terça-feira, 11 de outubro de 2016

Encontro Nacional de Mulheres da Argentina. Unificar as lutas para combater o machismo e derrotar os planos de ajuste na América Latina

Por Marcela Azevedo, da executiva do MML e da CSP Conlutas, que esteve presente no Encontro





O ato de abertura

O encontro teve início no sábado, 08 de Outubro. No monumento a bandeira, ponto central da cidade de Rosário/Santa Fé, começam a transitar as delegações vindas de diversas cidades do país. Por todo lado viam-se as famosas faixas estandarte, comuns entre os Hermanos, com as bandeiras históricas de luta das mulheres e também informando que ali estavam sindicatos, movimentos do campo, movimentos populares, coletivos feministas e organizações estudantis, além de muitos partidos e organizações políticas.

As crianças menores acompanhavam suas mães com o olhar curioso de quem não entendia muito que estava acontecendo, mas as meninas já maiores entre 8 e 12 anos, demonstravam que aquele momento também era delas, estavam com camisas, bandanas, cartazes e cantavam animadas as palavras de ordem.


Esse foi um momento que não tinha como não se impactar, também apreciei tudo com o olhar de uma criança bastante curiosa, ao mesmo tempo em que sentia que aquela luta também era minha. Ao entregar o material de saudação do MML e da CSP Conlutas, recebi muitos sorrisos e agradecimento por estar lá, fazendo parte de uma manifestação muito cara para todas as mulheres da América Latina.

Os grupos de debate

No sábado à tarde e no domingo aconteceram os grupos de debate, eram muitos (69 ao total) e com os mais variados temas, sendo que aconteceram simultaneamente. O grupo que participei cujo tema foi “mulheres e anticapitalismo e a identidade latina- americana” teve um profundo debate sobre a situação política no mundo e na América latina, assim como o protagonismo das mulheres nas lutas contra as mazelas do capitalismo e os ataques do imperialismo sobre a classe trabalhadora.

O tema da crise econômica e política no Brasil foi bastante discutido, inclusive como forma de tentar localizar o fim do governo do PT com a tese de onda reacionária que varreu os governos de frente popular no continente, tal como aconteceu com Cristina Kshiner. Diante de tal afirmativa, o questionamento que ficou foi se esses últimos governos dos países latino americanos romperam com a subserviência ao imperialismo ou se seguiram entregando nossas riquezas e abrindo as portas dos países para as multinacionais virem super- explorar nossa mão de obra?


Pareceu-nos importante dizer que a democracia para os trabalhadores sempre esteve ameaçada no Brasil, porque é a democracia que existe serve aos ricos. E que Dilma e o PT foram aqueles que mais fortaleceram essa ameaça nos últimos anos, quando se calaram frente às pautas dos movimentos de mulheres como a legalização do aborto para manter apoio dos setores conservadores; quando indicaram Marcos Feliciano para a comissão de diretos humanos, ou quando preferiram fazer acordo com o deputado Cunha para segurar o impeachment, no mesmo momento em que as mulheres estavam nas ruas exigindo sua derrubada. Se juntaram aos empresários e latifundiários e deram as costas para aqueles que diziam representar. Por isso, os trabalhadores romperam com o PT, sem que isso tenha significado apoio incondicional aos partidos tradicionais da burguesia.  


Contudo, mesmo com muitas diferenças de opinião, a compreensão comum foi da necessidade de voltarmos para nossos locais de trabalho e estudo, comprometidas em construir uma forte greve geral contra os ataques nefastos que seguem nos governos atuais de Temer, no Brasil, e de Macri, na Argentina.

Na programação cultural, peça brasileira!

O encontro contou com uma vasta programação cultural, com intervenções de grupos artísticos na rua, enquanto caminhavam de um lugar a outro e também com peças de teatro, apresentações musicais e exposições. A peça “Luta mulher poética” cujo texto é da escritora brasileira e militante do PSTU, Cecília Toledo, emocionou dezenas de mulheres que assistiram a belíssima interpretação. A peça conta a trajetória de mulheres que fizeram história na luta da classe trabalhadora como Clara Zetkin, Rosa Luxemburgo, Pagu, e tantas outras, dando conta de evidenciar que são muitas as formas de opressão, mas ainda assim sempre as enfrentamos e que devemos ocupar nosso lugar na luta organizada dos trabalhadores.


A grande marcha

No domingo à noite, aconteceu a grande marcha, quando as 70 mil mulheres que participaram do encontro se juntaram a outras centenas de pessoas. Foram 40 quadras de manifestação, com centenas de colunas. Caminhando pelo ato, era contagiante o som das baterias e a disposição de luta. Viam-se rostos jovens que estavam ali pela primeira vez, também rostos enrugados que constroem esse espaço muito antes de ser um encontro de massas, mas em todas as faces era possível perceber a vibração e a alegria de fazer ecoar o grito contra o machismo, contra a violência física e sexual, contra a criminalização do aborto, também era forte a convicção de que nossa luta é política e é para transformar a sociedade.   


Infelizmente, pelo segundo ano consecutivo, teve repressão às mulheres no final da marcha, quando se chegava a catedral da cidade. Bombas de efeito moral foram usadas sobre mulheres que estavam com seus filhos no colo, o desespero e a indignação tomaram conta das participantes. Mas as bombas não foram suficientes para nos calar!



No último dia do encontro, mesmo de baixo de chuva, as mulheres reuniram-se para definir o próximo local do 32º Encontro. Será na cidade de Chaco, uma localidade com população de maioria de indígenas e que sofre com a miséria e os cortes do governo Macri nos setores sociais. Essa realidade coloca para o próximo encontro uma simbologia importante de fortalecimento das mulheres da classe trabalhadora contra todas as formas de opressão e, sobretudo, contra a exploração capitalista que nos sacrifica cada vez mais.  



Um comentário:

  1. maravilhoso ver as hermanas a frente nessa luta, que isso contagie as brasileiras,que possamos nos unir com todos movimentos de esquerda para derrubar o que tanto nos sacrifica

    ResponderExcluir

Campanha Nacional contra a violência à mulher trabalhadora

Campanha Nacional contra a violência à mulher trabalhadora

Chega da violência contra as mulheres!

Chega da violência contra as mulheres!