Veja quais pontos foram avaliados e como essas medidas iniciais já afetam negativamente a vida das mulheres trabalhadoras na capital.
Identifiquei oito ações da nova gestão nesse primeiro mês de atuação:
1) aumento da velocidade nas marginais;
2) aumento do valor da integração ônibus/metrô;
3) programa cidade linda/ programa calçada nova/ combate à pichação;
4) novo plano de educação para abrir 66 mil vagas em creches, através de: convênios com Organizações Sociais (OS), infraestrutura em agências bancárias, possíveis cortes no programa Leve Leite;
5) entrega do CCSP + 52 bibliotecas para OS;
6) converter as secretarias de políticas para mulheres e igualdade racial em coordenações da SMDH;
7) liberar a GCM para retirar pertences pessoais das pessoas em situação de rua;
8) fechar farmácias do SUS e distribuir medicamentos na rede particular.
1. Como você enxerga essas ações?
Todas essas medidas são parte de uma mesma política privatista e excludente e que tem por objetivo separar ricos e pobres, sendo que às trabalhadoras e trabalhadores o lugar reservado é a periferia da cidade, por exemplo, o aumento da integração de transporte afeta diretamente essa população que mora mais distante e que necessita de mais transportes coletivos para ter acesso à cidade.
Da mesma forma que o programa cidade limpa/ calçada nova e a retirada dos pertences das pessoas em situação de rua são medidas higienistas para valorizar o centro da cidade em especulação imobiliária e certamente não significará melhora na infra-estrutura das regiões periféricas. Além de desqualificar e desmoralizar a linguagem de resistência das periferias expressas nos grafites e pichações.
As parcerias com as OS’s são uma política de favorecimento do setor privado, com a perspectiva de garantir mudanças estruturais que possibilitem lucro a esses setores mesmo em um momento de crise, ou seja, mantendo nas costas dos trabalhadores essa conta. Sabemos que a maioria dessas instituições não tem nada de social, são empresas de fachada que tem seus impostos desonerados e são as primeiras a abandonar o barco quando deixam de ter retorno financeiro. Como aconteceu com uma creche na zona leste, no segundo semestre do ano passado, que fechou as portas deixando crianças, pais e funcionários na rua, sem nenhuma explicação ou alternativa.
2. Quais são os impactos dessas ações para as mulheres?
As mulheres, em especial as negras, são as principais afetadas, já que são a maioria entre a população pobre e que, por isso, tem maior demanda de políticas públicas. Medidas como a extinção das secretarias de política para mulheres e de igualdade racial que serão condensadas na secretaria de direitos humanos significam a piora na condição de vida dessas mulheres, já que sem orçamento próprio, as políticas para esse setor estão comprometidas. Ao mesmo tempo em que é criada uma secretaria para desestatização e parcerias, ou seja, para privatizar os já reduzidos serviços públicos que tem em são Paulo, dos quais as mulheres são as principais usuárias. Somos duplamente prejudicadas.
Em relação as creches, mantém-se a compreensão de que esse é um espaço de depósito para crianças, ou seja, pouco importa que a estrutura de uma agência bancária seja um espaço fechado, sem ventilação natural e sem espaço adequado para favorecer o desenvolvimento de habilidades fundamentais nessa fase da vida. O importante é dizer que está respondendo a uma das principais demandas das mulheres e garantir desvio de dinheiro público para o setor privado. Tal medida só vai aprofundar uma situação que já vem sendo desenvolvida em São Paulo desde governos anteriores, pois atualmente apenas 18% das creches da capital funcionam em prédios da prefeitura. Dória quer ir além e pretende fazer cortes na distribuição de material escolar, no transporte escolar e na distribuição de leites para crianças de 0 a 06 anos. O que vai impactar negativamente na educação infantil.
3. Fora do MML, há uma percepção de como as mulheres entendem essas ações?
Nem sempre há uma compreensão global do objetivo das medidas visto que o prefeito se aproveita das necessidades imediatas da população para impor um projeto político, como por exemplo, uma mãe que precisa de creche para poder trabalhar e deixar seu filho em segurança. Entretanto, ao se deparar com a qualidade dos serviços ou a falta dele, elas sentem o impacto direto em suas vidas, gerando uma contradição que faz com que elas sejam obrigadas a enfrentar o projeto como um todo, que não responde as sua necessidades e, a partir disso, vão ganhando consciência. Não por acaso, as mulheres estão a frente de diversas manifestações em São Paulo e no país, por direito a moradia, a saúde, educação, emprego e contra a violência machista.
Cabe aos movimentos ajudar a organizá-las e aprofundar essas experiências. O MML, a partir de uma compreensão classista da luta das mulheres, se dedica a essa tarefa e busca intervir nesses processos para apresentar ao conjunto das mulheres trabalhadoras um projeto de sociedade em que seja superada a opressão e exploração capitalista.
Veja a matéria original no link:
http://artedemulher.com/language/pt/2017/02/mulheres-avaliam/
Pichação é manifestação de resistência da periferia??? Vai caçar o que fazer! Vai se ocupar com questões relevantes para as mulheres. Que babaquice!
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