terça-feira, 28 de maio de 2013

Movimento Mulheres em Luta participa do 2º Congresso da ANEL

Organizar a juventude na luta contra o machismo e a exploração!

Entre os dias 30 de maio e 2 de junho, vai acontecer o 2º Congresso Nacional da Assembleia Nacional dos Estudantes - Livre, importante entidade que constrói o MML nas universidades e escolas brasileiras. O Movimento Mulheres em Luta estará presente na mesa sobre a luta contra as opressões no Congresso e também participará das oficinas no mesmo dia.

As mulheres jovens são foco de muito machismo e violência, por isso a importância de organizá-las junto ao Movimento Mulheres em Luta para combater essa realidade. A luta por creches universitárias também será alvo de debate, com o objetivo de encaminhar a confecção de uma cartilha sobre essa necessidade e essa luta. Por fim, é muito importante que as mulheres jovens da ANEL fortaleçam o 1º Encontro Nacional do MML, para expressar no nosso movimento a força e a disposição de luta da juventude.

Confira o material do MML para o Congresso!



quinta-feira, 23 de maio de 2013

Chega de Violência contra as mulheres! MML na Marcha das Vadias 2013


No último mês de Abril, ganhou grande repercussão o caso da jovem americana que foi estuprada dentro de uma van no Rio de Janeiro. Em algumas cidades do Nordeste brasileiro, ocorreram manifestações contra a presença da Banda baiana New Hit, cujos integrantes são acusados de terem estuprado duas jovens adolescentes.

Diante desses casos, queremos refletir sobre a frequência com que os casos de estupro tem ocorrido no Brasil. Entre janeiro e junho de 2012, ao menos 5312 pessoas sofreram algum tipo de violência sexual. De quatro anos para cá, os casos cresceram 157% no país. Mas estamos falando dos casos em que houve algum tipo de queixa ou registro, pois inúmeras mulheres guardam essa terrível experiência para si mesmas, com o medo de serem culpabilizadas pelo ocorrido. As mulheres trabalhadoras estão mais suscetíveis a esse tipo de crime, que ocorre nas ruas escuras, na ida ou na volta do trabalho, no sufoco dos transportes públicos lotados e até mesmo em ambientes de trabalho.

Marchamos com mulheres e homens na Marcha das Vadias, porque entendemos que o maior culpado pelo ato de estupro é o machismo que motiva o estuprador. Como problema social, os maiores culpados são as autoridades que em todas as suas esferas não promovem campanhas de combate e conscientização para prevenir este crime.

A proposta de reforma do Código Penal enfraquece a luta pela punição dos agressores
O novo artigo 213 do Código Penal, alterado em 2009, compreende como estupro “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”, além de ser um crime hediondo e apontar uma pena de 6 a 10 anos de prisão. Entretanto, a nova proposta de reforma do Código Penal ameaça o artigo 213 e prevê a divisão do crime, enquadrando condutas “mais leves” na categoria de “molestação sexual” e teriam, portanto, penas mais leves. O texto não menciona os casos sobre o estupro coletivo e nem o estupro corretivo, que é uma prática criminosa e utilizada principalmente contra mulheres lésbicas.

Chega de mulheres mortas pelo machismo e pela violência!
O Mapa da Violência 2012 revelou que de 1980 a 2010, foram assassinadas no país perto de 91 mil mulheres, 43,5 mil só na última década. Em 30 anos, o número de mortes passou de 1.353 para 4.297, o que representa um aumento de 217,6%. No dia 8 de março, o governo Dilma anunciou a criação do Projeto “Mulher: Viver sem Violência”. No entanto, os investimentos ainda são muito baixos, pois permite a criação de apenas 27 casas nas capitais, quando a maior quantidade de homicídios estão concentrados em outras cidades. Além disso, a previsão orçamentária de 4,3 milhões por casa não assegura a manutenção efetiva, para que as mulheres sejam atendidas.

Fazemos esta cobrança porque há um atraso na implementação de medidas como essa. Atraso esse que permitiu que a conclusão das Comissões Parlamentares Mistas que averiguaram a implementação da Lei Maria da Penha fosse de que a Lei não está sendo implementada efetivamente.

