O dia 28 de junho é
conhecido como o dia Internacional do orgulho LGBT e é fruto de uma revolta que
aconteceu em 1969 na cidade de Nova York. A Revolta de Stonewall foi um levante
de LGBT’s liderados por travestis contra toda a opressão, humilhação e suborno
da polícia. O descontentamento era geral e as LGBT’s não tinham força política
para enfrentar a opressão, até que chegaram ao seu limite.
Quando a polícia
invadiu o Bar Stonewall Inn naquela noite as coisas não seriam mais iguais. De
acordo com os relatos e pesquisas feitas em torno do tema, não se sabe bem como
se iniciou a revolta, mas muito do que houve se atribui a resistência das
lésbicas e das transexuais, já cansadas dos assédios verbais e das revistas
humilhantes. Existe a citação de uma mulher masculinizada chamada Marilym
Fowler que enfrentou quatro policiais por 10 minutos até receber um golpe de
cassetete e ser jogada num camburão, mas que antes gritou para a multidão: “Por
que vocês não fazem nada?” E assim se deu também com outras travestis e
transexuais. Todo o descontentamento se transformou em revolta e os policiais
começaram a ser chamados de porcos e moedas começaram a voar em sua direção,
pois de acordo com os depoimentos, eles eram “fichinhas”, não valiam um tostão”
No auge do
enfrentamento a tropa de choque foi chamada e mais uma vez as mulheres
protagonizaram um momento importante. Foram elas, as lésbicas, as transexuais/travestis
e entre elas as negras que com os braços entrelaçados formaram um cordão na
linha de frente para enfrentar a polícia. Se iniciava a Revolta de Stonewall. Foi
um confronto que durou quatro dias, a maior revolta de LGBT’s que já aconteceu
na história. Não demorou e participantes desse movimento juntamente com outros
homossexuais formaram uma organização política, a Frente de Libertação
Homossexual que foi além da luta por direitos civis. Um ano depois 10 mil
LGBT’s estavam novamente nas ruas protestando contra a opressão e a discriminação,
surgindo assim, as diversas Paradas LGBT’s no mundo.
Os acontecimentos pós
Stonewall possibilitaram que as lésbicas se organizassem nacionalmente,
conseguindo colocar suas reivindicações por dentro INCLUSIVE, do movimento pela
libertação da mulher, coisa impossível até então, pois as mulheres
heterossexuais tinham receio que a imagem feminista fosse associada a imagem
lésbica. Na realidade, essa seguiu sendo a luta das lésbicas dentro dos
movimentos: enfrentar a lesbofobia do movimento feminista, o machismo do
movimento gay, enquanto as mulheres trans lutam contra a transfobia em ambos.
O
lugar das lésbicas e mulheres trans na luta contra o machismo, a lesbofobia e a
transfobia
A invisibilidade
da participação das mulheres na história sempre foi uma arma poderosa em favor
de nossa opressão. E quando estas mulheres são negras, lésbicas ou mulheres
trans, principalmente se estiver relacionado com lutas que coloquem em xeque o
sistema. E isso se dá para que as mulheres não se enxerguem enquanto aliadas em
sua luta contra a opressão e a exploração.
Tal
como acontecia em Nova York, atualmente no Brasil o fundamentalismo tem
influenciando milhares de pessoas no sentido de não reconhecer os direitos de
LGB T’s. Depois de ter ficado engavetado por duas legislaturas no Congresso Nacional o PL 122/06
foi arquivado. Tal situação deixa as LGBT’s diante de uma condição cada vez mais
vulnerável. As promessas do governo Lula e do governo Dilma não passaram de
ilusões para amarrar votos e barganhar nossos direitos junto a bancada
fundamentalista do congresso. Congresso este que tem atacado sumariamente os
direitos dos trabalhadores.
Não temos dúvida de que
o engavetamento do PL 122/06 além de ter sido um duro ataque ao movimento LGBT
traz em si a tentativa de desmoralizar e desmotivar a luta. Enquanto isso o
país segue sendo o que mais mata LGBT’s. Foram 336 mortes, sendo que 14 eram
lésbicas e 134 travestis. Dentre estes não temos dúvida que as mulheres trans
encontram-se em situação de maior vulnerabilidade. Nós do Movimento Mulheres em
Luta defendemos que a Lei Maria da Penha contemple a violência contra as
mulheres trans.
Já as mulheres lésbicas
além de toda a humilhação, em muitos casos sofrem estupros corretivos. De
acordo com o Disque 100 do Governo Federal, 6% das mulheres vítimas de estupro
são, o chamado estupro corretivo. Essa violência é fruto da ideologia machista
que encara as relações entre lésbicas como afronta a sua masculinidade.
Por isso, é fundamental
retomar a luta LGBT no marco político, junto com a classe trabalhadora,
apontando a necessidade de superar os marcos da sociedade capitalista, para
podermos, de fato, alcançar nossa liberdade plena. Nesse sentido, é necessário também
que, inspiradas pela Revolta de Stonewall, nós mulheres negras e brancas, trans, hetero e lésbicas nos organizemos para lutar contra
a opressão e a exploração que vem nos atingindo de forma brutal e que nos
impedem de perceber que a luta contra o machismo, a Lesbofobia e transfobia é
de todas nós. O MML é um movimento que atua com essa concepção, por isso se
forja diariamente na luta contra todo tipo de opressão.
Por Lélia oliveira, do
setorial LGBT da CSP- Conlutas e do Movimento Mulheres em Luta/ Pará
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