quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Secrets – "A vitrine da Sexualidade" ?

Nota do Movimento Mulheres em Luta São Paulo sobre o aplicativo Secrets

As tecnologias de comunicação virtual, da internet e do celular, estão mudando completamente as formas de interação social. Todos os dias surgem novos aplicativos (os Apps) onde cada usuário tem seu perfil ou página e pode ser quem é (ou quem gostaria de ser). Hoje, toda uma geração jovem cresceu já acostumada a usar tudo isso, e para elas/es essas redes sociais aparecem como o melhor meio de se relacionar, seja para fazer amigos, seja para namorar.


Recentemente um desses novos aplicativos de celular, o Secrets se tornou uma verdadeira mania entre as/os brasileiras/os. Ele funciona de forma simples, cujo propósito inicial seria qualquer um poder publicar o que quiser anonimamente, ou seja, um espaço para desabafos pessoais. Há vários processos na Justiça por violação de privacidade, pois o aplicativo Secrets recebeu várias denúncias de usuários que foram prejudicados por terem conteúdos sobre sua vida pessoal publicados por alguém não-identificado (já que é tudo anônimo). Ou seja, tornou-se também um espaço em que um usuário pode atacar outra pessoa, expondo-a e humilhando-a, colocando a privacidade das pessoas em risco. 


No caso das usuárias, isso tem aberto um grande espaço para opressão machista e difamação na rede.
Parte desse machismo ocorre porque o Secrets se tornou um mecanismo de paquera para muitas/os jovens, que o utilizam para enviar "cantadas" ou fotos íntimas para alguém em quem estejam interessadas/os. As/os adolescentes sentem com isso uma forma de se relacionar livremente, e fazem essa aproximação muitas vezes através da simples troca de fotos, e muitas mulheres enviam fotos de si mesmas de lingerie ou até nuas. Nesse caso, nossa crítica não é por serem as mulheres que estão tomando a iniciativa, mas queremos fazer o alerta de que isso tem colocado várias mulheres em risco, pois muitas vezes a mulher envia sua foto para um único usuário, e o cara posta isso e torna público, expondo e humilhando a mulher para qualquer um.


O outro aspecto preocupante dessa prática é que essas redes sociais não têm filtros etários confiáveis. Muitas usuárias desse aplicativo são adolescentes que têm feito exatamente isso: postado fotos íntimas para paquerar, e suas fotos estão caindo com frequência na rede pública sem que elas tenham divulgado ou autorizado. Há meninas menores de idade sendo expostas a todo tipo de humilhação e opressão machista, desde os comentários maliciosos que se espalham na escola onde a garota estuda, até o risco de ter sua foto usada indevidamente por um pedófilo.
Assim como o MML já se colocou contra outros aplicativos que permitiam atitudes machistas, nos colocamos contra o aplicativo Secrets e qualquer outro que permita esse tipo de situação para suas usuárias.


Muitas jovens ao lerem esta nota podem pensar que somos conservadoras, caretas etc. Não se trata disso. Nós do Movimento Mulheres em Luta defendemos que as mulheres possam exercer sua sexualidade da forma como quiserem, mas queremos alertar dos riscos que a sociedade machista nos impõe e lutar contra isso. Infelizmente a sociedade ainda encara a mulher que tem iniciativa na relação como "oferecida" e culpabiliza a vítima quando esta sofre violência, seja física, psicológica ou sexual.
Sabemos como é especialmente difícil para as jovens viverem sua sexualidade: não há aulas de Orientação Sexual nas escolas, o atendimento à saúde da mulher no SUS é insuficiente, temos vergonha de falar sobre isso. Por um lado estamos cercadas de tabus e preconceitos: "seja certinha, não perca a virgindade, não fique com vários caras, não seja sapatão", nos responsabilizam pela gravidez (quando não é planejada), mas não há preservativos e anti-concepcionais à disposição, nem o aborto é legalizado. Por outro lado, há uma completa banalização e vulgarização de nossa sexualidade, pois o capitalismo se utiliza do machismo para lucrar: nossos corpos são vendidos em revistas, na mídia, a prostituição aumenta (especialmente a juvenil). Isso tudo nos deixa confusas sobre como agir e por isso muitas meninas encaram esse tipo de exposição como uma libertação.

O Movimento Mulheres em Luta está cotidianamente contra todas as formas de opressão: o machismo, o racismo, a LGBTfobia. As mulheres negras, lésbicas, bissexuais, transexuais, têm sua sexualidade ainda mais mercantilizada, vulgarizada, e oprimida. Não acreditamos que seja possível acabar com isso sem luta, queremos a libertação, inclusive sexual, para todas as trabalhadoras e jovens, trazendo os homens para lutar ao nosso lado contra o machismo, pois só assim as relações afetivas e sexuais se libertarão.


Nota do MML São Paulo, publicada no dia 3 de setembro na página:
 
https://www.facebook.com/sampamml/photos/a.241568706032026.1073741828.238897219632508/299367456918817/?type=1&notif_t=like 

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