Por Marcela Azevedo, da Executiva Nacional do MML
Há dois anos acontecia o 1º Encontro Nacional do Movimento Mulheres em luta. Um espaço que reuniu cerca de
2.500 mulheres, teve entre os grupos de debate o sobre mulher negra como o maior, contou com um beijaço contra a LGBTfobia em sua programação e aglutinou mulheres
de todas as partes do Brasil e representações de diversos países do mundo.
Foi um encontro construído por
operárias, professoras, funcionárias públicas, metroviárias, estudantes, donas
de casa e aposentadas. Refletiu, sobretudo, que diante da mudança da situação
política do país, aberta com as jornadas de junho, as mulheres estavam dispostas a ocupar seu lugar nas lutas e
mobilizações da classe trabalhadora. Esse foi o espírito que permeou todo o
encontro e se traduziu no conjunto de políticas que aprovamos, em especial na
campanha nacional contra a violência à mulher que foi levada a cabo com muita
garra e determinação.
Dois anos depois, nos fortalecemos e avançamos!
O Encontro Nacional foi uma
experiência muito importante para o conjunto de ativistas que se fez presente
naquele espaço, avaliávamos que tínhamos conseguido um grande feito. Contudo, o
desafio que viria depois era ainda maior. Seguir organizando as mulheres
trabalhadoras no marco de uma concepção classista, onde há uma forte pressão
pela conciliação de classe; e socialista, onde todas as estruturas capitalistas
nos limitam no marco do horizonte do sistema, não é tarefa fácil.
Mas é possível perceber o quanto
crescemos e nos consolidamos enquanto referência de organização e resistência para
um conjunto de mulheres que sabem que sua luta não se dá no marco individual.
Ainda temos muito a fazer, ainda tem muito espaço a ocupar, mas é possível afirmar
que demos passos fundamentais para nossa consolidação, ao longo desse último período.
O lançamento da revista da campanha de combate a violência machista, a construção independente dos atos de 08 de Março, a presença na manifestação "Na copa vai ter luta" e a campanha "Cartão vermelho para o turismo sexual", a campanha "Não me encoxa que eu não te furo" contra o assédio no metrô, o lançamento e a coleta de assinaturas do abaixo assinado que exige a aplicação de 1% do PIB par as políticas de combate a violência contra a mulher, a participação expressiva no Congresso da CSP-Conlutas e, mais recentemente, na Marcha Nacional dos trabalhadores e trabalhadoras e no Encontro de lutadores, são todos exemplos de que estamos no caminho certo e cada vez mais determinadas para construir a luta das mulheres trabalhadoras.
A realidade exige mais firmeza e mais dedicação
Também acompanhamos, nos dois
anos que seguiram o encontro, um aprofundamento de uma crise econômica e
política em nosso país. O governo da primeira mulher presidente e as medidas
que ela tomou para ganhar o conjunto das mulheres trabalhadoras estão ruindo
diante de nossos olhos. Tanto os ataques aos direitos trabalhistas que acabam
com conquistas históricas dos trabalhadoras, aos quais muitas mulheres sequer
tiveram acesso ainda, bem como as medidas de ajuste fiscal que retiram
investimento das principais pastas sociais, afetam diretamente as nossas
condições de vida. A retirada de status de ministério da Secretaria de
políticas para as mulheres e também da Secretaria de políticas de igualdade
racial, colocando-as como parte do ministério de direitos humanos, deixa
evidente que são os nossos direitos e nossas pautas que estão sendo rifadas pelo
governo, para garantir os lucros de banqueiros e empresários.
Diante de tudo isso, vemos muitas
organizações de mulheres, como a Marcha Mundial de Mulheres e as secretarias de mulheres da CUT e CTB, ainda argumentarem
a necessidade de defender a permanência de Dilma em nome da democracia e
construírem atos como o do último dia 03/10 que fazia críticas às medidas de
Dilma, mas seguiu dando suporte ao governo. Isso quando grande parte da população já não
aguenta mais tanto o governo quanto seus ataques e quando acontecem manifestações importantes dos
trabalhadores que não poupam nem o governo do PT e nem os setores de oposição
como PSDB/PMDB, como a Marcha do dia 18 de Setembro, em São Paulo, das quais essas organizações não participaram. Nós acreditamos que a tarefa colocada para o conjunto dos setores organizados é a unidade para defender os trabalhadores e seus direitos e para isso é preciso romper com esse governo que é o responsável pelo conjunto dos ataques dos quais temos que nos defender.
A nossa responsabilidade só
cresce nesse cenário, temos que ter cada vez mais disposição e firmeza em nossa
concepção para apresentar as mulheres trabalhadoras uma ferramenta que esteja a
serviço do enfrentamento do machismo e da exploração capitalista. O nosso
movimento tem todas as condições para isso, pois está colado nas principais
lutas de categorias que acontecem no país, está ao lado do movimento popular na
luta por moradia, está junto com as mulheres jovens enfrentando os estupros e
assédio nas universidades, está construindo os atos de luta contra a violência
machista em diversos estados, está junto com as usuárias do transporte coletivo
combatendo o assédio e a encoxada, enfim, o Movimento Mulheres em Luta está se
forjando cotidianamente nas principais demandas das mulheres trabalhadoras e é
nesse espaço que temos que cumprir o papel de construir junto dessas mulheres
uma alternativa independente para responder a crise e fazer com que não sejamos
nós a pagar essa conta.
Vamos lá mulherada, colocar toda
nossa força de guerreiras a serviço da organização da classe trabalhadora e
junto com isso preparar as bases para um 2º Encontro Nacional do MML ainda mais
vitorioso que o primeiro.
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