É necessário organizar as mulheres trabalhadoras, para lutar com todos os trabalhadores!
A violência sexual e física é a expressão mais bruta e individualizada da ideia de dominação do homem sobre a mulher. Essa ideia é componente de uma ideologia, o machismo, ideologia utilizada e disseminada pelo capitalismo, que transforma as diferenças em desigualdades e as utiliza para explorar mais as mulheres, a população negra e LGBT.

Dessa forma, acreditamos que a luta contra o machismo passa pelo enfrentamento direto com o capitalismo. Isso não quer dizer que não vamos lutar aqui e agora por direitos iguais entre homens e mulheres, como o direito a uma vida sem violência. Isso quer dizer, sobretudo, que a emancipação completa das mulheres só vai ocorrer em uma sociedade que não se apoie na exploração de mulheres e homens trabalhadores.

É pela divisão essencial da sociedade, a divisão entre classes sociais, que a opressão machista se manifesta de forma diferenciada entre as mulheres pobres e as mulheres ricas. É verdade que as mulheres ricas sofrem com o machismo, mas também é verdade que elas não abrem mão de sua condição de classe em favor dos direitos das mulheres trabalhadoras.

A recente morte de Margaretch Thatcher, ex-primeira ministra britânica, responsável pela implementação dos planos neoliberais que atacaram os trabalhadores/as ingleses fez retomar de forma mais coletiva, entre muitas ativistas, qual a concepção de luta e organização das mulheres mais efetiva.

O FEMEN, grupo internacional reconhecido pelas ações contra o turismo sexual durante os eventos internacionais de futebol, publicou uma nota de pesar à morte de Thatcher e reconhecendo-a por sua força e seu protagonismo. Discordamos totalmente dessa concepção, porque a força e o protagonismo de Thatcher estiveram a serviço da superexploração de homens e mulheres da classe trabalhadora. É por isso que acreditamos que a organização das mulheres em defesa dos seus direitos deve se dar em um marco de classe, pois nossos aliados estratégicos, para construção de uma sociedade sem machismo são a classe trabalhadora de conjunto.

terça-feira, 21 de maio de 2013

MML é lançado na Bahia

Coordenação estadual eleita no Encontro

No último dia 4 de maio de 2013 (sábado) o movimento feminista baiano deu um passo decisivo na organização autônoma, independente e classista das mulheres trabalhadoras: ocorreu em Salvador a Plenária de Lançamento do Movimento Mulheres em Luta (MML) na Bahia. Organizada pela CSP-Conlutas/BA, a atividade foi bastante vitoriosa e contou com mulheres lutadoras de diversas categorias e regiões do estado, lotando a sala da Faculdade de Administração da UFBA. Com mais de 50 participantes, estiveram presentes mulheres das categorias petroleira, docente (rede estadual, municipal de Camaçari, universidades federal e estaduais, IFBA), judiciária, jornalista, serviço público federal, bancária, profissionais da saúde e juventude universitária.

A Plenária aconteceu em meio ao aumento dos casos de agressões contra mulheres na Bahia, e da omissão do governo baiano quanto à prevenção dos casos e punição aos agressores. A média estadual de casos (6,1 a cada 100 mil mulheres) encontra-se bem acima da média nacional (4,6). Até março, 264 mulheres baianas foram mortas, colocando a Bahia em 5º lugar no ranking da violência no Brasil em 2012. Em Salvador, a situação ainda é pior, com a média de 8,3, muito superior à média das demais capitais (5,4). Os dados são do Mapa da Violência 2012, Caderno Complementar - Homicídos de Mulheres no Brasil (Instituto Sangari).

A Plenária contou com discussões sobre o programa do MML, as especificidades da realidade da mulher baiana e a necessidade de fundar um movimento de mulheres classista e independente do governo e de patrões. Na mesa de abertura estavam Thaís Stegle, representante do MML nacional; Érica Mascarenhas, mulher negra e ativista da categoria petroleira; e Carol Sales, representante do Coletivo Tambores da UFBA.

