quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Somos todas Guarani – Kaiowá! Basta de genocídio da população indígena

Por Renata Conde, do MML Brasilândia/SP

Nas últimas semanas, o país vem se chocando com o massacre aos índios de etnia guarani-kaiowá. A faísca desse processo foi o assassinato de um jovem de 24 anos em plena luz do dia. O corpo do jovem foi carregado pelos próprios indígenas morro acima. No mesmo dia, começaram a haver balas de fogo e pauladas sobre os índios. A notícia correu e instaurou o pânico na pequena cidade de Antônio João (8612 habitantes), que acreditava que os índios se vingariam colocando fogo nas moradias. Tratava-se de uma disseminação de informação a partir dos proprietários de terra com a intenção de jogar a população contra os indígenas e de usar o medo para manter um controle sobre a população.

UM POUCO DE HISTÓRIA         

O Brasil é um dos maiores países em extensão territorial do mundo. Essa vastidão em terra parece incoerente com as brigas territoriais que massacram nosso povo desde a criação do Estado brasileiro.
Desde 1500, com a chegada dos portugueses nesse canto do mundo, do outro lado do mar, a disputa pela terra foi questão. Os milhões de quilômetros de terra eram insuficientes para a ganância do colonizador. E os milhares de indígenas eram assustadores para a covardia do colonizador. Assim, se edificou o que ficou conhecido como Brasil: com derramamento de sangue de índios e índias.
Entretanto, no sangue dos trabalhadores brasileiros corre a cultura de solidariedade uns com os outros e a de saber se defender quando somos atacados. Sim, isso também é herança de índio. Nossos antepassados resistiram bravamente contra a violência da metrópole. Lutaram, não entregaram nenhuma terra em troca de espelhos, como aprendemos na escola (para formar na nossa consciência a ideia de que os índios são burros e infantis).
Tinham como modo de vida a relação direta com a natureza para obter seus meios de subsistência e para desenvolver suas relações subjetivas. Essa forma de viver o mundo apresenta a necessidade de largas extensões de terra. Isso por que a natureza tem seus ciclos e não oferece alimento na mesma dinâmica que as prateleiras de supermercado. Desse modo, é preciso que haja condições para um povo andar para que ele consiga sobreviver de relações diretas com a natureza.
Em contrapartida a esse modo de vida, se ergueu desde o princípio em nosso país uma produção baseada nos latifúndios, isto é, em grandes propriedades agrárias. Nos primeiros séculos, o Brasil era o país da monocultura exportadora de açúcar. Depois do café. Hoje, de soja. Desse modo, a produção agrária no Brasil nunca foi voltada para alimentar seu povo (afinal, quem sobrevive só de açúcar, café ou soja?) e sim somente para gerar lucros para uma meia dúzia de proprietários (de outras terras!). Como se já não bastasse isso, esses mesmos proprietários querem lucrar também com a posse de terras e assim, possuem extensões de terra gigantes sem produzir nada nelas. Isso para gerar valorização das terras e por que conseguem adquiri-las através de muita fraude e ilegalidade. Isto é, são donos de terras gigantescas onde não produzem nada. E os índios que precisam de terra para viver? Esses são esmagados em um pedaço de terra. O resultado: vivem em situação de miséria.
Um velho comunista, Karl Marx, nos disse: “Um erro na história é uma tragédia. Só se repete enquanto farsa”. O massacre ao povo indígena Guarani – kaiowá, que hoje assistimos no Mato Grosso do Sul é a farsa da repetição da história do nosso país.

