quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Nota de solidariedade do MML a Andreia Pires trabalhadora da JBS demitida por lutar! Readmissão Já


No dia 16 de janeiro de 2015, a cipeira Andreia Pires foi demitida por justa causa, apesar de ter estabilidade garantida até setembro. Essa demissão, não por coincidência, veio após Andreia com um grupo de trabalhadores organizarem um abaixo-assinado contra a cobrança da refeição na empresa, até então gratuita. Um abaixo-assinado que exigia espaços de diálogo com a patronal diante de todos os ataques que os trabalhadores da planta já vinham sofrendo, como aumento abusivo do convênio médico e odontológico.  Porém, a JBS rasgou as leis trabalhistas mais uma vez demitindo a trabalhadora.
                               
Vale lembrar que a JBS foi a principal doadora das campanhas de Dilma, Aécio e Marina Silva. Não à toa, foi uma das empresas que mais recebeu financiamento do BNDES, chegando ao patamar de gigante da indústria da carne, setor com nível elevado de acidentes e mortes no trabalho. Por isso, reprimem qualquer forma de organização dos trabalhadores, possuem aval do governo e de todos os partidos burgueses para que explorem cada vez mais. Não podemos permitir represálias contra Andreia Pires e nenhum trabalhador. 

Também lembramos que Andreia é um exemplo dentre milhares de mulheres trabalhadoras no país que vivem a precarização cotidiana no trabalho e na vidas, muitas delas estão no setor de alimentação e limpeza das fábricas, como era o caso de Andreia que trabalhava na higienização das máquinas. São trabalhadoras precárias e invisíveis que enfrentam a dupla ou tripla jornada de trabalho, sofrendo ainda mais com o assédio moral e acidentes de trabalho. É preciso dar um basta nessa realidade! 

O Movimento Mulheres em Luta se solidariza com a trabalhadora Andreia Pires, com a luta pela sua readmissão e contra as péssimas condições de trabalho e assédio moral na JBS! 


Leia abaixo a matéria publicada sobre o caso no Viomundo:


Funcionária da JBS demitida por se opor à cobrança das refeições

publicado em 18 de fevereiro de 2015 às 21:32
         por Conceição Lemes

A empresa brasileira JBS é a maior produtora global de carnes. No terceiro trimestre de 2014, o seu lucro líquido cresceu 397% em relação a igual período de ano anterior.  Foi R$ 219,8 milhões para R$1,1 bilhão.
 
No último ano, ela também “invadiu” a TV, via campanhas publicitárias de suas marcas Seara, estrelada por Fátima Bernardes, e Friboi, por Toni Ramos.
A JBS, porém, tem outro lado nada glamouroso. Tem sido denunciada por desrespeito a direitos trabalhistas de funcionários. Por exemplo, descumprimento da pausa de 20 minutos a cada 1h40min em ambientes frios. Falta de locais adequados para o intervalo de recuperação térmica dos trabalhadores expostos à temperaturas extremamente frias para o corpo humano (entre 5o C e -15o C). Excesso de jornadas de trabalho;  há registros de até 12 horas seguidas. Infringir normas de saúde e segurança dos trabalhadores.
Apenas em 2014, teve quatro condenações por irregularidades trabalhistas em fábricas no Acre, Maranhão, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, que lhe custaram R$ 8 milhões em indenizações.
Em 16 de janeiro de 2015, Andreia Pires de Oliveira, trabalhadora da JBS de Osasco, foi demitida por justa causa, apesar de ter estabilidade no emprego garantida por lei até setembro.

 
A justificativa da empresa foi o excesso de suspensões: oito (sete por atrasos no horário de entrada) em três anos de trabalho.  A última em 15 de janeiro, por ter saído uma hora mais cedo no dia 12. A alegação é de que o supervisor não havia sido informado, configurando abandono de trabalho. Contudo, o superior imediato de Andreia, o líder, havia sido informado e encarregado de avisar ao supervisor, como é de costume.
Andreia trabalhava no terceiro turno no setor de higienização pré-operacional. Entrava às 23h e saía às 6h30.
“Na verdade, a razão para a minha demissão é outra. Fui demitida porque  comecei a passar um abaixo-assinado, pedindo à JBS para rever a decisão de cobrar as nossas refeições”, afirma Andreia ao Viomundo. “Nós, funcionários, não pagávamos a refeição. De repente, arbitrariamente, a empresa passou a cobrar R$ 28,22 por mês. Já estávamos com  mais de 200 assinaturas.”

