A greve dos metroviários e metroviárias foi uma greve histórica e heroica. Durante os 5 dias em que a maior cidade da América Latina parou, o debate sobre a situação do transporte público ganhou muita evidência e a importância de organização e luta dos trabalhadores também.
Na luta dos metroviários, havia justos pontos de reivindicação
da categoria metroviária, como a luta pela periculosidade, pela equiparação
salarial. Esses temas repercutem muito na vida da mulher metroviária. A luta
pelo adicional de periculosidade para os agentes de estação era um dos motores
da greve. Este é um dos cargos do metrô aonde mais trabalham mulheres. Esse
trabalho está suscetível a diversos riscos, como o risco de agressão dos
usuários, em que as mulheres agentes de estação são mais vítimas. A equiparação
salarial também era um motor da greve e uma expressão da desigualdade salarial
entre homens e mulheres, pois na medida em que foi entrando mais mulheres na
categoria, a diferença salarial entre mais novos de empresa e mais antigos foi
aumentando.
Mas não foram apenas pontos relativos exclusivamente à categoria
que estavam na pauta e que estavam em questão no processo da greve. A denúncia
da situação do transporte público, o problema do assédio sexual, tema que afeta
especialmente as mulheres usuárias do sistema, também era parte da luta. E essa
medida de transformar a greve dos metroviários em uma luta de toda a população,
combinando a luta por melhores condições de trabalho, com a luta pelo fim do
sufoco, foi um elemento estratégico que deu força para a greve e apoio popular.
O que se viu em todo esse processo, desde as manifestações
anteriores, durante as reuniões de negociação da campanha salarial, foi uma
união incrível da categoria e uma vontade de lutar e conquistar que só se explica
pela nova situação política que foi aberta no país a partir das manifestações
de Junho do ano passado.
A participação das mulheres metroviárias foi destaque nessa
luta, na condução da greve, na organização dos piquetes, nas manifestações, nos
debates na base da categoria, etc. Apesar de serem apenas 20% da categoria, e
em algumas funções serem bastante minoria, como na segurança, não deixamos de
ver operadoras de trem, agentes de segurança, agentes de estação e até mesmo
trabalhadoras da manutenção na construção dessa luta. E não temos dúvida que
sem a participação das mulheres metroviárias, essa luta não teria a força que
teve.
Expressou-se também nesse processo a importância de o Sindicato
abarcar os temas relativos às mulheres em seu cotidiano de atuação, pois todas
essas reivindicações que estão relacionadas à luta da mulher metroviária sempre
foram pautadas pelo Sindicato dos Metroviários, mostrando que este pode e deve
ser instrumento de luta e organização das mulheres trabalhadoras.
A força da greve só foi abalada pela atitude covarde do
governador Geraldo Alckmin, que apelou para a 42 demissões, dentre elas de 8
mulheres metroviárias, para tentar quebrar e desmoralizar o movimento. A
disposição inicial do governo era conceder o mínimo possível e apostar na
contrariedade da opinião pública em relação à greve metroviária. Mas isso ele
não conseguiu, e mesmo a população estando sem o metrô, a greve recebeu muito
apoio, porque a verdade é que ninguém aguenta mais o sufoco do metrô.
A força da greve impôs derrotas polícias e econômicas ao Metrô,
como uma conquista histórica que muito interessa ao movimento feminista
debater. O direito ao auxílio creche era concedido apenas às mulheres da
categoria, sob o argumento mais atrasado possível de que os homens não recebiam
porque isso seria obrigação da empresa em que suas esposas trabalham. Uma
concepção retrógrada, que carrega o conservadorismo de que as mulheres são as
únicas responsáveis pelo cuidado e educação dos filhos. Nessa greve,
conquistou-se o auxílio creche para homens. Ainda que do ponto de vista
financeiro isso repercuta mais na vida dos homens metroviários, do ponto de
vista do combate ao machismo e suas expressões sobre a vida das mulheres em
geral, e não apenas metroviárias, isso se trata de uma conquista importante.
Uma conquista que não veio sem luta de muitos anos, em diversas campanhas
salariais e que a força da greve conseguiu obter.
As derrotas políticas que o governador obteve foi um desgaste
importante sobretudo entre os metroviários, que confirmaram, sem sombra de
dúvida que o governo é inimigo do trabalhador e que a direção da empresa é
capacho desse governo. E essa compreensão se deu também em uma parte da
população que apoiou a greve.
As 42 demissões são uma tentativa de intimidar os metroviários
para que não lutem nunca mais. O que está em jogo nessa batalha pela readmissão
dos 42 companheiros e companheiras não são apenas seus empregos, mas o direito
de qualquer trabalhador desse país fazer greve, e lutar pelo seus direitos. É
por isso que a luta pela readmissão dos 42 é continuidade dessa batalha, que
sofreu um revés, porque as demissões ferem os demitidos e também toda uma
categoria, mas uma batalha que veio de uma greve muito forte e que por isso
pode ter força para reverter as demissões.
O Movimento Mulheres em Luta se solidariza com todos os
companheiros e companheiras demitidos, do qual fazem parte inclusive dirigentes
do MML. E também colocamos nossa força e nossa disposição a serviço dessa luta.
Porque ela se trata de uma luta de todo o trabalhador e trabalhadora brasileiro
ou brasileira.
Ninguém fica pra trás! Readmissão dos Metroviários e
metroviárias Já!
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