MASSACRE E RESISTÊNCIA

Hoje os Guarani Kaiowá realizam uma ocupação de 80 fazendas. Vêm sofrendo uma represália absolutamente violenta, vivendo um verdadeiro estado de guerra civil. O dia-a-dia das famílias indígenas que resistem é marcado por assassinatos, estupros, perseguições e tortura.
A terra em disputa é a Nande Ru Marangatu, de 9317 hectares. Os índios afirmam que viviam nessa terra desde tempos anteriores a chegada dos brancos na região. Foram expulsos de lá em 1950, quando a família Pio Silva chegou ao local. Esta família comprou os lotes do próprio governo do Mato Grosso do Sul. Isto é, governo e latifundiários foram parceiros na desalocação dos moradores. Hoje o território é dividido em cinco fazendas de criação de gado. Desde os anos 1990 os índios reivindicam essas terras para si novamente. E desde que começaram a lutar por suas reivindicações o conflito se instaurou.
Em 1950, quando os índios foram expulsos de suas terras, muitos começaram a trabalhar nas fazendas das quais foram expulsos. Estes receberam uma pequena parcela de terra, nomeada Vila Campestre. Em 1990, com as famílias crescendo, essa terra tornava-se insuficiente aos índios, que decidiram então retomar as terras que lhe haviam sido expropriadas.  O conflito se instaurou. Segundo dados do jornal El País, nos últimos 13 anos, 2112 índios morreram por causas evitáveis no estado do MS.
Os índios sofrem o massacre direto das armas do exército, polícia e fazendeiros, mas, também o indireto, por não terem lugar para viver, improvisam aldeias na beira de estradas e sofrem de falta de acesso a alimentação e saúde.
Essa situação é alarmante e tornou-se insuportável aos guarani-kaiowá que deram início ao maior processo de ocupação dos últimos tempos. Ocuparam as cinco fazendas da terra por ele reivindicadas.
O jornal El País descreve a resposta violenta dos latifundiários: “No sábado seguinte, dia 29, cerca de sessenta camionetes deixaram a sede do sindicato rural de Antônio João”. (...) O séquito de camionetes percorreu por cerca de 10 minutos a rodovia, entrou pela estrada de terra e parou em meio a freadas bruscas, que levantaram poeira, perto da casa principal da fazenda Barra. Foram recebidos por homens, mulheres, adolescentes e crianças aos gritos, com paus e arco e flecha nas mãos. Os índios relatam que, depois de alguma discussão, os homens dispararam tiros para o alto e armas com balas de borracha em direção a eles – o que os fazendeiros negam. Em meio a uma intensa correria, motos de indígenas acabaram incendiadas, outra delas foi furada por tiros. Um índio foi cercado e atacado com um pedaço de pau que abriu sua testa. O confronto se estendeu para a fazenda Fronteira, logo ao lado. Crianças se perderam. Entre elas, o filho de Vilhalva. Não demorou muito e o rapaz apareceu morto. A Força Nacional, uma espécie de tropa de elite do Governo federal formada por policiais militares de vários estados, demorou uma hora para chegar, afirmam os índios.
'O que aconteceu foi um massacre, uma verdadeira guerra', diz uma liderança que não quis se identificar por medo de vingança. 'Estava com meu neto de um ano no colo. “Ele foi atingido por balas de borracha e chegou a desmaiar’, conta Leni, outra das indígenas do movimento”. Assassinaram Vilhalva, a principal liderança.

O GOVERNO DO PT ESCOLHEU UM LADO
“São mentiras, mentiras e mentiras. O Governo está sem credibilidade. A verdade é que, se eles quisessem resolver a questão já teriam resolvido”, reclama Roseli em entrevista ao jornal El País. O governo propõe uma mesa de negociação, o que não atende as necessidades indígenas, que já sentaram para negociar em 2013 e não obtiveram o acordo esperado. Além disso, a demarcação das terras foi conquistada em 2005, mas, não foi aplicada até hoje. Portanto, os indígenas estão céticos com o governo e afirmam que cansaram de esperar.
Além disso, Dilma mantém no ministério da agricultura, uma eximia representante dos latifundiários brasileiros, Katia Abreu e ao pactuar a “Agenda Brasil” que é um conjunto de medidas tiradas pelo governo para responder a crise, também abre a procedência para rever todas as demarcações de terras indígenas existentes hoje, ou seja, se depender do governo do PT/PMDB e da oposição burguesa do PSDB, a drama que vivem os Guarani-Kaiowá se estenderá para outros povos indígenas.    
SOMOS TODAS GUARANI-KAIOWÁ!

