Nas últimas semanas foi veiculada na rádio Transamérica uma escandalosa propaganda do governo de São Paulo sobre o investimento em transporte sobre trilhos. Na propaganda um personagem chamado “Gavião” faz uma caricatura grotesca sobre a suposta forma de falar dos trabalhadores usuários do transporte público e, indo além, diz que superlotação é normal e termina fazendo apologia ao estupro e assédio sexual.
O transporte público de São Paulo é caótico, situação que se repete em todo o país. As tarifas são caras e o transporte não é de qualidade. Os ônibus, trens e metrôs são superlotados. E na superlotação quem mais sofre são as mulheres que diariamente são assediadas e estupradas. Só no ano de 2014 já aconteceram dezenas de casos e o governo além de ser omisso e conivente em relação à situação de extrema violência cotidiana às mulheres no superlotado transporte público, agora parte para a veiculação de uma propaganda que incentiva a violência sexual.
O Governo de São Paulo não faz absolutamente nada para combater a violência que nós mulheres sofremos diariamente nos transportes públicos lotados e ainda se justifica num meio de comunicação com uma propaganda que incentiva essa prática! No último dia 17 uma mulher foi violentada por um homem que tentou arrancar as calças dela. Não conseguindo, baixou as próprias calças, pôs o pênis para fora e ejaculou nas pernas da vítima. Isso tudo dentro do trem. Infelizmente esse não é o único caso. É isso que a propaganda do Metrô e Governo de São Paulo diz que é normal, um ponto positivo da superlotação. É esse tipo de situação que eles estão estimulando!
A superlotação não é um fenômeno isolado, ocorre porque há poucas linhas. Que inclusive estão sendo cortadas pela prefeitura do Haddad na cidade de São Paulo. A propaganda mente ao dizer que superlotação é algo normal inclusive em grandes metrópoles. Nenhum metrô que sirva de referência no mundo inteiro tem linhas que funcionam como troncos coletores, cobrindo só grandes eixos da cidade (Norte-Sul, Leste-Oeste, Sudeste-Centro). E sim com linhas que atendam com mais capilaridade os bairros, multiplicando opções de caminho e conexão. Essa falta de linhas e o atraso nas entregas das estações é resultado direto da falta de investimento e da escolha por privatizar as linhas de expansão. É importante lembrar também que esse mesmo governo do estado, do PSDB, é um dos principais culpados pela superlotação que enfrentamos cotidianamente nos trens e metrô pois desviaram por décadas dinheiro dos cofres públicos, no escândalo conhecido ano passado como “propinoduto”. Formação de cartéis e fraudes em 11 contratos de licitações do governo paulista ao longo de três gestões do PSDB: Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin. Dinheiro que deveria ser investido no transporte público, mas que foi roubado para engordar o bolso de governantes e empresários.
O que nós mulheres estamos vendo nessa propaganda escandalosa é a naturalização e a banalização da violência que sofremos. A ridicularização da dor de ser apalpada, fotografada, encoxada, assediada e estuprada. Essa propaganda também romantiza o machismo. Ao personagem dizer que conheceu a “Giscreusa” xavecando no metrô lotado, a mensagem que fica é de que é possível um romance numa situação como essa. De que na verdade os assédios são normais, uma inocente paquera que pode abrir possibilidades de relações posteriores. Na verdade é uma brutal violação do corpo das mulheres e uma naturalização de toda a opressão que existe na nossa sociedade.
Somente bem pouco tempo atrás, foi retirada do ar uma comunidade do facebook intitulada “Encoxadores e Encoxadoras”. Nessa comunidade eram compartilhados relatos de “encoxadas” e fotos de decotes ou retiradas por baixo das saias das mulheres, vídeos de homens encostando, apalpando e se esfregando nas mulheres vítimas do machismo e da superlotação do transporte público. Essa não é a única página do tipo em redes sociais, são inúmeras e absolutamente nada é feito em relação a elas. Muitos agressores se referem a elas como “inspiração” para seus atos. Se tem uma coisa que não acontece na superlotação é paquera. O que acontece é violência contra as mulheres! Desde 2010 o Sindicato dos metroviários de São Paulo tem uma campanha contra o assédio e violência a mulher. A campanha foi motivada pela luta contra o quadro do programa zorra total da rede globo, onde uma personagem dizia para a outra que, por ser feia, deveria aproveitar o assédio que estava sofrendo no transporte público lotado.
