segunda-feira, 25 de julho de 2016

Aquilombar o MML para unificar as mulheres trabalhadoras! Fora Temer fora todos que nos oprimem e exploram

# “Mulheres Pretas têm história” - Manifesto aprovado no encerramento do 1º Seminário Nacional de Mulheres Negras do MML



Nós, mulheres trabalhadoras negras e não negras, indígenas, quilombolas, camponesas, trans, lésbicas, bissexuais, haitianas, africanas, cubanas e brasileiras estivemos presentes ao I seminário de mulheres negras do MML, com o objetivo de discutir a relação de gênero, raça e classe, resgatando a história de luta e resistência das mulheres negras.
O Seminário foi realizado nos dias 23 e 24 de julho, organizado pelo Movimento Mulheres em Luta, Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe e setoriais da CSP-Conlutas, e contou com a presença de 400 trabalhadoras que reafirmaram: “As Mulheres Pretas têm História. E fazem História”.
Não por coincidência, o seminário se realizou no mês das pretas, em que comemoramos o dia internacional latino-americano e caribenho da mulher negra e o dia da mulher africana, num momento em que há um ascenso das lutas negras em todo o mundo.
A luta classista deve necessariamente ter um recorte de gênero e raça, pois se é verdade que o machismo é um inimigo mortal das mulheres trabalhadoras, também é verdade que no caso específico das mulheres negras, o machismo aliado ao Racismo age violentamente, faz com que suas identidades sejam negadas, furtadas e violadas pelo sistema.
Lutar contra o racismo e derrotar a visão de um movimento de mulheres embranquecido são condições para unificar as trabalhadoras e construir um movimento de mulheres realmente classista e socialista.
Um ponto de acúmulo do debate foi a especificidade da mulher negra. Isso significou debater o que é ser negra: é o reconhecimento da discriminação carregada de sentido, que vai desde o corpo, a cor da pele e o afastamento de seu território de origem. As mulheres negras são as únicas que, antes mesmo de serem identificadas como mulheres, são estigmatizadas pela cor da pele, o que faz com que sejam desumanizadas. Seu corpo é transformado em objeto hipersexualizado. Identidade que lhe foi roubada pela dispersão da diáspora, pela escravidão e pelo submetimento de povos inteiros para favorecer a exploração capitalista.
No Brasil, as mulheres negras seqüestradas de seus territórios foram imediatamente submetidas à exploração do modo escravista, elas estão fortemente marcadas por centenas de anos de submissão à tortura, ao trabalho forçado, a constantes estupros, à “coisificação”, enfim, desumanização e violação de direitos humanos e sociais.
A resistência é uma marca das mulheres negras. A história demonstra que, desde o início da colonização, nós lutamos contra o sistema opressor capitalista. Nossas lutas se dão na organização de fugas, na construção de quilombos, em movimentos emancipatórios etc. À frente dos quilombos, estiveram lideranças como Aqualtune, Teresa de Quariterê, Dandara, Luisa Mahin. A raiz disso está na nossa ancestralidade Africana onde as mulheres exerciam o poder na organização social política e religiosa, eram rainhas, sacerdotisas e guerreiras.
Resgatando essa história, o Seminário reafirmou a importância de pensar a realização da identidade da mulher negra de modo coletivo em conjunto com a classe trabalhadora em contraposição às saídas capitalistas de empoderamento individual, que não têm servido aos interesses históricos e imediatos da classe trabalhadoras. Por exemplo, o presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama, não impediu as inúmeras mortes racistas em Baltimore. Não basta ser negro, tem que defender a classe trabalhadora.
No Brasil há um racismo institucionalizado e não há políticas de ação afirmativa consequentes. O governo Dilma (PT), que apoiou os banqueiros, os patrões e o agronegócio contra nossas quilombolas e indígenas, não respondeu às demandas sociais das mulheres negras, que continuam na base da pirâmide social, são as principais vítimas de violência doméstica, sexual, econômica e psicológica.  E o que temos pela frente com este governo provisório de Temer é um aprofundamento ainda maior contra a classe trabalhadora negra e pobre deste país. Um dos maiores crimes contra o povo negro foi a ocupação militar no Haiti, que começou com PT e continua com Temer.
Para as mulheres negras a combinação do machismo com o racismo representa, entre outras coisas, um aumento nos índices de violência, de estupro e assassinatos, como expressou o mapa da violência contra a mulher. Enquanto os casos de violência à mulher negra aumentaram 54%, entre as mulheres brancas diminuiu 10%. Por isso afirmamos que a cultura do estupro é resquício da escravidão e manutenção da cultura da classe dominante. O Brasil também é o país com maior número de assassinatos LGBTs e, dentro dessa estatística, também estão as mulheres negras.
Apesar dos trágicos números, há uma resistência no país contra os ataques do governo e ela é fortemente negra, feminina e LGBT. As greves da educação, as ocupações de escola, as lutas quilombolas e as greves operárias, as lutas contra a lgbtfobia, contra a cultura do estupro, contra a violência policial têm sido expressão da ação dos trabalhadores em luta contra os ataques. Ao mesmo tempo, os governos respondem contra-atacando com medidas duras de ajuste fiscal e controle da classe, como por exemplo a proposta de reforma da previdência por um lado e por outro o projeto da escola sem partido, que busca calar e criminalizar profissionais da educação e estudantes, além da lei antiterror, que visa criminalizar os lutadores.
As mulheres negras trabalhadoras e de luta não cederam e não cederão à casa grande e nem aos capatazes. Por isso o seminário expressou um grande sentimento contra o volta Dilma, pois ela não representou os interesses das mulheres negras trabalhadoras. Estamos pelo “Fora Temer e Fora Todos que oprimem e exploram a classe trabalhadora”.
Defendemos a construção de uma grande greve geral, em defesa dos interesses das mulheres negras e trabalhadoras, por eleições gerais com novas regras e um amplo processo de aquilombamento das lutas e da resistência.
Esse manifesto é pequeno para o tamanho das nossas ideias e para nossos desafios. Apenas começamos.  A próxima tarefa é compilar todas as propostas que surgiram nos riquíssimos grupos de debate. Vamos enegrecer o MML fazendo um amplo debate nas suas instâncias e em cada local onde nos organizamos para estabelecer um forte programa para atuar nas lutas das mulheres trabalhadoras.
Somos mulheres pretas construindo história!