É visível então, que os índios demonstram uma força muito grande. Sofrem represálias das mais violentas, mas, tem consciência de que sua resistência coloca a luta indígena em um novo patamar. A imagem de que resistem com paus e arco e flecha contra armas de fogo é ilustrativa para demonstrar a luta de um povo que não tem nada a perder e opta por morrer lutando do que por morrer como escravos desses sinhôs de gados.
Impressionante ver como o machismo e a sua face mais nefasta, a violência sexual contra a mulher, é arma consciente de Pio e seus capangas. Os estupros são narrados pelos indígenas como um dos ataques que vêm sofrendo. São utilizados para desmoralizar um povo. Esse ato de barbárie deve ser condenado e convoca o movimento feminista a se identificar com cada mulher indígena. Mais do que isso, convoca o movimento feminista é ser também o movimento dessas mulheres.
Além disso, há outra importante identidade. Os indígenas são um povo oprimido em nosso país. Foram expropriados de suas terras, mas, também de sua cultura e história. Foram empurrados à margem de nosso país, sendo violentados, massacrados e ignorados. Essa

opressão nos é muito dolorida. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada dez segundos. Isso significa que vivemos em um país de opressão, isto é, um país onde a classe dominante utiliza toda a forma de opressão para se manter no poder e humilha e assassina mulheres, negros, lgbtt's, indígenas e imigrantes. A luta dos Guarani-Kaiowá é uma luta de todos nós, pois, de um jeito ou de outro, é a nossa realidade. Nesse sentido, somos todos literalmente, Guarani Kaiowa.
O MML se solidariza com essa luta e se soma à sua resistência compondo a caravana de trabalhadores e trabalhadoras, tirada do Encontro Nacional de Lutadores, que vão até o Mato Grosso do Sul prestar seu apoio e solidariedade de classe aos Guarani-Kaiowá. Além disso, exigimos do governo a demarcação de terras já e o fim da impunidade para os latifundiários, que respondam pelos crimes de violência sexual contra as mulheres e assassinatos.



segunda-feira, 28 de setembro de 2015

ROMPENDO O SILÊNCIO! CHEGA DE MORTES DE MULHERES NO BRASIL!

 Silvia Ferraro, da executiva nacional do Movimento Mulheres em Luta

O dia 28 de setembro é o dia Latino Americano e Caribenho de luta pela descriminalização e legalização do aborto. Não por acaso são as mulheres do nosso continente que tiveram que reservar um dia do calendário para fazer ecoar a voz e o grito de milhares de mulheres que sofrem, ficam com sequelas ou morrem, vítimas das leis restritivas que são majoritárias nos países da América Latina e do Caribe.
É a América Latina que tem, relativamente, o mais alto número de abortos em todo o mundo, além de ser, depois da África, o continente em que o risco de vida para a mulher é maior. Comparando com a Europa, em que o risco de representar perigo para a mulher é de 9% e da América do Norte em que é de -0,5%, entre nós, latino-americanas, o risco é de 95%.
Estudos da Organização Mundial de Saúde mostram que são justamente nos países com legislação mais restritiva ao aborto, onde eles mais acontecem e onde representam mais riscos para as mulheres. Não por coincidência, também são nos países empobrecidos pela exploração imperialista, onde a legislação proíbe e onde as mulheres mais morrem.
Em países em que a legalização é recente como no Uruguai (2012), as mortes maternas por aborto foram zeradas. A legalização também permitiu uma diminuição do número de abortos, pois as mulheres, ao terem acesso ao aborto legal no sistema de saúde, também são orientadas aos métodos contraceptivos.

Brasil: o que não avança, retrocede...