Esse cenário de violência contra as mulheres e falta de compromisso dos governos no combate não se restringe apenas ao estado de São Paulo. É uma realidade nacional. Os casos não param de aumentar: o Brasil ocupa o 7º lugar no ranking de feminicídios, aqui morrem 15 mulheres por dia. A cada 2 minutos, cinco mulheres são espancadas. Em 2012, mais de 50 mil casos de estupros foram registrados. E em toda essa gravíssima realidade, se somarmos o valor que foi investido nos últimos 10 anos de governo do PT e dividirmos pelo total de mulheres no país o que teremos é a vergonhosa cifra de 0,26 centavos em média anual por mulher para se combater a violência. As respostas dadas desde os governos municipais, passando pelos estaduais até o federal, para combater esse cenário absurdo de violência nem de longe são suficientes.
Exigimos resposta do Metrô de São Paulo e do governador Geraldo Alckmin e também um posicionamento do prefeito Haddad e da Presidenta Dilma! Viver sem violência é um direito nosso! E os governos têm que garantir esse direito!
- Basta de violência nos transportes públicos lotados! Punição aos agressores!
- Imediata campanha dos governos municipal, estadual e federal contra o assédio
e abuso sexual!
- Vagão exclusivo para mulheres e proporcional ao número de usuárias.
- Investimento de 2% do PIB no transporte público!
-Transporte público 24h e iluminação dos pontos de ônibus,
garantindo segurança para as mulheres!
Obs: Depois de toda a repercussão e denúncias que estão sendo feitas, tanto a diretoria do metrô como o Governo tentam abafar o caso, retirando os links do ar e não dão explicações sobre o ocorrido. Nós fizemos uma transcrição da propaganda bizarra e disponibilizamos aqui na íntegra:
“Transamérica! 5 e 50, Esse é o papo de craque segunda edição aqui pela transamérica e o metrô tem uma mensagem especial pra você!:
E aí galera? Quem tá falando aqui é o Gavião! Quero falar com você, que vive na correria pra lá e pra cá. Cê sabia que o governo do estado de São Paulo tá investindo pesado no transporte sobre trilho? Se você juntar hoje metrô e cptm, transportam todo dia 7 milhão e meio de passageiro. É gente pra caramba hein?! E olha que ainda tem 7 obra que tão em andamento que vão aumentar e deixar mais moderno os trem e as estação. Nos horário de pico é normal trem e metrô ficá lotado. É assim também nas grande metrópole espalhada pelo mundo. Pra falar verdade até gosto do trem lotado, é bom pra xavecar a mulherada né mano! Foi assim que conheci a Giscreusa! Muito já foi feito e o governo sabe que ainda tem muito pra fazer. Governo do Estado de São Paulo.
Transamérica!”
Áudio da propaganda: http://poderonline.ig.com.br/wp-content/uploads/2014/03/Transamerica_17-02-2014-as-17h50mPapo-de-Craque.mp3
Áudio também nesse link: Áudio nesse link:https://www.youtube.com/watch?v=EiHFEbkH7F0&feature=youtu.be
Bacana o movimento... só gostaria de saber duas coisas...
ResponderExcluirQuando uma mulher assedia um homem no transporte público, também é crime?
Só outra coisa... quando uma mulher estiver usando uma roupa colada que não passa de uma segunda pele, e estiver se esfregando no meu pau... o que devo fazer? chamo a polícia pra ela? ou tenho direito a alfinete também?
