sábado, 25 de fevereiro de 2017

NOTA SOBRE A CONSTRUÇÃO DO 8 DE MARÇO EM SP

O 8 de março de São Paulo conta sempre com uma das maiores manifestações de mulheres do país. E, neste ano, somado à luta contra a Reforma da Previdência e Trabalhista, que paralisará no dia 8 às professoras estaduais e municipais, e ao chamado à Greve Internacional de Mulheres feito pelas “Mulheres Contra Trump” dos Estados Unidos e o “Ni Una Menos” da Argentina, tende a ser um dos maiores da história e uma grande alavanca para uma construir a Greve Geral contra as Reformas de Temer em 15/03.

Mas, mais uma vez, o dia de luta das mulheres está sendo transformado em agenda de defesa dos ex-governos do PT e colocado à serviço de interesses eleitorais, em detrimento da unidade contra a reforma da previdência e a violência machista que nos vitima. Ao buscar transformar o ato numa manifestação contra o golpe, esses setores impõem a ruptura, da mesma foram como fizeram no ano passado. Somos pelo Fora Temer, também somos oposição frontal ao PSDB de Dória, mas não queremos que o PT volte. Defendemos uma saída independente dos trabalhadores e trabalhadoras. Aceitar as opiniões divergentes e respeitar as diferenças é o mínimo para quem ambiciona defender a democracia, que neste caso passou longe.
Foi o que vimos na última reunião preparatória do ato. Pois, ao defendermos posições independentes fomos insultadas, tivemos nossas falas interrompidas aos gritos e apresentou-se um encaminhamento de que não tivéssemos direito a fala no ato, caso não assinássemos o manifesto ali proposto. Nada mais incoerente para um setor que diz lutar contra um golpe, tamanho o cerceamento da democracia. Qual o medo que apresentemos nossas posições ao conjunto das mulheres trabalhadoras e jovens que estarão na manifestação do 8 de Março?  

A manifestação do Dia Internacional de luta das mulheres não pertence a nenhuma organização particular, é muito mais ampla do que qualquer posição política, principalmente nesse ano em que as mulheres a nível internacional convocam uma greve e que demonstram todo seu potencial de ser a vanguarda numa forte mobilização da classe trabalhadora. A partir desse entendimento, deliberamos que não assinaríamos o manifesto, mas que seguiríamos construindo o ato. 
Tal situação já aconteceu em outras ocasiões. Quando Dilma foi eleita, por exemplo, e todo o movimento feminista bradava que tínhamos tido uma vitória, nós defendemos que com o programa apresentado por ela e sua postura omissa frente a temas centrais para a nossa luta, como a legalização do aborto, essa vitória não estava colocada, que era preciso manter a independência do movimento e organizar as mulheres para seguirem lutando por suas pautas históricas. Não assinamos o manifesto conjunto naquele ano, mas convocamos o ato e fortalecemos a mobilização. Hoje é possível comprovar que tínhamos razão e que Dilma nunca representou as mulheres trabalhadoras, pelo contrário, com as medidas provisórias 664 e 665 de 2015 atacou-nos ao dificultar nosso acesso a benefícios como seguro desemprego, pensão por morte e licença saúde, e foi ainda durante seu governo que começou a ser gestada as Reformas da Previdência e Trabalhista o que seu vice, Temer, quer impor agora. Portanto não era tarefa nossa defendê-la. 
Essa é a tradição do movimento dos trabalhadores: forte unidade na ação para derrotar ataques, total liberdade para defender suas posições. 
Porque não fortalecer o ato de mulheres? 
Uma das discussões feitas desde a segunda reunião foi o local de concentração do ato. Aqui, mais uma vez perguntamos: qual o medo de fortalecer o ato de mulheres? Os setores da frente popular, a Frente Povo Sem Medo (PT, PCdoB, PSOL, CUT, UNE, Marcha Mundial de Mulheres, MST) propõem uma concentração na Praça da Sé, quando na Paulista acontecerá duas assembleias da educação, uma estadual e outra municipal, sendo essas duas categorias majoritariamente femininas e que deliberaram por paralisar suas atividades nesta data. Estarão nas ruas e podem marchar conosco, mas esses setores querem encontrá-las apenas no final da manifestação, na Praça da República. 
Afirmam que essa posição é pra garantir o protagonismo das mulheres, a visibilidade do ato e a pauta feminista. Nós perguntamos: por acaso as mulheres da Educação não são expressão desse protagonismo? Não contribuiria para a visibilidade do ato do 8 de Março a presença de uma coluna de milhares de educadoras? Que tipo de feminismo se busca construir e que não aglutina a pauta de uma categoria de trabalhadoras? Pensamos que não há nenhuma contradição entre os interesses do ato do 8 de Março e a luta das educadoras, pelo contrário, essas mulheres, que têm sido incansáveis como parte de uma categoria organizada que enfrenta quotidianamente aos governos e seus ataques, são as mesmas mulheres que no dia à dia, enfrentam o machismo e a violência dessa sociedade e é por isso que defendemos que não cabe aos setores que estão organizando o ato, dividir as mulheres entre as que lutam por seus interesses como mulheres e as que lutam por seus interesses como trabalhadoras. 
Tampouco estamos de acordo que o coletivo de mulheres que está construindo o ato deva abrir mão de sua direção e visibilidade, não estamos propondo entregar nas mãos da Apeoesp ou Sinpeem a condução de nossa manifestação, mas privilegiar a unidade com a base dessas entidades. Outros coletivos expressaram acordo com essa proposta e foram tão maltratados quanto nós nesse debate. 
Não rompemos a construção do 8 de Março, pelo contrário, estamos por manifestações fortes, independentes de todos os governos e democráticas

