sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

29J: Dia da visibilidade Trans e travesti. Chgea de morte, desemprego e fome! A transfobia e o capitalismo matam!


 Por Nikya Vidor, ativista trans e militante socialista

Dia 29 de janeiro é o dia que demarca o dia da visibilidade trans, entretanto vale a pena questionar que visibilidade é esta? O seguinte texto irá procurar evidenciar o cenário social, econômico e político em que a população trans brasileira está submetida e qual a relação deste contexto com o sistema capitalista em que vivemos. Por fim, vai apresentar um programa político emergencial dentro do viés socialista para a população trans brasileira da classe trabalhadora.

 A população trans ainda tem dificuldades imensas para ter moradia, emprego e consequentemente a sua expectativa de vida é baixa, no Brasil é de 35 anos, além de ter que enfrentar os desafios da violência social, que é ser uma pessoa trans e isso consiste em lutar para existir nesta forma de sociedade.

No ano de 2021 o Brasil continou sendo o país que mais mata pessoas trans do mundo, mais de um terço da morte total de pessoas trans no planeta, cujas estatística conseguem detectar, ocorre dentro do Brasil, ao mesmo tempo é o país que mais consome pornografia trans, o que demarca uma contradição entre o nojo e atração.  

De acordo com a antra 90 % das mulheres trans estão na prostituição, em função das mesmas não conseguirem vender a sua força de trabalho e adquiror um emprego formal na sociedade capitalista, além do mais, elas não tem famílias para acolhe-las, pois as famílias as expulsam de casa logo cedo, portanto isso acarreta  não só problemas de emprego e sustentação econômica, no caso,  insegurança financeira,  como também problemas de moradia e violência. A maior parte das mulheres trans que se prostituem moram com as suas cafetinas, cujas mesmas cobram aluguéis muito altos. Estas estão submetidas além de aluguéis altos e serem expropriadas pelas cafetinas, ainda precisam disputar o ponto de prostituição com outras mulheres trans, sendo as mais antigas as que detêm vantagem. Tais conflitos, muitas vezes, envolvem violência e brigas intensas, ademais as mulheres trans, para conseguirem seguir se prostituindo, quase sempre precisam pagar propina para polícia, para não serem presas ou estupradas.

 Tem ainda os conflitos com os clientes, que muitas vezes ao consumirem os seus programas, as matam depois, por vergonha.  De acordo com a Antra dos 51% das mulheres trans que morrem na prostituição, morrem nas mãos dos clientes homens.  Vale ressaltar que 78% das mortes da população trans feminina são de mulheres trans negras, de acordo com Antra.  Os homens trans também não conseguem emprego formal, aponta a Antra que 85% dos homens acreditam que o mercado de trabalho só lhes garante emprego se tiverem uma aparência extramemente masculina, isso é, está dentro dos padrões que a comunidade trans chama de cisgeneridade. 

Os homens trans e as mulheres trans além de serem violentados socialmente por homens cisgêneros, não tem acesso sequer a atendimento adequado nos serviços públicos e privado, principalmente na saúde, muitas vezes sendo assediados, caluniados por estes serviços. Outro dado importante para pensar o cenário da condição de emprego das mulheres trans no brasil, é que os 10% das mulheres trans que possuem emprego, dentro do que as estatísticas da  Antra consegue detectar,  apenas 4 % tem emprego  formal, os outros 6% estariam em empregos informais extremamente precários.  A condição educacional é outro fator de violência, muitas pessoas trans não conseguem finalizar o ensino médio, dado ao profundo preconceito que vivem na escola de toda a comunidade escolar.

  Muitos se perguntariam, mas o que tem a haver a população trans e suas dificuldades com o capitalismo?

 Eu vos respondo: tudo! O capitalismo é uma forma de organização social que prioriza o lucro de uma classe perante o trabalho de outra classe e tudo que for para garantir o lucro da classe dominante, isto é, dos ricos (burguesia).

Para lucrar a burguesia não tem critérios, a mesma promove guerras, desmatamento e genocídios no planeta, tudo para tentar reverter a sua taxa de lucro que está em queda. A diminuição de empregos na sociedade de forma geral, no caso, no planeta reflete isso, para a burguesia ter poucos empregos é extremamente vantajoso, pois a mesma não precisa remunerar milhares de trabalhadores, muitas vezes, a mesma substitui os empregos por máquinas ou aumenta o nível da exploração de uns trabalhadores, para assim, poder explorar outros. Aqueles que caem no desemprego, os patrões pouco se importam se vão morrer de fome, o que importa  é o lucro.

Além do mais a burguesia é uma classe social historicamente constituída de valores morais, embora que lucro esteja acima de tudo, a burguesia historicamente herda a partir das sociedades de classes antigas os preconceitos das classes dominantes antigas. Estes preconceitos são bastante funcionais para a burguesia melhor explorar a classe trabalhadora, assim como melhor dividir ela politicamente.  A burguesia enquanto classe é que permite, durante os últimos séculos, a população trans cair na margem da sociedade, na prostituição e na imensa violência em que vive, tudo para melhor explorar.