No Brasil, o aborto continua sendo a 5º causa de morte materna. A cada cinco mulheres, uma já fez aborto. Estima-se que sejam feitos 1 milhão e 700 mil abortos por ano e que haja cerca de 200 mil mulheres que ficam com sequelas ou morram.
As mulheres que morrem são as trabalhadoras, pobres e na sua maioria negras, demonstrando que a lei serve para criminalizar as mulheres de forma seletiva. As mulheres que não têm condição e fazem o aborto clandestino, as pobres, muitas vezes negras, excluídas socialmente, são aquelas que acabam perdendo o útero, perdendo as capacidades reprodutivas e muitas vezes, a vida. São aquelas que fazem o procedimento em lugares sem limpeza e esterilização necessária, acabam com o útero perfurado, entre outras coisas”, é o que disse o presidente do Conselho Federal de Medicina, que se posicionou favorável à permissão ao aborto até a 12ª semana de gestação.
Os mais de 12 anos de governo do PT, sendo quase 5 anos do mandato de uma mulher na presidência não significou a oportunidade das mulheres trabalhadoras, negras e pobres brasileiras deixarem de morrer ou de ficarem sequeladas por terem que amargar esta legislação retrógrada do nosso país. O Brasil poderia ter sido exemplo, sendo o maior e mais influente país da América Latina que poderia ter avançado e legalizado o aborto, poupando as vidas de milhares de mulheres, mas ao invés disso, o governo Dilma resolveu fazer um pacto com a bancada fundamentalista do Congresso Nacional. Já na sua primeira eleição para presidente em 2010, Dilma escreveu a “Carta ao povo de Deus”, em que dizia: “Lembro também minha expectativa de que cabe ao Congresso Nacional a função básica de encontrar o ponto e equilíbrio nas posições que envolvam valores éticos e fundamentais, muitas vezes contraditórios, como aborto, formação familiar, uniões estáveis e outros temas referentes tanto para as minorias como para toda a sociedade brasileira”. Dilma já entregava todos estes temas ao Congresso, em troca do apoio dos políticos conservadores durante a campanha eleitoral.
Hoje vemos as consequências nefastas deste pacto. O Congresso Nacional, dominado por Eduardo Cunha do PMDB, partido aliado do governo Dilma, hoje coloca em pauta retrocessos inclusive para a prática do aborto legal. Está tramitando nas comissões do Congresso o PL 5069/2013, de autoria de Eduardo Cunha, que restringe o aborto legal e as medidas de profilaxia, como a pílula do dia seguinte, para as vítimas de estupro. O aborto legal já é difícil de ser realizado no Brasil. São poucos os hospitais que fazem o procedimento. E agora Cunha, junto com os deputados reacionários, quer acabar até mesmo com o pouco que existe.
Engana-se quem coloca a culpa pelos retrocessos somente em Cunha e no Congresso. Isso não seria possível se não tivesse existido um governo que tivesse feito um acordo de coexistência pacífica em todas estas questões. Lula e Dilma fizeram um pacto para ganhar as eleições e para governar, passando por cima dos direitos das mulheres, dos negros e negras e dos LGBT’s. Por isso temos um Congresso à vontade para votar a redução da maioridade penal, o “Estatuto da Família” e os retrocessos nos direitos reprodutivos das mulheres.
Agora, com a crise política em que se encontra o governo, Dilma oferece o Ministério da Saúde ao PMDB, em que o candidato ao posto é Manoel Júnior (PMDB-PB), homem ligado à Cunha e aos interesses dos planos privados de saúde. Já podemos imaginar ainda mais ataques à saúde das mulheres. A crise econômica por um lado e a crise política por outro, são a combinação que está justificando a dilapidação das poucas conquistas que os movimentos de mulheres conquistaram. A reforma ministerial vai acabar com a Secretaria de Políticas para Mulheres, assim como com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, ambas secretarias, diga-se de passagem, tinham o mais baixo orçamento dos ministérios. Com o governo Dilma, os direitos das mulheres continuarão sob ameaças e é por isso que o movimento de mulheres consequente tem que se postular contra este governo e este congresso.

O silêncio das mulheres...