Depois de suportarmos todo tipo de provocação, ainda fomos acusadas de divisionistas ao levantaram um balanço do ato do ano passado, onde negaram as agressões que nossas companheiras sofreram embaixo do carro de som quando em cima defendíamos nossas posições de não alinhamento ao Governo Dilma. À época já tinham negado, o diferencial dessa vez foi o silêncio conivente de um setor que naquele momento ajudou a denunciar os absurdos ocorridos. É lamentável que companheiras que foram alvos das agressões e que estavam no plenário tenham se mantido caladas, permitindo assim com que se falseasse a realidade. Sobretudo porque calar-se diante da opressão é fortalecer o opressor.

O motivo que levou à divisão do ato em são Paulo, no ano passado, é o mesmo que faz com que tentem nos separar esse ano: a defesa do PT acima das demandas das trabalhadoras. Ás vésperas do 8 de março de 2016, contrariando o que havia sido estabelecido pela comissão de organização, PT e PCdoB mudaram o caráter da mobilização das mulheres transformando-o em um ato pró-Dilma. 
Essa foi a nossa denúncia que nos rendeu agressões verbais e físicas, inclusive por parte de homens ligados à CUT e CTB, conforme imagens veiculadas em vários sites de notícias na época. 
Para evitar que o mesmo aconteça esse ano, tal setor encontrou uma solução fantástica: nos impedir de falar no ato. Para isso, resolveu que não haverá carro de som na manifestação e que a única fala, em forma de jogral, será a do manifesto que apresenta uma única analise da realidade e que parte da avaliação do governo Temer e Dória, como se nossos sofrimentos e problemas tivessem começado quando o vice da Dilma assumiu ou quando Haddad perdeu a Prefeitura de São Paulo. Querem passar uma borracha no fato de que os governos Lula e Dilma favoreceram aos banqueiros e empresários, não as mulheres e a classe trabalhadora; e que Haddad aprofundou a terceirização e privatização da educação infantil, sem cumprir a promessa de acabar com a falta de vagas, e reapresentou o projeto SAMPAPREV que aplica no funcionalismo da capital a mesma Reforma Previdenciária hoje aplicada por Temer.

Muitos setores acreditam que ao não ter um carro de som, o espaço fica mais democrático, mais igualitário. Porém, esse é o exemplo categórico de que não é bem assim, democrático é quando todos podem colocar sua opinião, em condições de que todos escutem e possam decidir se tem acordo ou não. Apesar das diferenças, setores do PT e PCdoB sempre defenderam suas posições em carros de som, mas neste ano, para calar nossa voz, apoiaram tira-lo. Consideramos isso um retrocesso.
Nós acreditamos na força e disposição de luta das mulheres. Acreditamos que esse 8 de Março vai entrar para a história como mais um momento de protagonismo das mulheres na luta de classes e que é tarefa de todas aquelas que lutam contra o machismo e o capitalismo fortalecer esse momento. Esse é o nosso compromisso, é o nosso objetivo. Fazemos um chamado a todas mulheres que acreditam que esse deve ser o centro de nossa intervenção a virem somar forças na construção de um 8 de março feminista, classista, internacionalista, democrático e independente de governos e patrões, para fortalecer a luta por uma Greve Geral que derrote Temer e suas reformas para retirar direitos e colocar em nossas costas a conta da crise.  

Viva o 8 de março e a luta da mulher trabalhadora! Viva a greve das mulheres e a solidariedade internacional! Fora Trump, Fora Temer, Fora Todos os que oprimem e exploram as mulheres! Greve Geral já!

Um comentário:

Campanha Nacional contra a violência à mulher trabalhadora

Campanha Nacional contra a violência à mulher trabalhadora

Chega da violência contra as mulheres!

Chega da violência contra as mulheres!