O mundo inteiro chocou-se com a imagem amplamente divulgada de uma manifestante egípcia sendo espancada por policiais que tentavam conter as manifestações. A frieza e a violência covarde, digno de quem está defendendo interesses muito fortes. Está um curso, no Egito, um importante processo revolucionário, que teve início em 25 de janeiro, quando desencadearam centenas de manifestações, com milhares de trabalhadores e jovens egípcios que exigiam o fim da ditadura de Hosni Mubarak, que estava há 30 anos no poder.
Com a queda de Mubarak, em fevereiro, as manifestações arrefeceram, mas o clima de mudanças e transformações seguiu tomando conta do país e de toda a região dos países árabes, que viram mais ditadores caírem, como Kadafi, na Líbia, após uma sangrenta guerra civil e como Ben Ali, que caiu antes de Mubarak, na Tunísia.
O exército assumiu o poder no Egito sob uma pressão muito forte da população, que esperava mais aberturas democráticas do que foram imediatamente garantidas. Porém, a população deu um tempo para o exército e aguardou as mudanças. O tempo dado foi proporcional à sede de mudanças e meses depois, os egípcios voltam massivamente às ruas insatisfeitos com o ritmo de abertura democrática, exigindo a saída da Junta Militar do comando político do país e insatisfeitos com as mazelas do capitalismo e de sua crise no país: desemprego, fome, miséria, difíceis condições de trabalho,etc.
A força e capacidade revolucionária deste ascenso se expressa na presença e ação das mulheres nessa revolução. Desde o “25/jan”, as mulheres tem tomado a linha de frente dos protestos e manifestações. Em um país de religião muçulmana, que reproduz ideologias machistas muito fortes, a presença de mulheres nas manifestações e nas lutas é um enfrentamento à ordem e que só se desenvolve, na medida em que a luta de classes no país se desenvolve, na medida em que a luta democrática abre espaço de questionamento não apenas de um sistema político, mas sobretudo de um sistema social que utiliza a falta de liberdades democráticas, para explorar a classe trabalhadora do país e atender aos interesses imperialistas para a região.
A força desse processo questiona a política do imperialismo norte-americano e europeu para a região, que foi conivente, no caso do Egito, com 30 anos de ditadura. Evidentemente, o objetivo do imperialismo na região é o controle político, para que haja exploração econômica dos importantes recursos naturais da região mais rica em petróleo do mundo.
Por isso, o imperialismo norte-americano se coloca “ao lado da revolução”, porque visa a estabilidade do país, se com ditadura não há estabilidade, apoiemos as lutas democráticas. No entanto, a cada dia que passa, abrem-se novas contradições, pois a resolução dos problemas do povo egípcio não está apenas em abertura democrática, mas com a destruição do capitalismo, motivo fundamental das condições políticas e sociais do país e de toda a região árabe.
Foi por isso que vimos o pronunciamento de Hillary Clinton, secretária de Estado norte americano, condenando as imagens do espancamento que chocaram o mundo. A ação policial quebra um rigoroso tabu da tradição árabe acerca da violência contra as mulheres desarmadas, assim como o fato de despir a mulher. Isso demonstra que o que está em jogo na disputa entre manifestantes e o exército é o controle do Estado, o controle político e social do país, por isso, para o Exército, vale a pena quebrar esses tabus em favor desse interesse maior.
Isso nos faz por um lado, visualizar melhor a motivação política de tal estupidez. E, por outro lado, entender a força da revolução. Para a burguesia egípcia e seus representantes políticos e militares, não há tabus e tradições que segurem a crueldade em defesa do seu Estado.
Para o imperialismo, abre-se a contradição de “apoiar” um processo que pode fugir do seu controle. Atos como o que ocorreu em frente à Embaixada de Israel revelam o que é o movimento de massas egípcio “sair do controle” e a possibilidade de isso acontecer.
As mulheres em luta na Praça Tahir, em protesto contra essa agressão estúpida e atroz à manifestante demonstram que também para os trabalhadores e o povo egípcio, as tradições podem ser frágeis e que a luta, em última instância pelas suas vidas, pode assumir um método, um programa e um enfrentamento revolucionários.
Todo apoio aos trabalhadores e ao povo egípcio!
Basta de violência contra as mulheres!
Video com legendas em inglês da manifestação das mulheres no Cairo há dois dias:
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?gl=US&feature=youtu.be&v=8iMphaogjdY