sexta-feira, 13 de maio de 2016

ENFERMAGEM: MULHER, TRABALHADORA EM RESISTÊNCIA À PRECARIZAÇÃO E DESVALORIZAÇÃO DE SEU TRABALHO.

Por Karine Rodrigues, enfermeira e ativista do MML DF


No dia 12 de maio comemoramos o dia internacional da enfermeira e dia 20 o dia da técnica de enfermagem. Durante esse período as trabalhadoras de enfermagem refletem sobre suas perspectivas profissionais, seu papel social, desafios a serem superados e conquistas a serem alcançadas.
Os principais questionamentos que pairam sobre as mentes e corações de todas as enfermeiras, seja ela estudante ou profissional já formado, seja na semana de enfermagem ou em qualquer período de sua vida são: Como alcançar a valorização profissional? Como conquistar as vitórias que a categoria necessita, como às 30h e o piso salarial? Essas duas perguntas tem diferentes respostas, a depender do interesse e de quem a responda.
Existem aqueles que afirmam que a enfermagem não consegue sua valorização por ser uma profissão desunida, majoritariamente feminina, por tanto, baseada em intrigas e inveja, o que nos enfraquece. Outros afirmam que somos apolíticos, não sabemos articular com deputados, ministros e senadores para conseguir nossas vitórias.
Essas duas principais opiniões que polarizam a enfermagem estão completamente equivocadas e são construídas por seres externos à profissão e que durante muito tempo tem contaminado o pensamento de enfermeiras e técnicas de enfermagem, para desarticular nossa luta e impossibilitar nossas conquistas.
Um dos motivos principais para a enfermagem ter em sua história tanta dificuldade em unir forças e lutar por suas melhorias está no fato de nós enfermeiras negarmos o papel social e econômico que desempenhamos, além de fugir de nossas origens. Somos uma profissão majoritariamente feminina, que em uma sociedade construída na ideologia machista naturalmente o que fazemos e produzimos de conhecimento será desvalorizado, menosprezado e subjugado ao conhecimento masculino.
Entender que somos essenciais para o funcionamento de qualquer estabelecimento de saúde, que nosso trabalho tem impacto econômico e social e que quem desempenha esse papel, em sua maioria, são mulheres é fundamental para que a gente entenda quais forças e como vamos construir nossas lutas, para sermos coerente com as nossas vitórias.
É preciso romper com a ideologia construída na idade média que a ciência do cuidar é vocacional ou, melhor, desempenhado por mulheres, ou que a  enfermagem é menos científica ou importante por seu conhecimento estar baseado nos conhecimentos e práticas femininas ou que é necessário dar um caráter masculino a profissão para que sejamos mais valorizadas. Essas ideologias são construídas desde a idade média até os dias atuais, legitimada por nós enfermeiras que achamos digna a ideia de exercer uma vocação, não uma profissão.  Esses pensamentos têm como único objetivo legitimar os nossos baixos salários, as nossas jornadas incansáveis e nossa precária situação de trabalho.
Quem exerce vocação a exerce em qualquer lugar, em qualquer circunstância e em qualquer situação. A vocação pressupõe um dom natural, nasce ou não com ela, nega a capacidade e a possibilidade de aprender determinada tarefa ou trabalho, nega a possibilidade da escolha, pois quem tem vocação é chamado para exercer aquela profissão, negando a autonomia de escolha de milhões de mulheres que exercem a enfermagem por terem escolhido o trabalho que estão exercendo. Quem exerce uma vocação não necessita ser remunerada ou sua remuneração pode ser somente um agrado, pois o exercício da vocação é algo natural e voluntarioso e receber por algo que você nasceu para fazer é algo errado, já imaginou uma santa, uma anja ou uma freira recebendo pelo seu trabalho exercido, pelo dom natural que Deus lhe concedeu?
Não podemos negar nossa história, mas precisamos afirmar que é necessário superar os alicerces ideológicos que fazem a enfermagem ser submissa, desvalorizada e subjugada a um conhecimento que em nossa sociedade é mais valorizado do que o nosso.
O conhecimento da enfermagem foi construído por religiosas, prostitutas, bruxas, mulheres, parteiras, curandeiras, benzedeiras, cientistas e lutadoras. Esse conhecimento não é menor por ter sido construído por essas mulheres, muito pelo contrário, essas mulheres com os limites impostos em suas épocas resistiram e tiveram coragem em desafiar a ordem de seu tempo, mas essa história foi superada e é necessário construirmos uma enfermagem de mulheres e homens, baseada em conhecimento social, humano e científico, na luta organizada de nós por nos mesmas e por aqueles que nos apoiam e reforçam nosso trabalho e nossa profissão. É necessário construir o protagonismo feminino dento da enfermagem, o masculino já é naturalmente construído em nossa sociedade, mas precisamos ganhar esses homens que compõem a enfermagem para a nossa luta, para a nossa valorização, pois só vamos arrancar dos empresários da saúde e dos governos dos Estados as nossas conquistas em unidade entre homens e mulheres, trabalhadoras e trabalhadores da enfermagem saindo em luta e resistindo a precarização de nosso trabalho e a desvalorização de nossa profissão.
OBS: tivemos o cuidado de construir esse texto com artigos no feminino, pois a enfermagem é uma categoria profissional composta por 90% de mulheres.





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