quinta-feira, 11 de abril de 2013

O feminismo classista não tem orgulho de Margaretch Thatcher


A morte de Margaretch Tatcher no dia 8 de abril fez abrir novamente uma reflexão sobre os impactos da política do Estado mínimo e as consequências drásticas do modelo neoliberal para a classe trabalhadora. Mas também fez abrir uma reflexão maior sobre quais garantias são dadas para as mulheres trabalhadoras quando uma mulher está no poder.

Este segundo debate se abre, sobretudo pela postura que teve a versão brasileira de um grupo feminista de grande repercussão mundial, o FEMEN. Em sua página do facebook, o grupo assim descreve a ex-liderança de britânica: “Nossos sentimentos à Margaret Thatcher, com sua política neoliberal, dirigiu um governo que reduziu o tamanho do Estado e transformou o Reino Unido. Ela foi, de longe, uma influência mundialmente, conhecida como Dama de Ferro, por conta de sua postura inflexível. Foi a primeira mulher a se tornar primeira-ministra britânica, cargo no qual ficou por três mandatos consecutivos, entre 1979 e 1990. “Na política, se você quer que algo seja falado, peça a um homem. Se quer que algo seja feito, peça a uma mulher.”

Lamentamos profundamente essa avaliação e chamamos a todas as mulheres que tem referência ou simpatia neste grupo a refletir sobre o erro profundo desta definição da ex-primeira ministra britânica. O erro consiste, em primeiro lugar, em saudar a implementação do projeto neoliberal, que significou para milhares de mulheres trabalhadoras na Inglaterra e em todo o mundo - considerando que Thatcher foi espelho para outros governos desse caráter, como Pinochet no Chile e Fernando Henrique Cardoso no Brasil – menos direitos sociais, menos igualdade entre homens e mulheres.

Suas medidas de redução das obrigações do Estado com as leis trabalhistas fizeram retroceder conquistas importantes, sobre as quais as mulheres trabalhadoras britânicas têm enorme responsabilidade, com sua garra e sua luta.

Entretanto, o outro erro profundo dessa análise consiste em reproduzir uma noção de feminismo que não tem nada de libertário para as mulheres. A resolução dos problemas fundamentais das mulheres, a luta contra o machismo, não passa pela localização de mais mulheres no poder. Porque se assim o fosse, Thatcher deveria ter inaugurado outra era, uma era de conquistas reais das mulheres trabalhadoras, uma era de avanço nos direitos trabalhistas e sociais e definitivamente, não é isso que Thatcher significa para a história.

É fato que a localização de mulheres em postos que são historicamente construídos para serem ocupados pelos homens incide positivamente sobre a consciência do conjunto da população mundial, e ajuda a romper com a ideia de que as mulheres servem apenas para o lar, ou para garantir renda complementar dentro de casa. Entretanto, este elemento positivo é totalmente superado pelo signo negativo de governos como o de Thatcher, em que o que se prima é sua condição de classe, seu projeto de governo para a burguesia britânica, europeia e americana. Portanto, não nos serve, a nós, mulheres trabalhadoras, como governo.

O episódio da manifestação das mulheres dos mineiros ingleses que em 1984, durante uma greve deste setor, jogaram tomates e ovos em Thatcher, na entrada de um evento do partido conservador inglês, revela que quando se trata de interesses de classe, as mulheres se dividem e ficam em trincheiras opostas. O Movimento Mulheres em Luta não tem nenhum orgulho desse exemplo de mulher no poder. E atua cotidianamente para que essa ilusão do empoderamento das mulheres não tome conta da consciência das mulheres trabalhadoras, afinal, o fim estratégico do machismo e da exploração, em nossa opinião, é com a construção do poder de mulheres e homens da classe trabalhadora.

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