sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

“Que todas as mulheres tenham o direito de viver e criar seus filhos aqui”

Este é o desejo das moradoras do Pinheirinho: uma exigência a todos aqueles que hoje dormem e acordam pensando em como tirar as mais de 5 mil famílias de lá e um desejo simples e sincero que emociona a todos nós, que desde a ameaça da reintegração, dormimos e acordamos pensando em como fortalecer a solidariedade à resistência do Pinheirinho. 

“Através do Pinheirinho, pude ver meu sonho se realizando”
Rose vive no Pinheirinho há quase 8 anos. Trabalhando como diarista, tinha muita dificuldade de seguir pagando aluguel e não contava com a ajuda de seu ex-marido, que tinha problemas com álcool e, por isso, não conseguia emprego. O sonho, que pode parecer simples para alguns, era o de ter uma condição digna de vida para poder criar bem suas duas filhas. Morando no Pinheirinho, livrou-se do aluguel e reverteu o dinheiro para a garantir a alimentação e melhores condições de saúde para as meninas, que hoje tem 20 e 22 anos.

“Tem muito mais mulheres aqui, e as mulheres participam muito”
A história simples e viva de Rose sintetiza que a luta por um direito básico, garantido pela constituição brasileira, que é o direito à moradia, demanda cada vez mais organização e disposição transformadora. E isso não falta! -  garantem as mulheres do Pinheirinho -  que já são a maioria dos que vivem no local. A estatística se confirma, já que as mulheres são a maior parte daqueles que têm menos acesso a direitos sociais, no  Brasil e no mundo.

A ocupação é muito bem organizada e tem nas mulheres um pilar forte de sustentação. Elas participam, opinam, falam dos problemas, das dificuldades e, segundo elas, são muito ouvidas. O que ajuda a garantir isso é a forte presença delas na coordenação dos blocos que dividem  a ocupação. Organização que se fortaleceu ante o enfrentamento com a justiça e a possível entrada da polícia.

Em milhares de lutas salariais, de lutas por educação, por terra, saúde, emprego, a presença de mulheres tem determinado a força e até mesmo a vitória das lutas. No Pinheirinho, não é diferente, segundo as mulheres que conversamos, se as mulheres não estivessem presentes, a luta não teria tanta força quanto está tendo.

“Somos iguais a quem ta lá fora”
Uma das coisas mais faladas pelas mulheres é que os moradores do Pinheirinho, por ser uma ocupação, e não um bairro regularizado, sofrem muito preconceito. E isso tem conseqüências concretas na vida das mulheres trabalhadoras. Por exemplo, uma delas nos contou que não conseguiu um emprego quando contou que morava no Pinheirinho.

Também não faltam histórias sobre dificuldade de matricular os filhos em creches públicas, tanto do Estado, quanto do município. Luana, Luciene e Zilda nos contaram que muitas escolas não reconhecem os comprovantes de residência do Pinheirinho, e para conseguir a matrícula tem de ter  muita criatividade.

“Nossos filhos criam raízes aqui”
Ao contrário de se sentirem rebaixadas, as mulheres possuem a cabeça levantada e têm muita clareza de que elas têm direito de ocupar, uma vez que a moradia está virando um privilégio em nosso país. As mulheres são orgulhosas de terem “filhos pinheirenses”, que nasceram na ocupação e que estão criando raízes ali. Por isso, não há ameaça policial que as faça sair de lá. Diante disso, elas estão se levantando, junto ao exército de lutadores do Pinheirinho.

“Não somos terroristas, somos lutadoras”
Os aliados de Naji Nahas e do Prefeito tucano Eduardo Cury inventam os mais variados argumentos para desqualificar o Pinheirinho e seus moradores. Um deles é espalhar que no Pinheirinho está cheio de terrorista! Os moradores do Pinheirinho foram obrigados a se organizar como um exército popular porque quem ameaçou partir para o embate físico foi a polícia, a mando de uma decisão judicial que favorece os interesses de um empresário que provavelmente mora em uma mansão.

As mulheres e homens do Pinheirinho não têm casa para morar e não tem condições de pagar aluguel, por isso estão lá e organizaram uma verdadeira comunidade. Eles lutam por um direito justo e básico, garantido pela Constituição Federal. Naji Nahas não tem o direito de sobrepor seus interesses particulares à vida dessas milhares de famílias.

“Dizem que mulher é frágil, eu, pelo menos não sou”
A ameaça de invasão da polícia impôs uma grande organização ao movimento. Os moradores e moradoras organizaram um poderoso exército, que mostrava em seus instrumentos de combate que era um Exército Popular para defender o povo. O exército revela uma demonstração de força impressionante, com muita garra e muita verdade presente nos olhos de cada morador. Uma reação tão emocionante quanto óbvia de quem luta por uma existência digna, o que puderam começar a almejar quando foram morar no Pinheirinho.

E para quem acha que as mulheres são frágeis e que ficaram em casa esperando notícias, muito se engana, tinha mulher em várias equipes. E para quem acha que a presença de mulheres fragiliza as equipes, Luana dá o recado: o que? Mulher é frágil? Eu pelo menos, não sou!

Falta de moradia: um  ato de violência contra as mulheres!
As mulheres trabalhadoras brasileiras sofrem com um grande inimigo: a violência  institucionalizada pelo Estado brasileiro, que não garante direitos sociais, como emprego, saúde, educação e moradia.

As mulheres do Pinheirinho são alvo da violência estatal, porque não possuem um direito social básico, que é um teto regular para abrigar suas famílias. E diante das ameaças de reintegração de posse, sofrem, com respaldo da justiça, a violência psicológica, diante do terror imposto pela possibilidade de entrada da polícia com bombas, cachorros, armas.

A Lei Maria da Penha desenvolveu o conceito de violência patrimonial, definida como: “qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;”. Além da ameaça de violência física, este tipo de violência também ameaça as mulheres do Pinheirinho.

As mulheres que querem o direito de viver e criar seus filhos no Pinheirinho estão fazendo história
As mulheres do Pinheirinho já entenderam que para terem este direito básico precisam recorrer a métodos históricos de organização da classe trabalhadora. Métodos esses também desenvolvidos por muitas mulheres trabalhadoras que escreveram na história a força da luta classista e feminista. O Pinheirinho reafirma a história com mãos, braços, pernas e almas de mulheres aguerridas e decididas a conquistarem seus direitos.

O MML apóia a resistência e exige a legalização do Pinheirinho
O MML se solidariza com essas mulheres que, junto com os homens trabalhadores, se insurgem para defender o direito à moradia  e construir os seus destinos. Acreditamos que a entrada da polícia é uma violência a homens e às mulheres, que só sustenta outra violência do Estado capitalista, que é a negação de um direito básico a todos, a moradia. E defendemos a imediata legalização da ocupação, transformando-a em um bairro.

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