“Além disso, eu não poderia ter sido demitida”, explica Andreia. “Fui membro da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) de setembro de 2013 a setembro de 2014. Tinha estabilidade no emprego garantida por lei até setembro de 2015.”
O papel da Cipa, como bem lembra Andreia em sua carta aos colegas (na íntegra, abaixo), é cuidar pela segurança dos trabalhadores, observando o cumprimento de normas básicas, como o uso correto dos EPI´s (equipamentos de proteção individual),  o excesso de trabalho e assédio moral da chefia para aumento de produtividade.
“São situações que contribuem para acidentes frequentes, além do surgimento de doenças”, observa.
“Essa postura de Andreia se fazia necessária frente à completa omissão do Sindicato dos Trabalhadores da Carne e dos Frios do Estado de São Paulo”, diz Diana Assunção, do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), que está dando apoio à trabalhadora demitida. “Nosso objetivo é a readmissão dela.”

Viomundo  perguntou à JBS o que tinha a dizer sobre a denúncia. A resposta, via sua assessoria de imprensa: “A JBS informa não comenta decisões sobre demissões e/ou contratações na empresa”.


 Confira abaixo a Carta que Andreia redigiu direcionada aos seus colegas
 de trabalho:


Carta de Andreia Pires aos colegas de trabalho
“Como muitos devem saber, na última sexta-feira fui demitida por justa causa, segundo o supervisor porque levei muitas suspensões. Apesar de ainda estar com a estabilidade da CIPA. A última suspensão que levei foi na quinta, porque na segunda tinha pedido para sair 1h mais cedo. O supervisor esperou dois dias (terça e quarta) para “decidir” que não tinha sido avisado que eu sairia mais cedo e aplicou a suspensão. É claro que avisei, sabemos que a demissão não foi por causa disso.
Todos que me conhecem nessa fábrica sabem que não fico quieta frente a tanta coisa errada que fazem, seja com o trabalhador ou com o alimento que produzimos. Essa semana estávamos passando um abaixo assinado para não cobrarem nossas refeições, quase 200 assinaram e eu estava ajudando. Por isso é que fui demitida, porque não querem aceitar nem o mínimo que podemos fazer para nos defender. Eles tiram dentista, encarecem o convenio, tiram várias coisas de benefícios e quem fala alguma coisa é mandado sem direitos?!
Faz 3 anos que trabalho aqui, foram muitas noites de trabalho pesado junto com a equipe do terceiro turno. Assim como vários colegas, também tenho buraco de sabão corrosivo na mão, muitas vezes tive que correr pra torneira com os olhos ardendo, trinquei um dedo em acidente, arrastamos peso, esfregamos chão, parede, placas pesadas da formax, damos o sangue toda noite para essa fábrica ficar limpa e agora o que recebo em troca quando tento me defender?
Durante a minha atuação na CIPA conseguimos melhorar a situação, com bastante atenção a todos no chão de fábrica, acompanhando, falando para usar luva, óculos, viseira, não só no meu turno, mas em todos os turnos. Sempre levei muito a sério meu trabalho na higienização e como cipeira, isso ninguém pode duvidar.
Faço essa carta para denunciar a todos essa grande injustiça que fizeram comigo.
Agradeço aos colegas de todos os turnos com os quais pude trabalhar, continuarei lutando com unhas e dentes, seja onde estiver, por melhores condições de trabalho, contra tanta exploração.”

 



quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Quem lucra com o machismo?




                          Por Tawnne de Andrade, professora de História de São Paulo e militante do MML,

Quem será o homem mais rico do Brasil? Podemos procurar na lista da Forbes de 2014 que reúne os 150 bilionários brasileiros detentores de um total de R$ 643,6 bilhões. Certamente pensamos em figuras como os grandes banqueiros, como Joseph Safra (2º lugar), donos de grandes construtoras, como Marcelo Odebrecht, a família Marinho dona da Rede Globo. Não estamos enganados, todos eles estão nessa lista.