Sob a acusação de criminosas, pecadoras, depravadas, irresponsáveis, e um longo etc, é que as mulheres que recorrem ao aborto ilegal são obrigadas a amargar a solidão da escolha, muitas vezes em base ao desespero. O perfil das mulheres que abortam mostra que a maioria são religiosas, católicas (66%) e protestantes (25%), casadas (64%) e já tem outros filhos (81%). Esta mulher quando é trabalhadora, pobre e negra, faz a sua escolha se enfrentando com o Estado que a criminaliza, com a sua própria religião que diz que ela é pecadora, com sua própria família que a recrimina e com toda a sociedade que lhe diz que ela é a escória do mundo. Mesmo contra tudo isso, esta mulher faz a escolha de não querer ter uma gestação e arrisca a sua vida para fazer valer sua decisão. Se esta mulher tivesse nascido na Alemanha, ela teria o aborto garantido por lei, feito pelo Estado, com acompanhamento médico e psicológico, mas como ela nasceu no Brasil e é trabalhadora, pobre e negra, ela pode correr o sério risco de entrar para as estatísticas de mulheres que morrem por aborto ilegal e inseguro.
No Brasil, tão pouco a maternidade é uma escolha para todas as mulheres. Os serviços de saúde pública país afora mostram ainda dados alarmantes de morte materna. (62 mortes a cada 100 mil nascimentos). Entre 2009 e 2011, por exemplo, morreram 1.757 mães brancas e 3.034 mães negras e pardas, 73% a mais. A desigualdade no Brasil tem raça e classe e são as mulheres trabalhadoras e negras que tem tido o direito à maternidade negado por falta de condições mínimas para terem um parto. Depois têm o direito à criação dos filhos também negado, com um déficit de 10 milhões de vagas em creches no país, números que vão piorar com o ajuste fiscal de Dilma, que anunciou cortes de 3 bilhões e meio na educação infantil.
Às mulheres trabalhadoras é negado o direito de serem tratadas como sujeitos capazes de escolher terem seus filhos ou não. A elas, o sistema capitalista tem escolhido a dor, o sofrimento, a solidão, e a morte.

Construir um campo classista das mulheres trabalhadoras para lutarmos de forma consequente pela legalização do aborto no Brasil!

Vemos a maioria dos movimentos feministas lutando contra o Congresso, Cunha e a bancada fundamentalista, porém poupando o governo Dilma. O maior erro que podemos cometer na luta pela legalização do aborto é não saber quem são os reais obstáculos para essa luta. O governo Dilma, que já fez todos os pactos com os conservadores e agora com o ajuste fiscal está entregando ainda mais, já mostrou que não é aliado da luta das mulheres, ao contrário, a ilusão em seu governo, é o que impediu os movimentos feministas de se unirem e avançarem rumo a uma ofensiva neste tema. Por isso, nós do Movimento Mulheres em Luta, fazemos um chamado sincero aos movimentos de mulheres e em especial à Marcha Mundial de Mulheres, para que rompam com o governo Dilma e venham construir um campo classista das mulheres trabalhadoras, nos colocando categoricamente contra Cunha, Aécio, e todo o congresso megaconservador, mas também contra Dilma, que para aplicar o ajuste fiscal, que vai penalizar ainda mais as mulheres trabalhadoras, fará todo tipo de pacto com Cunha e companhia. É necessária uma organização independente das mulheres trabalhadoras para lutar de forma consequente pela legalização do aborto no Brasil!



quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Companheira Cecília Toledo, presente !


Faleceu, no dia de ontem, a companheira Cecília Toledo, autora do livro "Mulheres: o gênero nos une, a classe nos divide" e militante da esquerda brasileira desde 1970.

Cecília foi referência teórica e prática na luta combinada contra o machismo e a exploração capitalista para toda uma geração de ativistas e militantes de esquerda. Seu livro, citado acima, se apresenta em um contexto difícil da luta de classes, respondendo a a polêmicas internacionais acerca da consequência na luta contra a opressão machista.

Porém, sua militância já vinha de muitos atos corajosos. No período da Ditadura militar, utilizava a arte para denunciar o regime e organizar os trabalhadores. Seguiu disputando consciências também a partir do teatro. No Brasil, construiu o PSTU desde a época da liga operária e pela Liga Internacional dos trabalhadores- LIT, militou em diversos países. 

Para as mulheres que constroem a luta classista contra a opressão, que compreendem que só alcançaremos a emancipação plena de gênero quando destruirmos a sociedade capitalista que se beneficia do machismo para lucrar sobre nossa força de trabalho, e portanto, não tem interesse em acabar com esse tormento que vivem as mulheres, para aquelas que assim como Cecília, dedicam sua vida a construção de uma organização política socialista e revolucionária e, a partir daí, se empenham na tarefa de organizar as mulheres trabalhadoras como protagonistas dessa luta, para essas mulheres fica a dor, mas principalmente a certeza que a luta segue até a vitória!

Para aquelas que não a conheceram, abaixo uma de suas obras sobre a questão da mulher, um livro que educou diversas gerações na luta feminista classista, uma parte de sua essência, pois Cecília era muito mais. 

Mulher, mãe, jornalista, escritora, atriz, ativista na luta das mulheres, militante revolucionária!