Thaís abriu a mesa abordando o tema da opressão, o programa nacional do MML e o significado das políticas de mulheres do governo Dilma, apontando as contradições de um governo dirigido por uma mulher, mas que ao mesmo tempo dita políticas que pouco beneficiam as mulheres trabalhadoras, favorecendo o empresariado. Érica trouxe a realidade da mulher na Bahia, a vida das mulheres negras, operárias e chefes de família, argumentando que as políticas dos governos petistas não mudaram profundamente a dura realidade dessas mulheres, além da necessidade da classe quanto à organização classista. Carol falou sobre as dificuldades das mulheres na universidade, em especial das estudantes negras, que sofrem, assim como as trabalhadoras, com a jornada do trabalho doméstico e com o machismo dentro da academia. Por sua vez, os Grupos Temáticos (GTs) abarcaram os temas de luta por direitos trabalhistas, aborto, racismo, opressão, violência e a luta contra o ACE.

Ao final dos GTs, as mulheres debateram o resumo das discussões em grupo, com abertura para falas das participantes e encaminhamentos. Um ponto importante desse espaço foi a formação de uma Coordenação Estadual do MML-BA, responsável por ajudar no acompanhamento da implantação do Movimento no nosso estado e levar as suas pautas para os fóruns da CSP-Conlutas. Dentre os encaminhamentos, destacam-se:

- reunião ampliada do MML, dia 15 de junho (local e horário a confirmar);
- criação de um boletim regular;
- lançamento público do MML-BA no Grito dos Excluídos (Cortejo de 2 de Julho),  construção de uma coluna no ato 2 de julho (independência da Bahia) com formação de coluna e distribuição de panfletos do Movimento;
- participação no Encontro Nacional do MML (outubro deste ano).

A realização da Plenária com a força demonstrada na atividade é o reconhecimento de que as mulheres baianas estão dispostas a lutar, e que não se calam diante dos ataques que sofrem; e que sim, é possível organizar as mulheres trabalhadoras e fazer luta feminista com classismo, de maneira independente dos patrões e dos governos. As mulheres baianas estão de parabéns por mais essa conquista!

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Todo apoio à greve dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo


Bastaram apenas quatro meses para cair a máscara daquele que foi apresentado nas eleições como “o melhor ministro da educação de todo os tempos”. Os profissionais em educação do município de São Paulo estão em greve desde o dia 03 de maio e o Prefeito Fernando Haddad (PT) segue intransigente em atender as reivindicações da categoria.

Haddad tomou posse em janeiro deste ano e sua política para a educação não é diferente de nenhum outro que já passou pela prefeitura de São Paulo. Não atende as justas reivindicações dos profissionais em educação levando a categoria a recorrer a greve para se fazer respeitada.  Diferente das promessas de campanha os investimentos em educação, bem como a valorização dos profissionais da educação, não são a prioridade para o prefeito.

A CSP-Conlutas presta sua irrestrita solidariedade e apoio a greve dos profissionais em educação no ensino municipal de São Paulo e conclama todas as suas entidades e movimentos filiados a atenderem este chamado. Orientamos que sejam enviada moções para sinpeem@sinpeem.com.br com cópia para secretaria@cspconlutas.org.br  e para quadroslourdes@ig.com.br

A nossa solidariedade é fundamental neste momento.
Viva a greve dos profissionais em educação no ensino municipal de São Paulo!

terça-feira, 14 de maio de 2013

Pastor é acusado de estuprar mais de cem mulheres


No final da semana passada a prática de jogar a contradição do estupro na vitima mais uma vez teve destaque, da maneira mais cruel que o machismo pode se expressar. O Pastor Marcos Pereira tem sido acusado de estuprar várias de suas fiéis, além de desvio de verba através de sua ONG que, supostamente, ajuda na recuperação de dependentes químicos.

Mais de cem mulheres já acusaram o Pastor Marcos Pereira. Elas contam que em busca de um sentido para suas vidas e saídas para os problemas, entraram em contato com a Assembléia de Deus dos Últimos Dias (ADUD). Tinham confiança em seus cultos e pregações, acreditavam em tudo o que o Pastor falava, pois o viam como um homem santo.

O Pastor Marcos fazia uso da fé de seus fiéis para criar situações intimidatórias, machistas e homofóbicas, que levassem ao abuso sexual. O Pastor acusava as fiéis de estarem rondadas por um espírito lésbico e que precisavam ser purificadas. O ato de purificação era o estupro, orgias com outras mulheres e garotos de programa. No fim de todo estupro, elas eram obrigadas a fazer uma oração e prometer que nada contariam.