Vagões do Metrô, Monotrilho e Trens suburbanos têm cada vez menos assentos
ResponderExcluirEsta cada vez mais difícil viajar sentado nos trens em São Paulo. E isso não é só por causa da crescente superlotação do sistema. Dados obtidos por meio da Lei de Acesso a Informação, mostram que os veículos das frotas modernizadas e as composições novas têm sido entregues com cerca de 100 assentos a menos do que os equipamentos antigos.
Trata-se de uma tendência acelerada recentemente. Nos anos 1980 - segunda década de funcionamento das linhas da companhia, as composições da frota “C” da Linha 3-Vermelha possuíam 368 bancos. Algumas destas ainda rodam naquele ramal. No fim do decênio seguinte, os trens recém-adquiridos para a Linha 2-Verde passaram a apresentar 274 assentos, em um lote que recebeu o batismo de frota ”E”.
Agora, a quantidade de vagas para os passageiros se acomodarem caiu ainda mais. Por exemplo, quem andar em um veículo da frota “K”, modernizada nos últimos três anos, terá de disputar um dos 264 lugares disponíveis. Chama a atenção o fato de que esses trens, antes de serem reformados e rebatizados, pertenciam à antiga frota “C” com 368. Ou seja, possuíam 104 assentos a mais, com os mesmos comprimentos e larguras dos vagões redefinidos, sendo que as vagas do Monotrilho Linha 15-Prata recém inaugurado, não passam de 120.
Embora o Metrô, que é controlado pelo governo do Estado, não admita oficialmente, a redução dos bancos em seus trens tem o objetivo de permitir a acomodação de um número maior de pessoas em pé, desafogando mais rápido as plataformas superlotadas das estações durante os horários de pico.
CONCLUSÃO
“PARA O METRÔ E CPTM, MODERNIZAR E AMPLIAR CAPACIDADE É SINONIMO DE SUBTRAIR ASSENTOS”.
ANÁLISE TÉCNICA
As prioridades não têm levado em consideração o conforto dos usuários. "Como tudo é dimensionado só para atender à demanda no horário de pico, ninguém depois muda o arranjo e acrescenta mais assentos nos trens”.
Proponho um sistema de Trens de dois andares com altíssima capacidade de demanda em apoio à Linha 11-Coral da CPTM, para aliviá-la nos horários de ponta. "Esses trens “double decker” utilizariam a mesma linha e maioria dos passageiros viajariam sentados."
É prioritário para implantação das composições de dois andares até a Barra Funda reformar e ampliar as Estações da Mooca e Água Branca, readequar a Júlio Prestes e construir a do Bom Retiro (que englobariam as seis linhas existentes além dos futuros trens regionais). Tal atitude beneficiaria todas as linhas metro ferroviárias, e decentralizaria e descongestionaria a Luz.
Seria uma decisão sensata, racional, e correta porque falar em conforto para uns e outros irem esmagados não tem o menor sentido. Além de se evitar um risco maior, seria uma forma de aliviar este "processo crônico de sardinha em lata”.
IDOSOS
A Linha 5-Lilás, na zona sul, foi inaugurada em 2002 com trens de 272 lugares. A futura frota que será comprada para circular no ramal, que está sendo expandido para receber mais passageiros, registrará, em cada composição, 236 bancos, a menor quantidade entre todos os veículos do Metrô, com exceção do Monotrilho que tem 120.
Além do natural envelhecimento da população - segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pessoas com mais de 65 anos de idade no país saltarão de 14,9 milhões em 2013 para 58,4 milhões em 2060 -, o governo Alckmin (PSDB) aprovou uma lei, no fim de 2013, que diminui de 65 para 60 anos a idade mínima para homens andarem de graça no metrô e na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), o que deve atrair ainda mais passageiros desse perfil.
Sem fornecer números, a assessoria de imprensa do Metrô informou que a quantidade de assentos preferenciais nos trens novos e modernizados "É superior ao mínimo estabelecido pela lei". Os dados oficiais indicam que os trens do Metrô carregam, no máximo, até 2 mil passageiros.