quarta-feira, 22 de junho de 2016

Mulheres Pretas tem História - seminário nacional

Nos dias 23 e 24 de Julho, realizaremos o 1º Seminário Nacional do MML sobre Mulheres Negras. Esse espaço, que terá caráter de formação, foi parte das deliberações do nosso 1º Encontro Nacional e será de grande importância para avançarmos em uma atuação de
gênero, raça e classe.

Partimos da compreensão histórica de que o sistema escravista deixou resquícios nefastos para os negros e as negras da nossa classe, até os dias de hoje. Seja na manutenção da população negra nas condições sociais mais pauperizadas e nos postos de trabalho de maior exploração e precarização. Seja na reprodução da ideologia do mito da democracia racial, que faz com que a sociedade brasileira, incluindo dirigentes sindicais e movimentos sociais, não considere as diferenças estabelecidas entre negros e não negros no cotidiano.

No caso das mulheres negras, a situação é ainda pior, pois a combinação do machismo e do racismo impõe um grau de opressão e exploração absurdo, que se reflete também na organização para lutar, separando as mulheres negras dos movimentos feministas gerais.

Entendendo que somos um movimento de mulheres trabalhadoras, é necessário que assumamos a tarefa de superar essa dicotomia e avançar na organização de um programa e uma entidade na qual as mulheres negras tenham voz e possam se sentir representadas, sem a pretensão de substituir qualquer forma organizativa própria do feminismo negro ou dos movimentos de luta pela questão racial. 

Nesse sentido, o Encontro constituirá uma espaço de formação, debate e troca de conhecimentos e experiências. Paralelamente, será também uma forma de saudar a coragem e disposição de luta demostradas pelas mulheres negras ao longo da história, liderando quilombos e terreiros; preservando os elementos africanos na cultura brasileira; sendo o sustento da família negra no período pós-abolição e até os dias de hoje, em que muitas delas criam seus filhos sozinhas.

A partir daí, farão parte do debate temas como a identidade e resistência da mulher negra, o machismo e o racismo no mundo do trabalho e no sindical, as religiões de matrizes africanas, assim como as formas culturais de resistência.

Em um momento em que as mulheres negras são vanguarda em lutas importantes da classe trabalhadora e da juventude, esse seminário ganha um destaque ainda maior, pois "Mulheres pretas têm e continuam fazendo história"!

domingo, 5 de junho de 2016

Punir o estupro, não a mulher! Seguiremos nas ruas e nas lutas com a classe trabalhadora!