Além da situação repugnante, a humilhação não acaba ai. Mesmo com o Pastor Marcos preso e com provas concretas dos estupros, o absurdo segue na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, onde a denuncia esta sendo feita. Dois deputados já saíram na defesa de Marcos Pereira. O Deputado Paulo Ramos do PDT/RJ afirmou que isso é uma armação da mídia e o Deputado Gilberto Palmares do PT/RJ, após apoiar a fala de Paulo Ramos, afirmou que vai acompanhar a investigação, pois acha que isso é uma tática para promover conflitos religiosos.

Outro apoio de peso que o Pastor Marcos Pereira tem tido é o do Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, o Pastor Marco Feliciano. Este tem discursos igualmente lamentáveis aos do Pastor Marcos Pereira, dizendo que negros são uma raça amaldiçoada, que gays são doentes, entre outros absurdos.

Nós do MML acreditamos que o papel da Assembléia legislativa não deveria ser de defender estupradores. Independente da religião, não podemos admitir que situações dessas ocorram. As mulheres que denunciaram o Pastor Marcos Pereira estão sendo ameaçadas, depois de serem violentadas e humilhadas e ao mesmo tempo o estuprador é defendido por deputados que deveriam estar discutindo medidas de proteção as mulheres. Exigimos a punição do pastor Marcos por crime de estupro e deixamos aqui toda solidariedade às mulheres violentadas.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

13 de maio: seguir a luta contra o racismo e a exploração


O dia 13 de maio é reconhecido por ter sido o dia em que a Princesa Isabel, em 1888, assinou a Lei Áurea, que findou, do ponto de vista institucional, a escravidão no Brasil. Entretanto, há muitas contradições nesta data.

A primeira é que a “história oficial” acabou por fazer da Princesa Isabel uma heroína da luta contra a escravidão, o que não é verdade. Essa conquista é fruto da luta de diversos heróis negros escravos e ex-escravos que em alguns casos deram sua vida pelo fim dessa exploração baseada no racismo e na discriminação do povo negro. 

É verdade que em fins do século XIX, muitos burgueses e latifundiários já não viam mais na forma de trabalho escravo o caminho para ampliação de seus lucros. Mas não fosse a luta incansável de diversos nomes da história da luta contra a escravidão no Brasil, como Zumbi dos Plamares, Luiza Mahin, Dandara, etc, esta conquista não aconteceria. As leis anteriores que caminhavam no sentido da abolição da escravatura, como a Lei do Ventre Livre, ou a Lei do Sexagenário, também foram fruto e conquista dessa história de lutas.

Outra contradição importante é que a abolição da escravatura oficial não significou naquele momento e até hoje, o fim do racismo. A abolição foi um evento histórico que deu base para a criação do mito da igualdade racial no Brasil. A população brasileira é extremamente miscigenada, sobretudo com o povo negro que durante centenas de anos construiu o país com a força de seu trabalho, explorada de forma escrava pela burguesia brasileira. Com base nisso, construiu-se a ideia de que todos são iguais e a presença constante dessa concepção nas diversas Constituições brasileiras do fim do século XIX para cá serviu para sustentar a falsa ideia de que não há desigualdade entre negros e brancos no Brasil.

No entanto, o mito da democracia racial mascara o destino de milhares de negros e negras e por consequência de seus descentes que até hoje sofrem com a exploração e com racismo. Como disse Aliado G, do grupo de rap Face da Morte: “o que um dia foi Quilombo, hoje em dia é favela”, e desde o século XIX, a população negra brasileira foi jogada na marginalidade, sem direito a emprego, trabalho, moradia digna.

Hoje, a população brasileira é na sua maioria negra, mas os negros e negras são os mais presentes na informalidade, nos índices de baixos salários e desemprego. As populações quilombolas seguem na luta, se enfrentando com governos do PT, em esfera federal e dos partidos da oposição burguesa, em esferas estaduais e municipais, para obterem a posse dessas terras, conquistarem a demarcação desses espaços.

