML, a partir de uma compreensão classista da luta das mulheres, se dedica a essa tarefa e busca intervir nesses processos para apresentar ao conjunto das mulheres trabalhadoras um projeto de sociedade em que seja superada a opressão e exploração capitalista. 

Veja a matéria original no link:

http://artedemulher.com/language/pt/2017/02/mulheres-avaliam/

Campanha Nacional contra a violência à mulher trabalhadora

Campanha Nacional contra a violência à mulher trabalhadora

Chega da violência contra as mulheres!

Chega da violência contra as mulheres!