Junho começou com o grito das mulheres contra a violência sexual


A última quarta-feira foi marcada por uma maré de mulheres que tomaram as ruas em diversas cidades. Em são Paulo participaram 15 mil pessoas, no Rio de Janeiro 10 mil, Belo horizonte, Porto alegre, Fortaleza, Aracaju e mais de 40 cidades também tiveram suas versões da manifestação “Por todas elas”.
O motivo? A princípio, a indignação pelo caso de estupro coletivo ocorrido no Rio de Janeiro. Mas não só isso, fomos às ruas para denunciar a cultura do estupro que naturaliza a violência sexual e busca argumentos para responsabilizar a vítima. Também tomamos as ruas para denunciar a negligência dos governos com as políticas para as mulheres e a conivência com projetos reacionários como o estatuto do nascituro, o PL 5069/13, o estatuto da família e os planos de educação que excluem o debate sobre gênero.   
A realidade que vivemos não nos permite pensar em ficar calada. A cada 11 minutos uma de nós é vítima de estupro em algum lugar do país, a cada 5 minutos uma de nós é espancada e a cada 1 hora e meia uma de nós perde a vida por conta do machismo. Diante de números tão alarmantes as políticas implementadas para garantir a vida das mulheres foram totalmente insuficientes.
A Lei Maria da Penha, conquista do movimento de mulheres, que foi promulgada há dez anos, teve muita propaganda pelo governo do PT, mas não contou com os investimentos necessários para se efetivar. As delegacias de mulheres seguem funcionando no horário comercial e concentradas nos centros das cidades. Dos 27 centros especializados prometidos por Dilma em 2014, apenas três estão em funcionamento. Além dos sucessivos cortes no orçamento da Secretaria de políticas para mulheres, que fez com que tivéssemos apenas R$0,26 centavos por cada mulher vítima de violência.

Governo Temer e sua secretária não nos representam!

Mudou o governo, mas não mudou a negligência com o tema das mulheres. Temer assume interinamente a presidência e já deixa evidente qual será sua postura frente a luta das mulheres trabalhadoras. O fechamento da secretaria e depois a indicação de uma representante da bancada conservadora para a pasta é uma afronta a toda luta que nós estamos travando. Fátima Pelaes é contra a legalização do aborto mesmo nos casos de estupro, foi presidente da Frente Parlamentar da Família e Apoio à Vida e votou contra o projeto de lei do Chico Alencar que previa salário igual para trabalho igual nas empresas. Além de estar envolvida em casos de desvio de verbas públicas no ministério do turismo. Ou seja, enquanto milhares de mulheres estão sendo demitidas, tem seus direitos atacados como a aposentadoria e seguro-desemprego, enfrentam o aprofundamento da violência machista como reflexo da crise econômica, o governo do PMDB quer nos impor uma falsa representação.
Por isso, durante todos os atos ecoava um grito de indignação que exigia o Fora temer, que afirmava que Fatima não representa nossa luta, comemorava-se a saída de Cunha e se exigia que Bolsonaro, Malafaia e Feliciano o acompanhem.


Mulheres e homens da classe trabalhadora contra a violência machista


Diversas entidades dos trabalhadores também se posicionaram na defesa dos direitos das mulheres. A coordenação nacional da CSP-Conlutas - central sindical e popular- aprovou moção de repúdio e encaminhou para as instâncias das entidades filiadas; o seminário da campanha salarial dos trabalhadores da construção civil de Belém também fez o debate sobre o tema e se posicionou repudiando os casos de violência.  Essas são iniciativas importantes e é necessário combinar cada vez mais as lutas gerais com o combate a toda forma de opressão, isso porque são as mulheres e homens da classe trabalhadora que podem destruir as bases de sustentação do machismo que é a sociedade capitalista.



Uma segunda rodada de atos já está sendo convocada. É preciso seguir ocupando as ruas, já que a guerra esta apenas começando. É preciso exigir o arquivamento do PL5069/13 que foi aprovado na CCJ; exigir o não pagamento da dívida pública e a aplicação de 1% do PIB para as políticas de combate a violência machista; a punição imediata dos estupradores e parte de nossas tarefas também por pra fora o temer e todos os governos que oprimem e exploram as mulheres trabalhadoras!