A luta por cotas nas universidades evidencia o histórico de marginalização da população negra, ao passo que também demonstra a que ponto está a sociedade brasileira para se enfrentar com o problema do racismo. Este debate surgiu em meados da década de 90 e recebeu, em um primeiro momento, uma repulsa muito grande de governos e setores dominantes da sociedade, trazendo a tona argumentos dos mais reacionários. Desde então, o movimento negro lutou, sobretudo os setores do movimento que não se entregaram ou se renderam a governos identificados historicamente com a esquerda, como o governo do PT, que muito pouco fez para reparar os séculos de história de exploração e opressão do povo que construiu o Brasil com suas mãos.

Fruto dessa luta, no ano passado vimos a aprovação das cotas nas universidades federais, uma conquista muito importante, que segue recebendo ataques de setores reacionários, como a reportagem da Folha de São Paulo que levantou a ideia de que os cotistas são os que possuem as piores notas. Mas essa conquista não terá consequências positivas para a inserção real da juventude negra nas universidades se não houver uma ampliação significativa do investimento em Educação, que hoje se configura na luta pelos 10% do PIB para a Educação Pública Já. 

Da mesma forma, essa conquista pouco se efetivará se não vier acompanhada de medidas sociais que ampliem emprego e oportunidades para que a população negra se insira no mercado de trabalho formal, assim como medidas que ampliem os direitos da classe trabalhadora de conjunto, da qual a população negra é a maior parte.

Com essas medidas reais é que será possível combater a ideologia que inferioriza e discrimina a população negra brasileira, que promove para as mulheres negras as piores condições de trabalho, uma grande presença no mercado da prostituição, combinando ao racismo e à exploração, a ideologia machista que também discrimina, violenta e mata as mulheres negras.

O 13 de maio deve lembrar essa perspectiva de luta: de que ainda há muito o que fazer para acabar com o racismo no Brasil, e que o caminho é a luta unida de mulheres e homens, negros e brancos da classe trabalhadora.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

O Estatuto do Nascituro e o terror


Debora Diniz*

Nascituro é um não nascido. A palavra parece ser um nó filosófico — como alguém pode reclamar ser uma negação existencial? Essa é a confusão ética em curso no Congresso Nacional com a proposta do Estatuto do Nascituro. Se aprovada, haverá mudança constitucional — o nascituro, hoje termo reservado aos dicionários e aos códigos jurídicos do século passado, será figura permanente entre nós. Os que defendem e os que se espantam com o Estatuto do Nascituro estão de acordo em um ponto: a discussão não se resume à controvérsia sobre como nominar células humanas fecundadas. É mais do que isso. A disputa é sobre dar ou não o estatuto de pessoa a células humanas.

Os defensores do Estatuto do Nascituro sustentam ser já pessoa humana um punhado de células recém-fecundadas. Por isso, insistem em descrevê-las como um “ser humano”. Importa saber se humano é descritor das células ou qualificador para direitos e obrigações. Como descritor, não há disputa: células produzidas por órgãos humanos são células humanas. Mas nem por isso um óvulo seria descrito como um “ser humano”. Mas, para os que entendem o nascituro como pessoa, as células recém-fecundadas são mais do que produtos do corpo humano: seriam personalidades jurídicas com direito a reclamar direitos e proteções ao Estado.

Nos meus termos e no de grande parte dos cientistas sérios, o nascituro é um conjunto de células com potencialidade de desenvolver um ser humano, se houver o nascimento com vida. Mas estamos falando de células humanas e de potencialidades. E é sobre as potencialidades que o Estatuto propõe direitos e obrigações absolutas ao Estado brasileiro. Algumas delas são superiores aos direitos das mulheres — uma menina que tenha sido violentada sexualmente por um estranho será obrigada pelo Estado a manter-se grávida, mesmo que com riscos irreparáveis à saúde física e psíquica. Os direitos e as proteções devidos à infância pelo Estatuto da Criança e do Adolescente serão esquecidos pela prioridade do nascituro à ordem social. Se um acaso impuser um risco grave à saúde com a gestação, a menina deverá morrer para fazer viver um nascituro fruto da violência.

O nascituro demandará ainda mais obrigações do Estado brasileiro. Uma delas tocará nos cofres e representará conquista que nenhum outro grupo vulnerável de carne e osso já conquistou no Brasil: nascituro que tenha sido gerado por estupro terá direito a políticas sociais prioritárias, entre elas serviços de saúde e de assistência social. Trata-se de focalização das políticas sociais como nunca antes desenhada pelas reformas da seguridade social — o nascituro terá “prioridade absoluta”, propõe o Estatuto. Em meio à riqueza criativa do documento para instituir benefícios, está a bolsa-estupro — nascituro que venha a nascer com vida terá direito a bolsa de assistência social de um salário mínimo até os 18 anos. A menina violentada, caso tenha sobrevivido ao parto, nem sequer é mencionada pelo Estatuto.

