Por Marcela Azevedo, da Executiva Nacional do MML
Indignação, decepção e uma
sensação de total injustiça. Ao chegar no portão 04 da GM, em São José dos
Campos,na madrugada do dia 14/08, esse era o sentimento estampado no rosto dos
trabalhadores. Ao raiar o sol, começamos a ver as crianças saindo dos carros,
passaram a noite ali para que os pais e mães de família pudessem manter o
acampamento da greve.
Na véspera do dia dos pais,
cerca de 600 funcionários receberam um telegrama da GM, informando as
demissões. Muitos tiveram que esconder a noticia até a segunda-feira para não
acabar com o fim de semana de comemoração da família, mas intimamente se
perguntavam como iam conseguir sustentar os filhos, por que tal postura tão
cruel por parte da empresa?
A
General Motors, assim como outras montadoras, recebeu mais de R$11 Bilhões em
isenções do IPI (Imposto sobre produtos industrializados) nos últimos anos e
seguem sendo beneficiadas pela desoneração da folha de pagamento. A montadora ocupa a segunda posição no ranking
de vendas no Brasil e lucrou mais de um milhão de dólares no segundo
semestre deste ano. Esse lucro é 302% maior que o registrado no mesmo período
do ano passado.
Mesmo diante de tantos privilégios,
a GM não foi capaz de manter o emprego dos trabalhadores. Optaram por enviar R$ 27 bilhões em lucros ao exterior,
enquanto demitiram 7,6 mil trabalhadores apenas este ano.
Iludir
os trabalhadores para superexplorar
“Foi humilhante. Eu me senti um nada. A gente deixa de fazer muita
coisa, de acompanhar nossos filhos para se dedicar a empresa”. L.M.P, 11
anos de empresa
“Minha P.A.D (avaliação anual) foi quase 100% e, de repente, vai embora. Diz sim pra tudo e
recebe esse retorno. Um dia antes de acontecer, meu filho estava doente e mesmo
assim eu vim trabalhar”. E.D, 11 anos de empresa.
“Acho um absurdo a postura da empresa. Ela tem tudo na mão, isenção de
imposto por anos e joga para os trabalhadores a culpa da crise”. M.G, 12
anos e 5 meses de empresa.
“Eu e meu marido estamos desempregados agora. Temos um filho pequeno e
nenhuma perspectiva”. V.V, 14 anos de empresa.
Esses são os relatos de algumas
operárias demitidas da GM. Em suas palavras fica evidente o jogo ideológico e a
pressão que faz a empresa sobre os trabalhadores. Em tempos de alta
produtividade, são constantemente avaliados, são levados a acreditar que se
forem pontuais, não apresentarem atestados médicos, darem o sangue pela
empresa, serão recompensados com a oportunidade de crescer na vida
profissional. Mas, ao primeiro sinal da dita “crise” todos esses esforços são
esquecidos e as diminuições dos postos de trabalho são feitos sem qualquer remorso
ou explicação.
Para as mulheres, essa
ideologia é ainda mais intensa. A burguesia se aproveita do machismo que já coloca
as mulheres numa condição de submissão e obediência para intensificar sobre
elas a pressão para que se preocupem em dar lucro para a empresa. Elas deixam
seu tempo, sua paciência e energia nas máquinas, sobrando para a vida fora da fábrica somente o cansaço, o estresse e o adoecimento.
As
demissões são um problema social!
Desde o início da greve dos
trabalhadores da GM, se somaram as manifestações diversas esposas e filhos dos
operários. Não é difícil entender o porquê. A falta de perspectiva e as
dificuldades que se apresentarão a toda a família serão gigantescas. A notícia
pegou todo mundo de surpresa e causou grande desespero.
“Foi inesperado. A GM não deu nenhum sinal. Meu marido sempre deu o
sangue pela empresa. Eu também estou desempregada, com um filho de 1 ano e 1
mês. Com a demissão perdemos o salário e também plano de saúde, tudo”.
Aline Thomaz, esposa de um demitido.
“Foi bastante triste pela forma que foi, tivemos um choque. A GM
desrespeitou muito os trabalhadores”. Flávia santos, esposa de um demitido.
Assim como as famílias, toda
a população de São José dos campos está bastante comovida. Ao longo de toda a
caminhada feita na sexta-feira, que atravessou a Marginal Dutra, foram muitas
manifestações de apoio e solidariedade aos demitidos. Toda a sociedade compartilha
das mesmas incertezas e indignação com a falta de vergonha na cara dos governos
e patrões.
Todo
apoio a greve dos trabalhadores da GM até a readmissão!
Não é possível aceitar essa
situação. É necessário exigir do Governo Dilma uma medida provisória que
garanta a estabilidade no emprego e proíba as demissões. Precisamos derrotar a política
da burguesia e dos governos de retirar direitos trabalhistas e nos fazer pagar
a conta da crise.
Exigimos:
- Anulação das demissões;
- Estabilidade no emprego;
- Redução da jornada de trabalho sem redução
de salários.
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