terça-feira, 13 de agosto de 2013

Para atendimento integral às vítimas de violência sexual, precisamos de mais verbas para a saúde pública e da legalização do aborto!

No dia 1º de agosto, a presidenta Dilma Roussef sancionou o PL 03/2013, que trata do atendimento integral e obrigatório às pessoas em situação de violência sexual. Esse projeto de autoria de Iara Bernardi, elaborado em 1999, discorre sobre todas as esferas de atendimento que os hospitais e demais órgãos públicos devem realizar para as pessoas que sofrerem algum tipo de violência sexual. As mulheres são os maiores vítimas dessa realidade, portanto, é uma medida de forte interesse das mulheres trabalhadoras, que por sua vez são as que estão mais submetidas ao estupro e à violência sexual e são as menos assistidas pelo Estado.

Diante dessa sanção, desenvolveu-se uma grande polêmica em torno do projeto em função de um artigo que prevê a “profilaxia da gravidez”, ou seja, medidas preventivas para que não se decorra a gravidez indesejada por consequência do estupro. Essa medida seria a “pílula do dia seguinte”, já permitida no Brasil e com conteúdo químico cientificamente comprovado de que não se trata de uma pílula abortiva.

Os setores mais conservadores do Congresso Nacional, identificados como a bancada evangélica, fizeram um verdadeiro alvoroço com esse projeto, alegando que ele estaria legalizando o aborto no Brasil. Uma verdadeira tempestade em copo d’água, uma vez que o projeto de lei da câmara não chega nem perto de defender a legalização do aborto. Essa postura revela mais uma vez a que ponto chega o reacionarismo e conservadorismo, que se irrita com qualquer medida que se identifique minimamente com mais direitos para as mulheres, mesmo quando se trata de pretensamente proteger as mulheres que sofrem um crime bárbaro como o estupro.

O PLC 03/2013 parte de uma preocupação correta, a de que deve haver atendimento obrigatório e integral a qualquer pessoa que sofra violência sexual, atendimento médico, psicológico, psicossocial, etc. No entanto, a efetivação dessas medidas só são possíveis se houver uma melhoria qualitativa nas condições dos hospitais públicos brasileiros, desde o ponto de vista de sua infraestrutura até a preparação de profissionais especializados nesse terreno. Isso demanda uma revolução no montante de investimento público na área da saúde, reivindicação muito apresentada nas manifestações, combinada com o questionamento sobre a prioridade diante da Copa em detrimento dos hospitais públicos com qualidade. Essa previsão orçamentária não é garantida pelo projeto.

Mas o PLC 03/2013 tem outra limitação importante. Para que as mulheres sejam realmente amparadas após um trauma de violência sexual, é fundamental que o aborto seja legalizado no Brasil. Afinal, muitas mulheres procuram formas de realização do aborto por vias clandestinas e inseguras, o que as submete a mais riscos, para além da violência sexual sofrida. Além disso, muitas mulheres não buscam ajuda médica e/ou jurídica, mas depois buscam uma forma de interromper a gravidez e também se submetem a condições inseguras.

Não nos é novidade que este tema não seja tratado no PLC sancionado pela presidenta. Desde sua campanha eleitoral, Dilma se comprometeu com os setores conservadores de que não alteraria a legislação relativa ao aborto no Brasil. Durante a Cúpula dos Povos, Dilma articulou, junto a Michelle Bachelet, então responsável pela pasta ONU Mulheres, a retirada da frase da declaração da Cúpula que se referia à luta por direitos reprodutivos das mulheres e justificou que estava atendendo a uma reivindicação do Vaticano.

Toda essa postura deve despertar conforto da bancada evangélica e não reações adversas. O movimento de mulheres é que deve se levantar contra esses retrocessos e com isso vai enfrentar um setor altamente reacionário e conservador, a bancada evangélica, cuja expressão principal é Marco Feliciano. E nessa luta, também teremos de enfrentar a traição de antigas lutadoras da causa das mulheres, que ao assumirem o governo e para manter a governabilidade, deixam de lado reivindicações muito caras à vidas das mulheres trabalhadoras.

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