Há vários equívocos na proposta do Estatuto do Nascituro. A primeira delas é esquecer os vivos em detrimento de fantasias filosóficas. O nascituro é criação religiosa para dar personalidade jurídica às convicções morais de homens que acreditam controlar a reprodução das mulheres pela lei penal. São as mulheres — mães, esposas, irmãs e filhas — desses mesmos deputados religiosos ou não as que abortam e buscam assistência médica nos hospitais públicos e privados. Elas são mulheres comuns que temem a lei penal, mas sentem o pânico de um estupro como mais forte que a ameaça do inferno. O Estatuto do Nascituro é mais um ato de terror, só que agora do Estado contra elas. Além de ter sido vítima do violentador, a menina se descreverá como mulher violentada pelo Estado, que reconhece os direitos de um espectro de pessoa como superiores à própria existência.

DEBORA DINIZ - Antropóloga, professora da Universidade de Brasília e pesquisadora da Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero

Fonte: www.agenciapatriciagalvao.org.br

segunda-feira, 6 de maio de 2013

FNP define calendário de lutas contra os leilões do petróleo e punições na Transpetro


Diante da iminente rodada de leilões, prevista para acontecer pelo Governo Federal em maio, a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) definiu nesta sexta-feira (26/04) um calendário unificado de lutas para mobilizar a categoria petroleira e a sociedade contra mais um ataque ao petróleo do país.

As mobilizações também enfrentarão a ofensiva da Transpetro, por meio de punições, contra os petroleiros. A demissão de Ana Paula, há quase um ano, e o recente vazamento de óleo no Tebar, em São Sebastião (SP), colocaram em evidência uma perseguição sistemática da companhia aos trabalhadores.

Neste sentido, a FNP faz um chamado aos 17 sindipetros do país, à FUP e às demais entidades da categoria petroleira a se somarem nas mobilizações que acontecerão durante todo o período que antecederá os leilões.

Veja abaixo o calendário de lutas proposto pela FNP:

- A partir do dia 29 de abril
Setoriais em todas as bases petroleiras para discutir e definir com os trabalhadores as formas e estratégias de mobilização

- 1º de Maio
Aproveitar a data, que celebra o Dia Internacional dos Trabalhadores, para colocar em pauta em todos os movimentos, atos e eventos o tema dos leilões, defendendo uma Petrobrás 100% Estatal

- 3 de Maio
Realização de um Dia Nacional de Luta dos Terminais para combater a ofensiva da Transpetro contra os trabalhadores. O vazamento de óleo no Tebar, em São Sebastião, no Litoral Norte de SP, fez com que a companhia lançasse uma campanha de punições aos petroleiros. É preciso mobilizar a categoria frente a esse ataque.

- 10 de maio
Realização de um ato-show na Lapa, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), para fortalecer a campanha por uma Petrobrás 100% Estatal e contra os leilões do petróleo

- 13 de maio
Dia Nacional de Luta Contra os Leilões do Petróleo. O objetivo desta data é ampliar a campanha às mais diversas categorias, com panfletagem em nível nacional para sensibilizar a população sobre a necessidade de combater os leilões.

- 13 de maio
No mesmo dia, ato em frente o Edise (Edifício-Sede da Petrobrás), às 12h.

- 14 de maio
Ato contra o leilão do petróleo na cidade do Rio de Janeiro (RJ)

- 14 e 15 de maio
Datas agendadas pelo Governo Federal e ANP para a realização da 11ª rodada de leilões. FNP indica aos sindicatos mobilizações em todas as bases. A ideia é que o caráter desses atos seja definido com base nas decisões das setoriais realizadas a partir de 29 de abril

Fonte: cspconlutas.org.br

Campanha Nacional contra a violência à mulher trabalhadora

Campanha Nacional contra a violência à mulher trabalhadora

Chega da violência contra as mulheres!

Chega da violência contra as mulheres!