domingo, 18 de setembro de 2011

A Miss Universo e as Mulheres Angolanas: Nada em Comum.



No dia 12 de setembro, o mundo olhou para o concurso de beleza que elege a mulher mais bela do universo. Segundo sua auto-apresentação, este histórico concurso, que hoje é dirigido pela Miss Universe Organization, de propriedade de Donald Trump, conhecido milionário norte americano, busca avaliar além da beleza das mulheres, suas “capacidades de liderança e inteligência”, para difundir valores como a paz pelo mundo.

Essa concepção do concurso foi se transformando ao longo dos anos de uma possibilidade de ingresso no mundo das celebridades de Hollywood (este era o prêmio das edições do meio do século para cá) para a “luta” pela paz ao redor de nosso planeta. Perguntamos, no entanto, por que tanta rigorosidade estética para se escolher uma mulher capaz de difundir a paz? E mais, perguntamos onde estiveram as Misses Universo sob o acontecimento de guerras tão questionadas pelo mundo, como a invasão norte americana no Iraque e no Afeganistão?

O concurso em questão reforça e difunde a idéia de que as mulheres devem ter um padrão de beleza e ainda demonstra que, na sociedade machista em que vivemos, quando se trata de avaliação física e estética, as mulheres podem ser protagonistas, em outros momentos, é muito difícil existirmos como figura central.

Esta última edição recebeu uma atenção particular do Brasil. Em primeiro lugar, porque sediou o evento e depois porque a Miss Brasil chegou muito perto do título, ficando em terceiro lugar. A Miss Brasil é eleita ao disputar o título com as representantes de todos os estados brasileiros. Para se eleger a Miss de algum estado, há uma disputa entre diversas garotas de cada estado. Atentamos para um fato curioso de que as meninas que concorreram para o título de Miss Bahia eram em sua maioria garotas brancas, em um estado que é majoritariamente negro.

Apesar de a Miss Universo de 2011 ser negra – fato que ocorre pela 3° vez – não há como não reconhecer um padrão de beleza que é perseguido na avaliação das meninas que concorrem ao título. A maior parte das concorrentes e das vitoriosas ao longo da história são mulheres brancas, com um padrão marcadamente europeu, o que é expresso no caso acima citado em relação à eleição da Miss Bahia e mesmo pela quantidade de mulheres negras que venceram o concurso ao longo da história.

Ainda assim, o impacto da vitória de uma negra sobre as mentes mais conservadoras é bastante forte. Assim que anunciada a vitória de Leila Lopes, representante de Angola, a internet foi palco de declarações absurdamente racistas e fascistas contra a recém vitoriosa do concurso. Repudiamos veementemente esse tipo de prática.


No entanto, reconhecemos que o racismo que a atual miss Universo sofreu não passa nem perto do racismo e da humilhação que sofrem a maior parte das mulheres angolanas. Toda a Imprensa saiu em defesa de Leila Lopes e até denunciou as declarações racistas. No entanto, nenhuma imprensa defende ou se preocupa com a situação das mulheres angolanas, cujo índice de desemprego atinge 79%. A Miss Universo não é analfabeta como as 70% de mulheres de seu país. A cada 100 mil bebês que nascem no país, cerca de 1500 mães morrem, em função das péssimas condições de saúde e saneamento básico de Angola. Leila Lopes dificilmente passará por isso.

Essa situação é conseqüência de séculos de opressão e exploração do povo negro angolano, que hoje está em várias partes do mundo tendo sua mão de obra super explorada pela sua condição de negros e imigrantes, fato agravado ao se tratarem de mulheres.

A vitória da angolana no concurso de beleza mais conhecido do mundo reflete um abismo cruel entre a situação da maior parte das mulheres angolanas, trabalhadoras e pobres e uma ínfima minoria que pode ter tudo o que quer, inclusive a coroa da Miss Universo. Apesar de também estar submetida ao racismo, Leila Lopes está muito mais “protegida” do que as mulheres angolanas.

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