Usou desta população para produção de mercadorias que não só garantem lucros, mas também que ao serem consumidas projetam ideias falsas (ideologias) na mente das pessoas, como é caso da prostituição trans, além de usar do corpo destas mulheres para lucrar fazendo muitas delas morrerem antes dos 35 anos, a burguesia ao efetivar a pornografia trans sustenta a ideia falsa de que mulheres trans servem apenas para o sexo no sigilo, como meros objetos de prazer sexual para os homens. Toda esta forma de opressão gerada pela história da luta de classes, pelo desemprego, pelas mercadorias que objetificam estas mulheres, pela perseguição e indiferença do Estado, porque vale ressaltar, o Estado democrático de direito, é o Estado capitalista que serve somente ao interesse burguês, este Estado durante muitos anos por meio da polícia, da saúde e da educação perseguiu de maneira formal e informal a população trans, e ainda persegue, mas de maneira informal, porque ele precisa aparentar ser um Estado humano para enganar toda a classe trabalhadora. Ao mesmo tempo em que a burguesia de maneira disfarçada sustenta a exploração e a morte da população trans, de maneira demagógica, tentar criar políticas estatais e empresarias de inclusão e de pink money, que pouco, ou quase nada tem alteração na condição geral da popualação trans na sociedade capitalista e, como disse anteriormente, se discriminar e matar é lucrativo, porque a burguesia irá alterar tal cenário social?

Portanto não existe possibilidade nenhuma do capitalismo destruir a transfobia, ela é funcional de forma econômica, pois aumenta o lucro, funcional de forma ideológica, porque aliena a própria classe trabalhadora e funcional de forma política, pois divide a classe a partir da alienação, fazendo trabalhadores cisgêneros não enxergarem trabalhadores trans como aliados, muitas vezes enxergam a população trans como seus inimigos. Ressalto que a marginalidade da população trans no capitalismo as coloca em condição de trabalhadores precarizados e super-explorados. O que exige que defendamos um programa socialista emergencial.

 De fato a solução total dos problemas de vida da população trans somente irão se resolver em uma sociedade socialista, entretanto a luta pela revolução socialista, somente irá se concretizar se agirmos para tal e agir para tal significa materializar um programa política por via de ações políticas e econômicas que movam a classe trabalhadora contra a burguesia, e para isso é necessário falar das razões concretas do porque lutamos contra o capital e o que queremos enquanto condições sociais de vida para a classe trabalhadora, para isso, precisamos incorporar na luta cotidiana a projeção do que seria uma sociedade socialista, dentro da cada piquete, greve e ocupação, unindo a nossa classe, a integrando de forma financeira e política contra a burguesia, a fim de realizar a revolução socialista.

 Esta projeção do que seriam as condições sociais da sociedade socialista podem já ser embutidas como reivindicações na luta cotidiana e presente da classe trabalhadora, mas, para isso, é necessário criar o senso crítico dentro da classe e quebrar qualquer ideologia (falsa consciência) de crença no patrão e no Estado, estas condições sociais é que chamamos de programa e para a população trans trabalhadora precisamos também apresentar o programa político socialista, não só pensando as demandas gerais da nossa classe, mas especificidades que a população trans trabalhadora vive e sente, pois além de ser explorada, é explorada em condições de maior precariedade e marginalização, além disso, a mesma é oprimida.

A população trans precisa de:

Emprego: Para isso defendemos a redução das jornadas de trabalho e a abertura de postos de trabalho, sem redução salarial, pelo contrário, com salários que ultrapassem a inflação, escalonar esta redução das jornadas com aumento de emprego ao ponto que se torne inexistente o lucro do patrão.

Cotas: Com estas vagas de emprego criadas, criar cotas de emprego para a popualação trans em geral escalonando com cotas para negras e negros. Um imenso plano de obras públicas gestionado pela própria classe trabalhadora que abra vagas de emprego com cotas para a população trans.

Moradia: Construção de moradias populares, expropriação dos prédios e terrenos abandonados que servem a especulação imobiliária e ocupação deles pela classe trabalhadora.

Saúde e educação: Construção d



e conselhos operários e populares nos postos de saúde, nos bairros e nas escolas que tenham como função uma imensa campanha política de unidade e integração de todos os moradores e trabalhadores, combatendo toda forma de opressão e discriminação, prezando pela unidade integral da classe trabalhadora.

Diretos legais: Garantia do nome social em todos os serviços, atendimento de saúde universal e transversal que pense a totalidade das necessidades das pessoas trans e processos da transição de gênero.  Educação sexual nas escolas que preze pelo respeito da diversidade da classe trabalhadora e diversidade humana. 

Combater toda forma de assédio, calúnia e perseguição que qualquer trabalhador ou trabalhadora negra, negro, lgbt, indigena, quilombola e mulher.  Estudo da história da transsexualidade na humanidade para combater a ideia de que pressoas trans são doentes. Pelo fim de qualquer patologização que a população trans viva, seja por meios institucionais ou culturais.

Por uma revolução socialista que ponha fim a todo tipo de opressão e exploração!


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Campanha Nacional contra a violência à mulher trabalhadora

Campanha Nacional contra a violência à mulher trabalhadora

Chega da violência contra as mulheres!

Chega da violência contra as mulheres!