Mas o vencedor, com R$ 14 bilhões a mais que o 2º colocado, é Jorge Paulo Lemann[1], principal acionista da Ambev, com uma fortuna de R$ 49,85 bilhões (o equivalente a mais de 63 milhões de salários mínimos). E seus dois principais sócios também figuram na lista de bilionários em 3º e 4º lugar.

A Ambev é dona de nada menos que 22 marcas de cerveja[2], entre elas: Antarctica, Bohemia, Brahma, Budweiser, Stella Artois, e a Skol, que segundo o site da própria Ambev é ‘ líder do mercado brasileiro e a quarta cerveja mais vendida do mundo’.

Semana passada a Skol teve que refazer às pressas sua campanha publicitária para o Carnaval, porque duas ativistas feministas começaram uma campanha nas redes sociais contra os cartazes da Skol que diziam frases como: “Esqueci o ‘não’ em casa” e “Tô na sua seja qual for a sua”. "A 'maravilhosa' Skol decidiu fazer uma campanha de Carnaval espalhando frases que induzem a perda do controle. 'Topo antes de saber a pergunta', 'esqueci o não em casa' são alguns exemplos. Uma campanha totalmente irresponsável, principalmente durante o Carnaval que a gente sabe que o índice de estupro sobe pra caramba", disse na internet Pri Ferrari, publicitária que iniciou a campanha tirando fotos que completavam o cartaz de ‘Esqueci o não em casa’ com ‘e trouxe o nunca’.

 

Depois disso a Skol refez sua campanha, trocando os cartazes para outros com dizeres como:  "Tomou bota? Vai atrás do trio", "Quando um não quer, o outro vai dançar", todos com o slogan “Neste Carnaval, respeite”.
Não estamos impressionadas, e não achamos que os administradores e publicitários fizeram isso por se sentirem responsáveis pelo incentivo ao estupro, sabemos que só trocaram a campanha porque perceberam a repercussão negativa que poderia afetar suas vendas e resultar num boicote à marca na época em que mais se consome cerveja no ano.

Esse não é o único exemplo de propaganda machista, há infinitos exemplos promovidos pela própria Skol e por praticamente todas as marcas de cerveja. Alguns exemplos de campanhas dos últimos anos da Skol incluem um comercial de um casamento em que o homem pergunta se a noiva vai ‘continuar gostosa pra sempre’ e desiste de casar porque só a Skol continua gostosa pra sempre, há um excesso de imagens de mulheres semi-nuas, em ‘posições sensualizantes pra provocar o imaginário’, e alguns anos atrás também foi criado o aplicativo ‘Garota do tempo Skol’, em que uma sensual mulher loira de biquíni fazia a  previsão do tempo e mandava beijinhos para o usuário do aplicativo.







As propagandas e as ideologias

Alguns podem dizer que as propagandas sempre foram assim e que toda propaganda de cerveja utiliza esses elementos, não precisamos nem comentar os casos da cerveja Devassa. Aqui nos deparamos com vários problemas dessa lógica tão aceita e difundida atualmente: a manipulação e as ideologias que as propagandas defendem e fortalecem na sociedade, o excesso de propagandas a que estamos submetidos, e a naturalização das opressões que essas propagandas promovem. Tudo isso com o único objetivo de incentivar o consumo excessivo de certos produtos.

Hoje é impossível escapar das propagandas, a cidade de São Paulo, por exemplo, há alguns anos tem uma lei que proíbe os outdoors, o que em nada impede que tenhamos comerciais sendo anunciados: nas televisões instaladas em ônibus e metrôs do sistema público de transporte, o caso do metrô é incrível, já que todos os vagões tem cartazes colados na parte interna e alguns na parte externa, os novos pontos de ônibus instalados pela prefeitura também vieram acompanhados de painéis próprios para colocar propagandas, como foi o caso desses cartazes da Skol onde as ativistas fizeram o protesto.

Na internet também somos bombardeados com propagandas dentro do Facebook, nas nossas caixas de e-mail, e antes de assistir qualquer vídeo no Youtube. As próprias redes sociais mapeiam nossos interesses para noticiar propagandas devidamente voltadas para nosso perfil. Nunca reparou nisso? Faça a experiência e digite num site de busca como o Google qualquer tipo de produto para pesquisar preço, depois perceba que quando estiver navegando em qualquer outro site sobre outro assunto as propagandas serão justamente sobre aquele produto.