Cecília Toledo presente!


segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Cunha quer aprovar projeto que impede prevenção de gravidez consequente de estupro!

Está previsto para a próxima terça-feira (22/09) a votação, na câmara federal, do Projeto de Lei 5069/2013 de autoria de Eduardo Cunha que proíbe a distribuição da pílula do dia seguinte e o atendimento de saúde as mulheres vítimas de violência sexual. 

O texto original de Eduardo Cunha/PMDB já previa detenção a toda pessoa, inclusive profissionais de saúde, que orientasse uma mulher quanto aos procedimentos seguros para a pratica do aborto. O que era ruim, conseguiu ficar pior com as emendas do apresentadas pelo deputado Evandro Gussi do PV/SP que aponta a desobrigatoriedade de profilaxia em caso de estupro e retoma a necessidade de corpo de delito para que a mulher comprove a violência sofrida. 

Não é possível aceitar a aprovação de projetos como esse que desconsideram as centenas de vítimas de violência sexual, nesse país. Segundo o anuário de segurança pública de 2013, a cada hora seis mulheres são estupradas no Brasil. Pesquisa do IPEA aponta que somente 10% dos casos de estupro são denunciados a polícia. As mulheres sofrem em silêncio.

Contudo, no primeiro governo de uma mulher, os direitos e bandeiras históricas do movimento feminista foram tratados como moeda de troca. Dilma abriu mão do kit anti-homofobia, de encarar o debate sobre a legalização do aborto e tantos outros temas importantes para os setores oprimidos em troca de base de sustentação do seu governo pelos setores conservadores. Esses setores se sentem muito à vontade para encaminhar esse tipo de projeto, pois sabem que o governo não tem moral e nem interesse de barrá-los.

Nós já vivemos um cotidiano de profunda tensão por medo de andar sozinhas nos locais públicos, seja no bairro, no trajeto de volta do trabalho ou da escola, seja mesmo dentro do transporte público.Quando sofrem uma violência ainda são questionadas quanto ao grau de responsabilidade que tiveram com o fato. 
Esse projeto reforça todo esse cotidiano de negligência do Estado e de opressão da sociedade, punindo duplamente a mulher. 

Vale ressaltar que o projeto iguala a prevenção de uma gravidez fruto de estupro com a prática do aborto, o que já foi cientificamente comprovada a diferença de situações. Não vamos nos calar diante de mais um projeto reacionário que ataca diretamente os direitos democráticos das mulheres.



segunda-feira, 14 de setembro de 2015

MULHERES TRABALHADORAS CONTRA DILMA, CUNHA, TEMER E AÉCIO DERROTAR O AJUSTE E LUTAR POR CRECHE, EMPREGO E COMBATE A VIOLÊNCIA!



  • Manifesto das organizações de mulheres convocando para a Marcha dos trabalhadores e trabalhadoras que acontecerá em São Paulo no dia 18.09


Nós, mulheres trabalhadoras, vamos às ruas no dia 18 de setembro contra o governo de Dilma/PT e contra a velha oposição de direita. No mandato da primeira mulher presidente nós estamos sendo massacradas pela inflação e a carestia de vida. O desemprego é um risco que se tornou realidade para muitos trabalhadores, e com maior peso para nós mulheres, que representamos, no primeiro trimestre de 2015, 9,6%, dos desempregados. Além disso, diversos direitos trabalhistas estão sendo atacados como o acesso ao PIS, seguro desemprego, licença saúde e o projeto de terceirização que ameaça a própria CLT.  


Dilma retirou o status de ministério da secretaria de políticas para as mulheres e investiu míseros 26 centavos para cada vítima de violência, nos últimos 10 anos, enquanto o Brasil segue ocupando a sétima posição no ranking de países que mais matam mulheres e amarga o índice de cerca de 50 mil casos de estupros ao ano. Já cortou cerca de R$11 Bilhões da educação, refletindo R$ 3,5 Bilhões das creches. Milhares de mulheres e crianças seguiram sem acesso a uma vaga. Esse corte também acaba com as já poucas políticas de permanência das mulheres jovens nas universidades, sem contar os cortes nas bolsas do Fies.


