quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Vitória das trabalhadoras e trabalhadores da Contax de Porto Alegre


 
Esta semana comemoramos a vitória das trabalhadoras e trabalhadores da empresa Contax, em Porto Alegre, que protagonizaram a primeira grande greve da história na empresa. Foram 29 dias de luta contra o assédio moral, as humilhações por não cumprir metas, as idas cronometradas ao banheiro, os baixos salários e o famoso “Vale-fome”, que é como ficou conhecido o tíquete refeição de R$ 4,25 pagos pela empresa.

A indignação tomou conta e a pressão sofrida pelos teleoperadores fez com que eles cruzassem os braços e parassem o atendimento da regional. A ação provocou caos na empresa, que tentou vencer os grevistas pelo cansaço, desviando as ligações dos clientes da capital gaúcha para cidades do nordeste, sobrecarregando os trabalhadores de lá.



No início, a greve foi estimulada pelo sindicato, mas, na medida em que a empresa, em conluio com a mídia local, tentou invisibilizar a mobilização, por trabalhador contra trabalhador e até pagar para que os não grevistas votassem em assembleia pelo fim da greve, a categoria se uniu ainda mais e foi à luta. De maneira ativa, eles participaram dos piquetes, elencaram representantes de base para acompanhar as negociações entre o sindicato e a empresa, montaram uma agenda de mobilização e por fim, realizaram uma grande passeata que percorreu as ruas de Porto Alegre, entoando palavras de ordem que remetiam as grandes mobilizações de junho: "Ôôô, call center acordou, call center acordou, call center acordou, ôôô...”

Vídeo de uma passeata da greve no centro de Porto Alegre:

 

Resultado: a empresa, no dia seguinte à passeata, chamou o sindicato para negociação. Da reunião, que durou dois dias, com vigília intensa dos trabalhadores em frente ao local onde ocorria, eclodiram as conquistas dessa luta. As propostas negociadas Detalhadas em seus 12 pontos abaixo) apresentaram avanços econômicos mínimos, se comparadas aos lucros exorbitantes da Contax, bem como se relacionadas às necessidades mais básicas dos trabalhadores. Mas a luta dessas guerreiras e guerreiros, durante quase um mês, enfrentando todos os tipos de dificuldades e intempéries climáticas, foi sem dúvida a maior vitória da categoria!

As operadoras e operadores do setor de telemarketing e call center são tratados dessa forma há anos, mas o Brasil inteiro assistiu a grande mídia noticiando essa dura realidade nas últimas semanas. Atualmente, o país tem mais de um milhão e meio de pessoas que atuam nesse setor e vivenciam condições de trabalho com intenso desgaste e precarização.


  Mais de 70%  dos cargos nessas empresa são ocupados por mulheres que, em geral, são jovens negras e que realizam atividades intensas por seis horas diárias. Essa exploração também atinge um contingente de LGBTs que sofrem ações homofóbicas, mascaradas por uma suposta ausência de preconceito. Todos esses trabalhadores recebem baixos salários como reflexo justamente da sua invisibilidade na sociedade. 


Nós, do Movimento Mulheres em Luta, parabenizamos as trabalhadoras e trabalhadores da Contax que estiveram mobilizados nessa greve justa e necessária. Nos dispomos a estar juntas na batalha por uma vida digna, pois não pode existir tratamento ou salário diferenciado por gênero, cor ou orientação sexual. Como organização feminista e classista que luta contra o machismo e fortalece a organização das mulheres, queremos salário igual para trabalho igual, pois o lucro não pode estar a serviço do sacrifício dos trabalhadores. Vamos dizer NÃO às senzalas modernas! Trabalhadores não são mercadoria!
 
Abaixo segue a proposta negociada com a empresa e aceita por unanimidade pelos trabalhadores da Contax:

1. Piso Salarial no valor de R$ 724,00 a ser adequado às alterações do salário mínimo nacional em janeiro de 2015;

2. Vale-refeição:
a) No valor facial de 12,90 para os trabalhadores de 220 horas;
b) Para os trabalhadores de 180 horas o valor facial será de R$ 4,90 (retroativo) a contar de 1º de maio de 2014, mantida a participação do trabalhador no valor de R$ 6, 00 (seis reais) mensais; a partir de janeiro de 2015 o vale-refeição passa a ser de R$ 5,00 (cinco reais) mantido o mesmo desconto; abono líquido no valor de R$ 120,00 a ser pago em uma única parcela a título de vale-refeição excepcional. O pagamento do abono será no dia 06/11/2014 se a proposta for aprovada pelos trabalhadores até o dia 04/11/2014;

3. A apresentação do atestado médico será agora no prazo de 72 horas após o retorno ao trabalho, ficando garantido que o empregado deve comunicar a sua ausência à empresa através dos meios existentes, ou por qualquer pessoa por ele nomeada;

4. Abono de cinco dias por ano para acompanhamento do filho;

5. Auxílio Creche no valor de R$ 160,00 para os filhos até 48 meses de idade (retroativo) a contar de 1º de maio de 2014;

6. Todas as diferenças salariais e vantagens concedidas retroativas (de 1º de maio de 2014 até outubro do mesmo ano) serão pagas no dia 6 de novembro de 2014;

7. Manutenção de todas as demais cláusulas do Acordo Coletivo de Trabalho;

8. Os dias de greve serão abonados pela metade e a outra metade compensada em até 4 meses não sendo computadas nesse período as férias dos trabalhadores, nem o repouso remunerado no período da greve. A compensação poderá ser realizada antes do início ou após o turno de trabalho e quem tiver interesse poderá compensar os dias de greve abatendo do seu respectivo banco de horas;

9. Não serão descontados os vales-transportes e alimentação durante o período da greve;

10. Na hipótese de extinção do contrato de trabalho por qualquer motivo, os dias de greve pendente por compensação não serão descontados;

11. A empresa assegura que não haverá retaliações, perseguições ou qualquer prejuízo aos trabalhadores por conta da greve;

12. O salário integral dos grevistas será pago no dia 6 de novembro de 2014.

Confira algumas fotos da Greve:






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