Ato na paulista, em São paulo


Ato no Capão redondo, zona sul de São Paulo


Ato em Teresina, Piauí

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Da cultura do estupro a violência do Estado. Não nos calaremos! Basta de violência machista!


A notícia de um estupro praticado por 30 homens à uma jovem de 17 anos causou comoção em muitos usuários de redes sociais no Brasil. A menina estava alcoolizada e sob efeito de outras substâncias, ou seja, não tinha condições de reagir a tamanha violência. O sentimento esperado é de indignação e total repúdio a este ato, porém não foi a única reação que vimos repercutir.


Esses homens, não apenas violentaram sexualmente a menor, como expuseram na internet o vídeo de tal episódio e, com isso, fomos bombardeadas (Sim, digo “fomos” porque todas  as mulheres sentiram na pele a dor de cada comentário!) por argumentos dos mais diversos que pactuavam com a situação, que achavam natural o acontecido ou que buscavam justificativa para tamanha violência a partir do comportamento da vítima.



Frases como “Ela usou droga por que quis” ou “Deu bobeira, foi amassada”, ou aquelas argumentações já conhecidas de que “ela não deveria estar naquele lugar, com aquela roupa”, etc. são evidências de quanto o machismo e a violência, sobretudo a sexual, são naturalizados em nossa sociedade, o quanto a responsabilização da vítima é vista como elemento de ponderação para avaliar os casos, o quanto nossa liberdade e poder de decisão são ignorados cotidianamente. Não há nenhuma reflexão, a não ser pelas próprias mulheres, de que esses homens sabiam o que estavam fazendo, não agiram por impulso, não filmaram e divulgaram tais imagens sem saber o que estavam fazendo. Pelo contrário, estavam bastante confortáveis e embasados na ideologia do machismo, na idéia de que as mulheres são objetos sexuais e que podem ser tratadas de qualquer forma. É essa ideologia que faz com que a mãe de um deles afirme que “o filho errou, mas quem o conhece sabe que ele não é assim”, que faz com a imprensa utilize o termo “jovem que supostamente sofreu estupro coletivo” e dê bastante ênfase ao fato dela ser usuária de drogas há cerca de 3 anos.


É preciso dizer as coisas como elas são. Não foi um erro o que aconteceu, foi um crime! Não foi um ato isolado, certamente esses homens já cometeram outros atos de violência contra as mulheres que, podem não ter sido tão bárbaros, mas que com certeza deixaram marcas. Como pode ser um suposto estupro se tem o vídeo postado pelos próprios agressores se vangloriando do feito? Qual a relevância da informação de que ela é usuária de drogas? Por acaso isso diminui a responsabilidade dos estupradores? Não.


Toda essa naturalização e a busca de justificativas fazem com que milhares de mulheres sejam violentadas, todos os dias, no país e no mundo. Quando saem para o trabalho, quando voltam da escola ou quando ficam sozinhas em casa são alvo de agressões e de culpabilização. Somente em São Paulo, a maior cidade do país, a cada 1 hora uma mulher é vítima de estupro. Em pesquisa realizada pelo sindicato de metroviários de São Paulo com usuárias do transporte coletivo, mais de 80% das mulheres relataram já terem sido assediadas nos vagões e estações. Já vimos casos de mulheres que ao irem à delegacia denunciar um caso de abuso, foram vítimas novamente, por parte daqueles que deveriam protegê-las.


Por isso, é muito importante localizar que a responsabilidade por casos como esse, não são apenas daqueles que o cometeram diretamente. A falta de investimento público nas políticas para as mulheres cobram seu preço. Infelizmente no governo da primeira mulher presidente no país tivemos míseros 0,26 centavos investidos por cada vítima da violência machista. Além disso, nossas pautas sofreram também com os acordões entre os governos e a bancada conservadora, como o que impediu a ida dos kit’s anti- homofobia para as escolas em 2011, ou o que fez o governo do PT se calar frente ao PL 5069/13 do Eduardo Cunha e, mais recentemente, a retirada da discussão de gênero do Plano Nacional de Educação que teve reflexo nos planos estaduais e municipais.