As propagandas décadas atrás surgiram ‘inocentemente’ para divulgar e informar a existência de certos produtos e suas qualidades, mas há muito tempo o capitalismo ampliou essa função, e hoje as propagandas servem para difundir na sociedade determinados valores e idéias que estão de acordo com o que os grandes proprietários dessas marcas querem que as pessoas pensem.

Ou seja, a propaganda não vende só um produto, ela vende uma visão de mundo. A propaganda de cerveja quando é machista não está só tentando vender uma cerveja e ‘sem querer comete um erro de ser machista’. A propaganda é machista de propósito porque vende junto com a cerveja a ideia de que o homem que consome aquele produto se torna mais poderoso com as mulheres. A mulher no comercial não é uma pessoa, é um simples objeto sexual, de acordo com os desejos do homem, já que ela não possui vontade própria.
E é com essas ideias embutidas no produto, que monopólios como a Ambev conseguem lucrar tanto, como por exemplo entre julho e setembro de 2014, tiveram uma receita líquida de R$ 8,624 bilhões[3].

E o investimento dos governos em segurança das mulheres?

Segundo site Sala de Imprensa Dilma, sobre “o lançamento do programa Mulher Viver Sem Violência. O programa conta com investimentos da ordem de R$ 305 milhões e tem o intuito de fortalecer a rede de serviços especializados de atendimento às mulheres em situação de violência[4].” Se considerarmos que a população atual de mulheres no Brasil supera 100 milhões, o governo está investindo apenas R$ 3,00 em cada uma de nós. Num país com mais de 5.000 municípios há apenas 500 delegacias da mulher. O Movimento Mulheres em Luta reivindica do governo federal um investimento mínimo que corresponda a 1% do PIB (Produto Interno Bruto).

Já no site do governo do estado de São Paulo sequer é possível encontrar informações sobre segurança da mulher, já que todas as matérias tratam do tema segurança de forma generalizante. A maior cidade do país, com uma população de cerca de 5 milhões de mulheres possui apenas 9 Delegacias da Mulher e 1 hospital especializado em casos de violência, o Pérola Byington (consulte e anote o endereço da delegacia mais próxima[5]).

No Brasil em 2013 foram registrados pela polícia mais de 50 mil casos de estupro, sendo que a estimativa é que apenas 35% dos casos sejam denunciados, o que pode elevar esses números para mais de 143 mil. Só no estado de São Paulo foram mais de 12 mil casos[6].
Neste Carnaval, por exemplo, uma adolescente de 13 anos foi estuprada por 9 homens, entre adultos e adolescentes[7]. É um caso brutal, assustador, nojento. Infelizmente há muitos outros que podem não ter sido denunciados.

Só a luta das mulheres e homens da classe trabalhadora contra o capitalismo, a burguesia e os governos que os servem pode acabar com isso. Por uma sociedade socialista, sem exploração e sem opressão!

Notas:

[1] Conforme em: http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2014/08/27/lemann-e-o-mais-rico-do-brasil-pelo-2-ano-seguido-aponta-forbes-brasil.htm

[2] Disponível em http://www.ambev.com.br/nossas-marcas/cerveja/

[3] Disponível no site da revista Exame em 31/10/2014: http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/lucro-liquido-consolidado-da-ambev-sobe-23-no-3o-trimestre

[4] Notícia de 10/10/2014, disponível em: http://www.saladeimprensadilma.com.br/2014/10/10/governo-dilma-atua-no-combate-a-violencia-contra-as-mulheres/

[5] Endereço das Delegacias da Mulher na cidade de São Paulo: http://www.cidadao.sp.gov.br/servico.php?serv=1715

[6] Notícia de 11/11/2014: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2014/11/11/pais-tem-50-mil-pessoas-estupradas-por-ano-roraima-lidera-ranking.htm

[7] Notícia em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/02/1590631-nove-sao-presos-por-suspeita-de-estupro-de-jovem-de-13-anos-em-osasco.shtml

Campanha Nacional contra a violência à mulher trabalhadora

Campanha Nacional contra a violência à mulher trabalhadora

Chega da violência contra as mulheres!

Chega da violência contra as mulheres!