terça-feira, 23 de junho de 2015

SOBRE A PRÁTICA DE "ENCOXAMENTO" NOS TRANSPORTES PÚBLICOS DE BELÉM E REGIÃO METROPOLITANA.

Belém, manhã do dia 18 de junho, dentro do ônibus da linha Distrito Industrial uma mulher sofre abuso sexual, a vítima uma jovem de 22 anos, o abusador, um homem de 49 anos. Essa jovem percebeu que sua calça estava molhada após sentir movimentos estranhos do homem que estava atrás dela, tudo indica que o abusador ejaculou na roupa dessa mulher. Se a denuncia não tivesse ocorrido, o agressor não teria sido autuado em flagrante possivelmente por estupro. 

Apesar de não ter um alto volume de ocorrências denunciando o abuso sexual nos ônibus da região metropolitana de Belém, nós do Movimento Mulheres em Luta Pará acreditamos que o encoxamento é sim uma prática comum para as jovens e trabalhadoras que dependem do transporte coletivo. Inúmeras mulheres já sentiram ser encoxadas por algum homem dentro dos ônibus, mas a maioria delas não tem coragem de denunciar devido ao constrangimento e a humilhação em situações como essa. Não é a toa que a jovem não quis se identificar, não é a toa que o agressor ainda tentou intimidar a vítima dizendo que era policial, prova do quanto é naturalizado e invisibilizado esse tipo de violência no transporte coletivo na região metropolitana de Belém. 

As mulheres jovens e trabalhadoras são violentadas duplamente, pela precariedade do transporte público, e pela prática do abuso sexual, os "encoxadores" se aproveitam da superlotação dos ônibus para realizar o ato. Pois bem, na maioria das vezes, andamos sim “feito sardinhas em lata” dentro dos ônibus em Belém e região metropolitana, e que portanto o espaço é muito pequeno, mas isso, em hipótese alguma pode ser argumento para tamanha violência, toda mulher sabe quando o homem que está atrás dela, está ou não se aproveitando da situação. 

Pelo Brasil a situação não é diferente, por exemplo, nos metrôs e trens de São Paulo são inúmeras as ocorrências de abuso sexual, somente no ano de 2014 foram registrados mais de 200 casos de estupros dentro dos vagões. E lá nós do Movimento Mulheres em Luta estamos juntas com as mulheres trabalhadoras fazendo a denúncia, a conscientização, e até implementando campanhas simbólicas, como a distribuição de alfinetes nas entradas das estações, com o lema: “Não me encoxa que eu não te furo”. 

O Brasil é o 7º país em violência à mulher, a cada 2 horas uma mulher é assassinada, os índices de feminicídio são alarmantes, precisamos lutar para ter o direito de viver sem ter medo. Somos as principais vítimas de assaltos nas ruas, e ainda sofremos com a ameaça constante da pior das violências, o estupro, visto que em 2012 foram registrados mais de 50 mil estupros no Brasil. A cidade das mangueiras infelizmente entra nesse circuito tenebroso, em 2012 a capital foi considerada a 5ª mais perigosa para as mulheres viverem. 

Nós do Movimento Mulheres em Luta Pará exigimos que as mulheres tenham direito à cidade, direito ao transporte público de qualidade, direito de transitar para onde quiserem com segurança e que os agressores sejam punidos em caso de violência. Para isso são necessários mais investimentos em políticas públicas de combate a violência machista, tanto na esfera federal, estadual e municipal. Atualmente o Governo Federal destina somente 0,003% do PIB nacional (Produto Interno Bruto) para a Secretaria de Política para as Mulheres, orgão responsável pelo combate à violência, o que representa apenas R$ 0,26 por mulher. 

O Movimento Mulheres em Luta Pará se solidariza a essa jovem vítima do abuso sexual e fazemos o chamado para que as mulheres trabalhadoras lutem diariamente contra qualquer forma de opressão, seja dentro do ambiente doméstico, dentro da igreja, da escola, da faculdade, do trabalho ou dentro do ônibus. Precisamos romper com o silêncio que ainda há aqui em Belém acerca desse tipo de abuso, nossa voz para denunciar precisa ecoar bem alto. Nosso corpo é nosso território e jamais poderá ser violado por outrem quando não permitirmos.

Por Gizelle Freitas e Sueny Moura, do Movimento Mulheres em Luta Pará


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