Sabemos que o descaso com a pauta das mulheres segue no atual governo Temer/PMDB e que a oposição do PSDB tão pouco tem compromisso com nossos interesses. Por isso, para arrancarmos qualquer conquista é necessário seguirmos intensificando a nossa luta, junto com a classe trabalhadora, derrotando todos os ataques dos governos e da bancada conservadora; impondo a discussão sobre o machismo e todas as formas de opressão nos diversos espaços como brilhantemente têm feito os secundaristas nas ocupações de escola e os trabalhadores em suas greves e mobilizações; realizando manifestações e fazendo repercutir casos como esse estupro coletivo, que passaria isento pela imprensa burguesa.


Muitas de nós já tombaram nas fábricas, nas escolas, nos transportes coletivos, nas ruas escuras. Não deixaremos que sejam esquecidas!É preciso transformar toda nossa indignação em força para lutar, é necessário seguirmos firmes na tarefa de destruir essa sociedade capitalista que reproduz e incentiva o machismo e toda forma de opressão para garantir seus lucros.  


Nenhuma mulher a menos! Nenhuma de nós merece ser estuprada! Não aceitaremos mais nenhuma mulher vitima da violência machista!Punição aos estupradores! 1% do PIB para as políticas de combate a violência contra a mulher! Basta desses governos que oprimem e exploram as mulheres trabalhadoras!


sexta-feira, 13 de maio de 2016

ENFERMAGEM: MULHER, TRABALHADORA EM RESISTÊNCIA À PRECARIZAÇÃO E DESVALORIZAÇÃO DE SEU TRABALHO.

Por Karine Rodrigues, enfermeira e ativista do MML DF


No dia 12 de maio comemoramos o dia internacional da enfermeira e dia 20 o dia da técnica de enfermagem. Durante esse período as trabalhadoras de enfermagem refletem sobre suas perspectivas profissionais, seu papel social, desafios a serem superados e conquistas a serem alcançadas.
Os principais questionamentos que pairam sobre as mentes e corações de todas as enfermeiras, seja ela estudante ou profissional já formado, seja na semana de enfermagem ou em qualquer período de sua vida são: Como alcançar a valorização profissional? Como conquistar as vitórias que a categoria necessita, como às 30h e o piso salarial? Essas duas perguntas tem diferentes respostas, a depender do interesse e de quem a responda.
Existem aqueles que afirmam que a enfermagem não consegue sua valorização por ser uma profissão desunida, majoritariamente feminina, por tanto, baseada em intrigas e inveja, o que nos enfraquece. Outros afirmam que somos apolíticos, não sabemos articular com deputados, ministros e senadores para conseguir nossas vitórias.
Essas duas principais opiniões que polarizam a enfermagem estão completamente equivocadas e são construídas por seres externos à profissão e que durante muito tempo tem contaminado o pensamento de enfermeiras e técnicas de enfermagem, para desarticular nossa luta e impossibilitar nossas conquistas.
Um dos motivos principais para a enfermagem ter em sua história tanta dificuldade em unir forças e lutar por suas melhorias está no fato de nós enfermeiras negarmos o papel social e econômico que desempenhamos, além de fugir de nossas origens. Somos uma profissão majoritariamente feminina, que em uma sociedade construída na ideologia machista naturalmente o que fazemos e produzimos de conhecimento será desvalorizado, menosprezado e subjugado ao conhecimento masculino.
Entender que somos essenciais para o funcionamento de qualquer estabelecimento de saúde, que nosso trabalho tem impacto econômico e social e que quem desempenha esse papel, em sua maioria, são mulheres é fundamental para que a gente entenda quais forças e como vamos construir nossas lutas, para sermos coerente com as nossas vitórias.
É preciso romper com a ideologia construída na idade média que a ciência do cuidar é vocacional ou, melhor, desempenhado por mulheres, ou que a  enfermagem é menos científica ou importante por seu conhecimento estar baseado nos conhecimentos e práticas femininas ou que é necessário dar um caráter masculino a profissão para que sejamos mais valorizadas. Essas ideologias são construídas desde a idade média até os dias atuais, legitimada por nós enfermeiras que achamos digna a ideia de exercer uma vocação, não uma profissão.  Esses pensamentos têm como único objetivo legitimar os nossos baixos salários, as nossas jornadas incansáveis e nossa precária situação de trabalho.
Quem exerce vocação a exerce em qualquer lugar, em qualquer circunstância e em qualquer situação. A vocação pressupõe um dom natural, nasce ou não com ela, nega a capacidade e a possibilidade de aprender determinada tarefa ou trabalho, nega a possibilidade da escolha, pois quem tem vocação é chamado para exercer aquela profissão, negando a autonomia de escolha de milhões de mulheres que exercem a enfermagem por terem escolhido o trabalho que estão exercendo. Quem exerce uma vocação não necessita ser remunerada ou sua remuneração pode ser somente um agrado, pois o exercício da vocação é algo natural e voluntarioso e receber por algo que você nasceu para fazer é algo errado, já imaginou uma santa, uma anja ou uma freira recebendo pelo seu trabalho exercido, pelo dom natural que Deus lhe concedeu?
Não podemos negar nossa história, mas precisamos afirmar que é necessário superar os alicerces ideológicos que fazem a enfermagem ser submissa, desvalorizada e subjugada a um conhecimento que em nossa sociedade é mais valorizado do que o nosso.
O conhecimento da enfermagem foi construído por religiosas, prostitutas, bruxas, mulheres, parteiras, curandeiras, benzedeiras, cientistas e lutadoras. Esse conhecimento não é menor por ter sido construído por essas mulheres, muito pelo contrário, essas mulheres com os limites impostos em suas épocas resistiram e tiveram coragem em desafiar a ordem de seu tempo, mas essa história foi superada e é necessário construirmos uma enfermagem de mulheres e homens, baseada em conhecimento social, humano e científico, na luta organizada de nós por nos mesmas e por aqueles que nos apoiam e reforçam nosso trabalho e nossa profissão. É necessário construir o protagonismo feminino dento da enfermagem, o masculino já é naturalmente construído em nossa sociedade, mas precisamos ganhar esses homens que compõem a enfermagem para a nossa luta, para a nossa valorização, pois só vamos arrancar dos empresários da saúde e dos governos dos Estados as nossas conquistas em unidade entre homens e mulheres, trabalhadoras e trabalhadores da enfermagem saindo em luta e resistindo a precarização de nosso trabalho e a desvalorização de nossa profissão.
OBS: tivemos o cuidado de construir esse texto com artigos no feminino, pois a enfermagem é uma categoria profissional composta por 90% de mulheres.