O governo Dilma já escolheu as mulheres que quer ao seu lado. Tem no ministério da agricultura Kátia Abreu, verdadeira representante dos latifundiários e do agronegócio, no momento em que a população indígena e quilombola vêm sendo assassinada e expulsa de suas terras, como é o caso dos Guarani-Kaiowá, no MS. Cortou R$ 17,23 Bilhões do orçamento do ministério das cidades, o que comprometeu a 3ª etapa do programa “Minha casa, minha vida” cujo título saia no nome das mulheres. E , por outro lado, se cala diante das violentas reintegrações de posse que ocorrem em todo o país, que colocam as mulheres e seus filhos no meio da rua, sem qualquer amparo. Por tudo isso, não nos representa.


Todavia, a direita tradicional, que tenta se apresentar como alternativa, também não nos serve. Cunha, Renan, Temer (PMDB) e Aécio(PSDB) são autores de projetos que atacam o povo pobre e os setores oprimidos, além de serem velhos conhecidos de processos de corrupção e desvio de verbas públicas. Políticas como a redução da maioridade penal que reduz o futuro dos nossos filhos, oficializa o extermínio da juventude negra e descrimina ainda mais o sofrimento da mulher negra e pobre. Assim como a retirada das questões de gênero dos currículos nas escolas, o que impõe um cotidiano de preconceito e violência entre os estudantes são medidas defendidas pela oposição burguesa que atacam os direitos democráticos de mulheres, negros e negras e LGBTs.
Dilma, ao fazer acordos com os setores conservadores do congresso, deixa centenas de mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais expostas e vulneráveis, o que faz com que o Brasil seja o país com maior índice de assassinatos de lgbt’s. Somente em 2013 foram 121 casos. Também expõe as mulheres lésbicas ao risco da pratica de estupros corretivos, originados como repulsa a orientação sexual.


Pela organização independente dos Trabalhadores e trabalhadoras


O nosso lugar é junto ao movimento geral dos trabalhadores, incorporando as demandas das mulheres por creche, equiparação salarial e salário igual para trabalho igual, combate a violência, legalização do aborto, etc. como parte das reivindicações gerais da classe trabalhadora. Engana-se quem acredita ser Dilma o mal menor, os trabalhadores com sua força podem derrotar o governo e suas medidas, sendo que nós mulheres temos um papel importante nesse processo.


Vamos às ruas, também, em solidariedade aos refugiados do Norte da África que enfrentam a crueldade dos governos europeus, assim como aos haitianos que também fogem de seu país, ocupado por uma força militar internacional tendo as tropas brasileiras à frente, e que enfrentam o racismo e a xenofobia no Brasil. Sendo ambos os processos fruto da exploração capitalista e mais diretamente, das guerras e da crise econômica mundial. É necessário que Dilma não só diga que o país está de braços abertos para os imigrantes, mas que garanta condições concretas para recebê-los, além de ser urgente a retirada das tropas brasileiras do Haiti.


Nesse sentido, nós, que fazemos parte de diversos movimentos de mulheres trabalhadoras estamos construindo a Marcha dos Trabalhadores e Trabalhadoras, que ocorrerá no dia 18 de setembro, às 17h, na Av. Paulista (concentração desde as 15h no vão do MASP) e o Encontro de lutadores que acontecerá no dia 19/09, no sindicato dos metroviários de São Paulo. Chamamos todas as trabalhadoras para vir protestar conosco. E em nome da unidade, chamamos as organizações feministas, como a Marcha Mundial de Mulheres, as secretarias de mulheres da CUT e CTB, a romperem com o governo e se somarem nessa luta.

Assinam: Movimento Mulheres em Luta (grupos organizadores de Brasilândia; Tabõao da Serra; Mogi das Cruzes; Zona Sul e Leste); ANEL; Luta popular; Juntas; Coletivo feminista classista Ana Montenegro; Aliança Anarquista; Grupo de mulheres Pão e Rosas; Secretaria de mulheres do Sindicato dos Metroviários de São Paulo; Secretaria de Mulheres do Sindicato dos trabalhadores da USP; Pra Além dos muros do Machismo-USP; Marias Baderna - Coletivo Feminista da Letras USP.

Campanha Nacional contra a violência à mulher trabalhadora

Campanha Nacional contra a violência à mulher trabalhadora

Chega da violência contra as mulheres!

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