domingo, 28 de junho de 2015

A PARTICIPAÇÃO DAS LÉSBICAS E MULHERES TRANS NA REVOLTA DE STONEWALL

O dia 28 de junho é conhecido como o dia Internacional do orgulho LGBT e é fruto de uma revolta que aconteceu em 1969 na cidade de Nova York. A Revolta de Stonewall foi um levante de LGBT’s liderados por travestis contra toda a opressão, humilhação e suborno da polícia. O descontentamento era geral e as LGBT’s não tinham força política para enfrentar a opressão, até que chegaram ao seu limite.

Quando a polícia invadiu o Bar Stonewall Inn naquela noite as coisas não seriam mais iguais. De acordo com os relatos e pesquisas feitas em torno do tema, não se sabe bem como se iniciou a revolta, mas muito do que houve se atribui a resistência das lésbicas e das transexuais, já cansadas dos assédios verbais e das revistas humilhantes. Existe a citação de uma mulher masculinizada chamada Marilym Fowler que enfrentou quatro policiais por 10 minutos até receber um golpe de cassetete e ser jogada num camburão, mas que antes gritou para a multidão: “Por que vocês não fazem nada?” E assim se deu também com outras travestis e transexuais. Todo o descontentamento se transformou em revolta e os policiais começaram a ser chamados de porcos e moedas começaram a voar em sua direção, pois de acordo com os depoimentos, eles eram “fichinhas”, não valiam um tostão”

No auge do enfrentamento a tropa de choque foi chamada e mais uma vez as mulheres protagonizaram um momento importante. Foram elas, as lésbicas, as transexuais/travestis e entre elas as negras que com os braços entrelaçados formaram um cordão na linha de frente para enfrentar a polícia. Se iniciava a Revolta de Stonewall. Foi um confronto que durou quatro dias, a maior revolta de LGBT’s que já aconteceu na história. Não demorou e participantes desse movimento juntamente com outros homossexuais formaram uma organização política, a Frente de Libertação Homossexual que foi além da luta por direitos civis. Um ano depois 10 mil LGBT’s estavam novamente nas ruas protestando contra a opressão e a discriminação, surgindo assim, as diversas Paradas LGBT’s no mundo.

Os acontecimentos pós Stonewall possibilitaram que as lésbicas se organizassem nacionalmente, conseguindo colocar suas reivindicações por dentro INCLUSIVE, do movimento pela libertação da mulher, coisa impossível até então, pois as mulheres heterossexuais tinham receio que a imagem feminista fosse associada a imagem lésbica. Na realidade, essa seguiu sendo a luta das lésbicas dentro dos movimentos: enfrentar a lesbofobia do movimento feminista, o machismo do movimento gay, enquanto as mulheres trans lutam contra a transfobia em ambos.

O lugar das lésbicas e mulheres trans na luta contra o machismo, a lesbofobia e a transfobia
       
     A invisibilidade da participação das mulheres na história sempre foi uma arma poderosa em favor de nossa opressão. E quando estas mulheres são negras, lésbicas ou mulheres trans, principalmente se estiver relacionado com lutas que coloquem em xeque o sistema. E isso se dá para que as mulheres não se enxerguem enquanto aliadas em sua luta contra a opressão e a exploração.

            Tal como acontecia em Nova York, atualmente no Brasil o fundamentalismo tem influenciando milhares de pessoas no sentido de não reconhecer os direitos de LGB T’s. Depois de ter ficado engavetado por duas legislaturas no Congresso Nacional o PL 122/06 foi arquivado. Tal situação deixa as LGBT’s diante de uma condição cada vez mais vulnerável. As promessas do governo Lula e do governo Dilma não passaram de ilusões para amarrar votos e barganhar nossos direitos junto a bancada fundamentalista do congresso. Congresso este que tem atacado sumariamente os direitos dos trabalhadores.

Não temos dúvida de que o engavetamento do PL 122/06 além de ter sido um duro ataque ao movimento LGBT traz em si a tentativa de desmoralizar e desmotivar a luta. Enquanto isso o país segue sendo o que mais mata LGBT’s. Foram 336 mortes, sendo que 14 eram lésbicas e 134 travestis. Dentre estes não temos dúvida que as mulheres trans encontram-se em situação de maior vulnerabilidade. Nós do Movimento Mulheres em Luta defendemos que a Lei Maria da Penha contemple a violência contra as mulheres trans.

Já as mulheres lésbicas além de toda a humilhação, em muitos casos sofrem estupros corretivos. De acordo com o Disque 100 do Governo Federal, 6% das mulheres vítimas de estupro são, o chamado estupro corretivo. Essa violência é fruto da ideologia machista que encara as relações entre lésbicas como afronta a sua masculinidade.

Por isso, é fundamental retomar a luta LGBT no marco político, junto com a classe trabalhadora, apontando a necessidade de superar os marcos da sociedade capitalista, para podermos, de fato, alcançar nossa liberdade plena. Nesse sentido, é necessário também que, inspiradas pela Revolta de Stonewall, nós mulheres negras e brancas, trans, hetero e lésbicas nos organizemos para lutar contra a opressão e a exploração que vem nos atingindo de forma brutal e que nos impedem de perceber que a luta contra o machismo, a Lesbofobia e transfobia é de todas nós. O MML é um movimento que atua com essa concepção, por isso se forja diariamente na luta contra todo tipo de opressão.


Por Lélia oliveira, do setorial LGBT da CSP- Conlutas e do Movimento Mulheres em Luta/ Pará


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