domingo, 24 de abril de 2016

Basta de violência contra a mulher. Basta de naturalizar o machismo!

Temos visto circular nas redes sociais, um vídeo em que o apresentador Ratinho chuta uma caixa de papelão. embaixo da caixa estava a assistente de palco Milene Pavorô. O golpe visivelmente atingiu a moça que saiu do palco bastante constrangida.
Sem nenhum tipo de preocupação, Ratinho ainda queria mantê-la na apresentação, como se nada tivesse acontecido. diante da sua saída, ameaçou dizendo que " providências serão tomadas, ela vai pra rua".

Como é possível em emissora de TV, o machismo ser reproduzido de maneira tão descarada? a naturalização da violência contra a mulher ser incentivada e tratada como piada?

Você deve achar que todo mundo ficou indignado né? Só que não, os comentários na internet são " Nada demais, é papel dela no programa" ou " foi tudo ensaiando. Ela tá bem". Até um cometário da própria Milene foi postado onde ela afirma que não foi nada demais. Não me admira que ela tenha minimizado, certamente seu emprego estava em risco.

Mas, não ficaremos caladas. Essa reprodução sistemática do machismo e da violência é o que faz do Brasil o 5º país onde mais se matam mulheres; que faz com que mais da metade das mulheres já tenham sido alvo de assédio moral ou sexual, em seu local de trabalho; que faz com que a cada 2 minutos 5 mulheres sejam violentamente agredidas em nosso país.

Não vamos aceitar, são as mulheres trabalhadoras, pobres e das periferias as principais vítimas dessa naturalização e da falta de investimento dos governos nas políticas de combate a violência contra a mulher.

Desde 2013, nós do Movimento Mulheres em Luta, desenvolvemos uma campanha nacional de combate a violência machista. Uma das ações foi coletar assinaturas em um abaixo assinado que exigia a aplicação de 1% do PIB nas políticas de combate a violência. Apresentamos também um projeto do que seria possível fazer, na época,com o orçamento. Uma das medidas seria um conjunto de campanhas informativas e de conscientização para serem veiculadas nos meios de comunicação sobre o que é o machismo, seus desdobramentos e a necessidade de combatê-lo. 

Porém, o que estamos vendo acontecer é exatamente o contrário. Ao longo de todo o ano de 2015 em várias cidades foram votados planos municipais de educação nos quais foi retirado o termo identidade de gênero e proibiu-se qualquer possibilidade de discutir a opressão de gênero, o machismo. 

Diante disso, travamos uma luta árdua para não permitir o retrocesso em nossos direitos. Exigimos a punição ao apresentador ratinho e exigimos mais investimento público nas políticas de combate a violência machista!

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Mulheres, é preciso resistir aos ataques em nossos direitos e derrotar o projeto que sucateia os serviços públicos!

NÃO AO  PLP 257/16! NÃO VAMOS PAGAR PELA CRISE!

Por Ivanilda Reis, coordenadora da FASUBRA e membra do MML RJ

Em um País em que menos de 4% de tudo que se arrecada é destinado ao investimento com Políticas Públicas, em que  aumenta a cada dia o número de  famílias que são mantidas financeiramente por mulheres, uma sociedade machista na qual as mulheres recebem até 30% menos que os homens e apenas 5% ocupam cargos de chefia, não há dúvida de que todos os projetos de retirada de direitos atacam com mais intensidade as mulheres trabalhadoras.

Por não existirem políticas públicas que garantam creche públicas suficientes, parte do salário é destinado para este fim. A tripla jornada é uma realidade na vida das mulheres, pois ainda hoje lhe é cobrada a responsabilidade pela educação dos filhos e os afazeres domésticos. Estas mulheres ainda precisam atender a exigência do mundo do trabalho e estudar, se qualificar cada vez mais. 

Diante desta realidade o PLP 257/16- Projeto de Lei de Autoria do Executivo, que faz parte do pacote de ajuste fiscal iniciado pelo governo Dilma no final de 2014, que traz medidas que visam manter o congelamento de juros e amortização da dívida ao sistema financeiro e aumentar a arrecadação da União, atingem diretamente o serviço público e programas sociais, mas ao ser aprovado, trará danos ainda mais nefastos para as mulheres trabalhadoras.

A não realização de concursos públicos como prevê o PLP 257/16, significa na prática mais sucateamento em todos os serviços públicos utilizados pela população. Tornando ainda mais difícil, por exemplo, o atendimento especializado para as mulheres na rede pública. Além de ser mais um limitador para a entrada das mulheres no mercado de trabalho, visto que os concursos são uma forma de superar avaliações machistas e racistas como ter que responder a quesitos de boa aparência ou a investidas de assédio sexual.  

O PLP 257/16 prevê ainda um grande ataque as mulheres com as mudanças na Aposentadoria, acabando com a diferença de tempo de trabalho para a aposentadoria, em relação ao homem e aumentando ainda mais o tempo de permanência no trabalho para que se tenha direito a aposentadoria. Um verdadeiro ataque a um direito conquistado pelas mulheres na luta.

Esse projeto é uma resposta do governo Dilma, com o apoio da oposição burguesa, para os grandes empresários, banqueiros e todos aqueles que se beneficiam da exploração da mão de obra dos trabalhadores. E  prevê, entre outros;

  •            Não concessão de aumento de remunerações dos servidores a qualquer título, ressalvadas as decorrentes de atos derivados de sentença judicial e previstas constitucionalmente;
  •             Elevação de contribuições previdenciárias dos servidores para 14%;
  •          Reforma do regime jurídico dos servidores ativos, inativos, civis e militares para limitar os benefícios, progressões e vantagens;
  •              Vedação da criação de cargos, empregos e funções ou alteração da estrutura de carreiras;
  •              Suspensão da admissão ou contratação de pessoal;
  •             Implementação de programas de Desligamento Voluntário e Licença incentivada de servidores e empregados.
  •              Redução de 10% da despesa mensal com cargos de livre provimento.


Não vamos pagar pela crise! Esta é a única resposta que nós, mulheres, que somos maioria entre o funcionalismo público e também entre os usuários dos serviços públicos, junto com o conjunto de trabalhadores temos que dar nas Ruas. Temos que ocupar as mobilizações convocadas pelo conjunto dos servidores públicos e com nossas bandeiras, protestarmos contra este ataque aos nossos direitos. Só com uma forte mobilização, uma construção de uma greve geral, barraremos este e outros projetos que retiram direitos dos trabalhadores.

Campanha Nacional contra a violência à mulher trabalhadora

Campanha Nacional contra a violência à mulher trabalhadora

Chega da violência contra as mulheres!

Chega da violência contra as mulheres!